A vontade de escrever sobre esse tema surgiu ontem (20-11) enquanto assistia o Jornal da Globo. Nestas reportagens das quais falarei a seguir, fica clara a intenção da Globo de fazer valer a sua opinião enviesada sobre o tema das cotas em universidades públicas. Devo reconhecer, que quem edita esse jornal merece um prêmio pela sua engenhosidade. Aqui, fica bem claro o caráter naturalizador e sutil pelas quais ideologias são propagadas. Bom, vamos ao que interessa.
De maneira bem esquemática e partindo do Stuart Hall (2003), vou tentar falar sobre a criação do Mito de Barthes (1987). O intuito não é fazer uma análise das reportagens preso a esses autores, minha intenção é a de oferecer algumas idéias/conceitos, para que o próprio leitor tire suas conclusões.
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Inicialmente, para a construção ideológica, é preciso um aparato pautado nas relações sociais, neste caso específico, quem comporta as relações sociais, e gera a ideologia é o fazer jornalístico (meio de comunicação de massa). No entanto, para a divulgação ideológica, o discurso se faz necessário. Assim, é preciso que haja um meio (linguagem e imagens) composto por significados e mensagens sob a forma de signos. Se o sentido ideológico é apreendido, não ocorre o consumo. Ou seja, se você consegue decodificar o mito, ele não consegue ser naturalizado e passar novamente para o nível das relações sociais. A intenção é embutir várias idéias, sem que haja um processo reflexivo, visto que tal processo pode levar os indivíduos a criar outras maneiras de interpretar o mesmo fato.
O Mito dessa forma é um discurso que pretende ser objetivo e imparcial. Ou seja, é aquele que diz ser apenas composto por termos no sentido denotativo. São aqueles que dizem falar apenas como as coisas são, e não como deveriam ser. Assim se cria o Mito barthesiano, visto que todo discurso está encharcado não só por termos denotativos, mas principalmente, por certas visões de mundo, sentidos conotativos.
A seguir, mostro dois vídeos. Os dois têm como temática central a educação no Brasil. No entanto, o primeiro que nos foi apresentado tratava do tema da lei de cotas. E o segundo, mostrado na seqüência do primeiro, fala sobre o resultado do ENEM. Vejamos como a globo age.
No primeiro vídeo é tratado o tema da nova lei sobre cotas em universidades públicas. Aqui, a reportagem é estritamente técnica, mostrando como se dará o processo de inclusão de estudantes pobres, negros, índios ou pardos. Posteriormente, para a reportagem ser isenta de julgamentos de valor, o repórter mostra a opinião de vários deputados que são contra ou a favor do sistema de cotas. Até então, o debate é apenas denotativo, estamos na fase da codificação dos signos. Contudo, na reportagem que segue a essa primeira, o repórter trata do resultado do ENEM. É nessa reportagem que todo véu da imparcialidade é rompido. E é nesse momento que se tenta construir e vender o MITO. O mito/tese em questão é que estudantes do ensino público possuem condições de concorrer de igual para igual com os alunos do ensino particular. Logo, as cotas em universidades públicas são desnecessárias no atual estado da educação brasileira. Assim, o rapaz que estudou em escola pública representa a veracidade da tese da globo. Ora, o rapaz estudou em escola pública, e foi o primeiro colocado no ENEM, o que mostra que estudando ao ponto de “fazer bolhas nos dedos”, todos (alunos da escola pública e privada) têm as mesmas chances no sistema de competição. Ou seja, o problema não é do sistema educacional, mas sim, dos próprios estudantes. Perceba como há uma permuta em relação à responsabilização pelo fracasso dos estudantes no vestibular. Obs.: não que os alunos não tenham responsabilidades, mas como é bem sabido, o problema transcende ao aluno, ele está na forma como se pensa a educação pública neste país.
Espero que agora vocês vejam os vídeos, tirem suas próprias conclusões, e nós posteriormente, podemos discutir via comentários.
Como não consegui baixar os vídeos, eles podem ser acessados nos links que mostro a seguir:
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Referências Bibliográficas
1) Hall, Stuart. (2003). Da Diáspora - Identidades e mediações culturais. - Organização Liv Sovik. Editora UFMG, Belo Horizonte, e Representação da UNESCO no Brasil, Brasília.
2) Barthes, Roland. (1987). Mitologias, 7ª edição.
Tão, mas tão, mas tão, mas tão, mas tão, mas tão, mas tão ruim essa crítica.
Bem, sobre ontem, não posso falar pelos demais shows, que não vi, mas quanto ao da banda A Caravana do Delírio, creio que foi bastante mal comentado nessa crítica. Não por falar mal da banda, algo completamente legítimo, afinal “cada cabeça é um mundo”, como diz o senso comum, e completando com Cartola, “o mundo é um moinho”, resumindo: Todos têm o livre direito de gostar ou não da banda ou ter gostado ou não do show. De fato, não preciso estender-me explicando o que vem a ser a tão deturpada democracia na qual vivemos; necessito, porém, explicar, infelizmente, o que vem a ser “parcialidade jornalística”. Concordo, respaldando-me nos direitos inalienáveis de todo cidadão, que cada um é livre para expor suas opiniões; discordo, no entanto, de que para isso seja preciso fazer uso de termos pejorativos e de extremo mau gosto. Assim, espero que tenha ficado clara a nada tênue diferença entre ser imparcial (algo impossível) e ser anti-ético (algo reprovável). Parabéns, Hugo, você é um excelente exemplo do jornalismo sensacionalista, que preza pela audiência em detrimento da qualidade dos próprios textos.
(Esse comentário foi postado ontem, mas, infelizmente, foi apagado por alguém maduro o suficiente para falar o que quer, mas que ainda encontra-se na puberdade e não agüenta ouvir o que não quer, assim é muito fácil falar mal das bandas, não?)