sexta-feira, 30 de julho de 2010

Eu não aguento! Eu não aguento!

Bastaram dois chopps para tudo mudar de órbita. Sendo do tipo "Fulano bebeu, fudeu", dá para calcular o perigo da presença etílica nas minhas veias. Após uma longa celebração requintadíssima de conclusão de curso dos estudantes da FDR, cedi ao álcool em plena segunda-feira, usando como pretexto a realização de um brinde. Um motivo deveras nobre, oras. A conseqüência, contudo, não merece a mesma adjetivação. Sentada numa mesa entre familiares, agi como uma ébria, para utilizar um vocábulo mais pomposo. Todos ficaram surpresos, nunca me viram ingerindo mais do que o tradicional champanhe no reveillon. De fato, eu não bebia. Tudo começou há cerca de seis meses de forma eventual e se tornou recorrente a partir das semanais festas (muito ótimas) da Copa Paulo Francis 2010, regadas a muita cerveja para garantir a alopração com tanta música de qualidade duvidosa. Ou o contrário. Que seja, desde então não hesito em aceitar o primeiro copo, que nunca mais foi também o único. Assim ocorreu naquele dia na companhia dos meus estimados parentes que logo perceberam a minha incontida alegria ao celebrar a chegada de mais um bacharel na família. A recomendação foi sábia e, sobretudo, rápida: suspendam o álcool para a menina! Acredito que até o garçom entendeu tudo e, por isso, não me serviu mais nenhuma tulipa. Haja comida! Isso ofereceram-me bastante. Sai do bar como quem dá prejuízo no rodízio. Ao chegar em casa, olhei-me no espelho e pensei como Chico, "Amanhã há de ser outro dia". Ledo engano. Além de embriagar-me de forma veloz, o álcool parece gostar de mim. Tem efeito (incrivelmente) prolongado sobre o meu organismo. No dia seguinte ainda conservava a perturbação mental da noite anterior e os acontecimentos daquela terça-feira pareciam corroborar para que tudo parecesse mesmo uma grande confusão. Felizmente, não precisei prometer de novo não beber nunca mais.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ao Max

A amizade entre Mary & Max fez-me recordar uma atitude que tomei há um tempo, com a ressalva de que utilizei meios mais tecnológicos. Em 2006, imbuída de curiosidade e de certa angústia, dei início a um diálogo que não se esgota. Como Mary, eu tinha necessidade de descobrir coisas para além do que estava ao meu redor e precisava conversar com alguém suficientemente capaz de entender-me. Claro que minha perturbação se distinguia dos dramas psíquicos (ao menos em tese) abordados por Adam Elliot neste e em outro filme, intitulado Harvie Krumpet, mas tinha um sentido semelhante. Buscava alguém capaz de responder-me questões tão complexas quanto explicar a uma criança de onde vêm os bebês. Acho, inclusive, que a solução encontrada por Max foi bem mais engraçada. A minha escolha por aquele amigo e não outro foi menos aleatória do que a estratégia utilizada por Mary, embora também desconhecesse sua cidade natal. Os diálogos, que no filme ocorrem por meio de cartas, aconteciam, entre mim e meu amigo distante, através do Orkut e, posteriormente por Messenger e Skype, e até por cartas mesmo. Horas de tec-tec no teclado, que hoje, tanto tempo depois, já nem é mais o mesmo. Como na ficção, a mocinha enchia o amigo, visto como mais experiente, de perguntas sobre as situações novas que enfrentava, buscando conselhos e até mesmo explicações sobre a vida e o funcionamento das coisas. Curiosamente, assim como na relação entre Mary e Max, ambos aprenderam bastante com essa amizade, sendo assim, ao mesmo tempo em que eu indagava, também respondia a muitas questões. Um crescimento simultâneo. Lembrei bastante de mim enquanto assistia ao filme. Foi engraçado identificar o meu amigo no sofrimento de Max, que queria ajudar a garota, mas não sabia as respostas. Inclusive, minhas questões não tinham como serem respondidas, menos ainda por alguém que não eu. Os anos passaram. O mote das conversas mudou. A conjuntura das nossas vidas também. Contudo, a relação perdura, sempre mais intensa. Mantemos contato que, graças à internet, ocorre de forma bem mais veloz do que em Mary & Max. Diálogos diários que não cansam de crescer. Experiências que são sempre compartilhadas. Quilômetros que estão cada vez mais comprimidos. Felizmente, agi como Mary.

domingo, 25 de julho de 2010

Má fase!

A sandália nova que não cabe no pé e sequer pode ser trocada, pois foi presente vindo de São Paulo. Após horas de download, perceber que o ovacionado filme tem um homônimo e que, claro, baixou o errado. Depois de tentar um outro título, percebe que o arquivo carece de áudio (e também de legenda). O pai se recusar a levá-la ao drive thru. Sair com os amigos e se irritar com todos eles. Encontrar o paquerinha novamente acompanhado dias depois de vê-lo aos beijos com outra garota. Decidir ir embora e, em seguida, começar a chover. Derrubar a bolsa na sarjeta inundada ao subir no ônibus. O cobrador não ter troco. Chegar em casa e, depois de tudo isso, ficar acordada até quatro da manhã com insônia. Talvez seja a hora de tomar um banho de sal grosso.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Oi?

É sabido o imenso clichê de diferenças entre os pensamentos masculinos e femininos. Sábado, anotei mais um. Numa situação bem descontraída, em que um garoto molhava latas de cervejas antes de colocá-los no congelador, rolou o seguinte diálogo:
Menina 1: Mas tu acha que só molhar adianta?
Menino: Claro, po. A água ajuda a congelar mais rápido.
Menina 1: Nossa!
Menina 2: HAHAHAHAHA
Menina 1: Tu entendeu, né?
Menina 2: Claro.
Menino: Hã?
Para quem não entendeu patavinas: as meninas acreditavam que, ao molhar as latas, o garoto estava preocupado com a higiene, não com a velocidade do congelamento das cervejas.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Trânsito

Sol a pino, Centro do Recife. Impaciente com um congestionamento quilométrico que enlouquecia a cidade, Teresa passou a fazer a única coisa que lhe restava, olhar pela janela do ônibus e tentar distrair-se com a beleza das pontes e a sujeira do Cão sem Plumas. Ela até carregava um livro dentro da bolsa vermelha, mas nem o melhor enredo de Kafka a faria ler no vuco-vuco daquele coletivo. A leitura de um bom livro no caminho para casa parecia algo bastante útil para passar o tempo, e ela admirava quem conseguia fazê-lo, mas ler qualquer coisa dentro de um veículo em movimento lhe causava náuseas. As buzinas serviam de trilha sonora para aquele momento flâneur e, não raro, algum passageiro lhe confidenciava irritação com aquela demora. Nesses momentos, ela estampava - com esforço - um sorriso de simpatia no rosto, coisas da cordialidade tão esmiuçada pelo, como é mais conhecido, "pai de Chico". As pessoas estavam impacientes dentro daquele ônibus, uns reclamavam do trânsito, enquanto outros culpavam o motorista pela demora. A velocidade era de um metro por minuto, mas não havia o que fazer, nenhum carro se movimentava. Indisposta a esperar, uma passageira levantou-se e pediu ao motorista que abrisse a porta ali mesmo para ela descer. Nisso, Teresa tirou os olhos da rua e fixou-os na mulher que, ao não ser ouvida ou ao ser ignorada, irritava-se a cada segundo. A princípio, a passageira usou da gentileza para ter seu pedido atendido, mas ao perceber o cinismo do cobrador e do motorista, que fingiam não ouvir, desesperou-se. Xingado, o motorista, finalmente, deu atenção à mulher; contudo, não a atendeu. Apenas retrucou. "Grossa", disse ele. Assim teve início um bate boca vertiginoso. Todos passageiros olhavam de um lado para o outro acompanhando a confusão. Eis que (amém) chegou a parada de ônibus e então a mulher desceu. Ainda xingando, mas desceu. Findada a confusão, Teresa, novamente, isolou-se em seus pensamentos e voltou a vaguear o olhar para fora daquele veículo. Ao cruzar uma das pontes do Recife Velho, ela fixou o olhar. O ônibus seguia, mas o olhar da garota continuava lá atrás. Uma criatura vestida de vermelho com uma câmera fotográfica chamava a sua atenção. Pela aparência e em função do seu comportamento, parecia um turista. Teresa pensou em descer do ônibus para conversar com o rapaz e se livrar do trânsito, mas, enquanto hesitava, a distância entre eles ficava maior. Certamente, o motorista não iria aceitar parar antes da parada, que distava bastante dali. Seria uma nova polêmica. Então, preferiu seguir viagem. Pensando no que podia ter sido e não foi.