terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Meu pé de maracujá

Quando eu era criança e meus pais ainda estavam casados, morávamos numa casa pequena, que eu odiava. O meu ódio pela casa não era por causa do seu tamanho, claro, mas pelo que ela representava para mim: as brigas conjugais dos meus pais. Eu tinha pesadelos todas as noites com aquele lugar e vivia chorando sem algum motivo aparente, hoje até desconfio que tive depressão.

A vizinhança também não era das melhores. Seu Calixto, vizinho que morava na casa do lado direito da nossa, criava vários animais, como porcos, galinhas e cachorros e cultivava várias frutas, se achava o granjeiro, mas a casa tava mais para chiqueiro. Eu e meu irmão não gostávamos dele, pois todo o cheiro dos estercos desses bichos iam para a nossa casa; meus pais, entretanto, eram bastantes amigos do velho, a que, inclusive, chamávamos secretamente de Arraes, por parecer com o político. Do lado esquerdo, havia uma casa verde-escura na qual morava uma mulher de meia-idade muito mal-humorada que não gostava de mim por volta e meia eu roubar uma rosa da sua roseira para presentear a minha avó materna. Nessa época, eu era bastante apegada a ela.

Alguns dias, contudo, eram felizes nesse lugar. Um que recordo bem foi quando um grande maracujá — cujo pé ficava no muro entre a minha casa e a de seu Calixto — caiu no meu quintal. Eu e meu irmão estávamos “paquerando” aquele maracujá há alguns dias, mas nossa mãe impedia-nos de pegá-lo, pois o vizinho poderia perceber e ficar chateado. Até que um dia, sem que tivéssemos nos esforçado para isso, o maracujá, que já estava pendendo para o nosso lado, caiu no chão no momento em que eu brincava no quintal com o meu irmão. Corremos, então, felizes ao seu encontro e entregamos a fruta a Mainha para que fizesse um bom suco de maracujá, do qual ela já havia falado muito bem.

Foi o meu primeiro suco de maracujá. E estava delicioso.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

De Joann Sfar para Saint-Exupéry


Antoine de Saint-Exupéry dispensa qualquer apresentação. O autor de O Pequeno Príncipe já teve todo o reconhecimento possível através da sua grande obra, traduzida da língua francesa para mais de 160 idiomas e dialetos, sendo o livro francês mais lido no mundo.

Publicado há mais de sessenta anos, nos Estados Unidos — por ocasião da lastimável Segunda Guerra Mundial — O Pequeno Príncipe ainda provoca emoção nos jovens e adultos que o lêem.

Tendo aprendido com o livro do aviador coisas sobre a morte e a aquarela, Joann Sfar — considerado um dos mais talentosos quadrinistas da nova geração franco-belga — publicou, no último dia 15, no Brasil, uma adaptação em quadrinhos do livro que já vendeu mais de 80 milhões de exemplares em todo o mundo.

Segundo a crítica, não se trata de uma versão fiel ao clássico infantil e é exatamente nisso que consiste sua beleza. O livro de Sfar já foi eleito pela revista francesa Lire a melhor História em Quadrinhos do ano. Um grande presente a Saint-Exupéry no 65º aniversário de publicação de O Pequeno Príncipe.

Nesse último Natal, eu que tive a honra de ser presenteada com toda a singeleza deste clássico que não canso de ler. A adaptação em quadrinhos, pelo que já pude conferir, foi detalhadamente produzida e o resultado parece muito bom. Certificarei-me disso depois da agradável leitura que farei assim que puder.

Obrigada, Papai Noel.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sobre maracatus e carnavais

Quando eu era criança, minha família (meus avôs, minha mãe e meu irmão) costumava fugir do barulho das troças do carnaval recifense indo para a Zona da Mata do Estado, aproveitando a ocasião para visitar minha tia-avó. A viagem não me agradava muito, mas não adiantava reclamar.

Minha tia-avó, que também era minha madrinha, chamava-se Antônia, carinhosamente chamada de tia Nita, morava em Carpina, cidade natal da família da minha avó materna. A casa, que era bem grande e bem antiga, lembrava as casas descritas em romances do século XIX. Naquela época, as cidades interioranas seguiam o padrão "tudo acontece ao redor da pracinha", ainda que estivessem saindo dessa fase para uma mais comercial.

Tradicionalmente comum na Zona da Mata, o Maracatu de Baque Solto, também conhecido como Maracatu Rural, garantia a alegria de Carpina durante o feriado carnavalesco. Eu, entretanto, não me alegrava muito com ele. Os caboclos de lança - talvez pela iminência do duelo, ainda que fictício - davam-me medo. Meu avô, serelepe que só ele, ficava chamando os caboclos para perto de mim, obrigando-me a correr para os braços da minha mãe.

As tardes em Carpina eram bem pacatas. Os mais velhos, sentados em cadeiras de balanço, conversavam embaixo das árvores, enquanto eu e meu irmão, por não estarmos muito adaptados ao clima do interior, ficávamos escutando atentamente tais conversas. Eles falavam sobre, além de reminiscências, o "endiabramento" carnavalesco. Assim, cresci achando, graças aos meus progenitores, que carnaval era coisa do cão.

Nessa mesma época, o carnaval de Recife era um pouco diferente de como é hoje, ao menos é assim que o percebo. As troças, em geral, tocavam ritmos baianos, pois o axé estava na moda. Foi o auge da Banda Pingüim, com a música A vida inteira te amar, de André Rio tocando O bicho vai pegar, e de blocos como o Parceria, famoso por trazer bandas como "É o tchan" para a praia de Boa Viagem. Realidade transformada (ainda bem!) a partir dos governos de João Paulo e Luciana Santos, que instituiram a valorização das raízes pernambucanas no carnaval das cidades de Recife e Olinda, respectivamente.

O Maracatu de Baque Virado - diferentemente do Maracatu Rural, que é oriundo da cultura de Pernambuco - nasceu da tradição africana do Rei do Congo, que foi trazida para o Brasil através da colonização portuguesa. Caracterizado por um forte batuque, que energiza multidões durante o cortejo, o som deste maracatu pode, sem erro, ser verificado aos domingos nas ruas do Recife Antigo, sem hora nem lugar exato, sendo sempre uma surpresa boa encontrá-lo.

O meu primeiro contato com o Maracatu de Baque Virado, também chamado de Maracatu Nação, foi quando eu cursava a quinta série ginasial, durante os ensaios para a abertura dos jogos. O tema que o meu grupo (o vermelho) ficou responsável para retratar no evento esportivo foi A cultura pernambucana. Sinceramente, não lembro dos temas dos demais grupos (verde - eterno rival, azul e amarelo), mas me recordo bem dos ensaios e, principalmente, da apresentação final do grupo vermelho, que além de vários outros ritmos pernambucanos, mostrou um Rei Momo de dar inveja.

Durante alguns anos, enquanto eu migrava da minha infância para a adolescência, só pude curtir as festividades carnavalescas pela televisão, que, naquela época, dava total primazia ao carnaval carioca, mostrando as apresentações das escolas de samba à noite e reprisando-as à tarde. Ao completar meus quinze anos, consegui maior liberdade, podendo freqüentar o carnaval do Recife Antigo com amigos. Se na televisão já era emocionante, estar no Marco Zero, pulando ao som de Alceu Valença era algo impagável; cruzar com o batuque do maracatu nas ruas velhas do Recife também. E assim foi o meu carnaval até a minha fase "vestibulesca" (que durou muito) chegar e impedir tamanha folia.

Agora, livre do estresse do vestibular e com saudade do meu Recife em época carnavalesca, pretendo voltar às ruas, no próximo ano, para frevar. E enquanto o carnaval não chega (?), vou matando a saudade, ouvindo frevos-canção e pensando numa fantasia.


*Créditos às amigas Suzy e Mayra Luna, que me acompanharam aos carnavais no Recife Antigo.

Para sempre?

Dando continuidade ao tema da postagem passada, amor, compartilho aqui um poema de Ernesto Cardenal, poeta nicaragüense. Eu sou bastante leiga (e um tanto desinteressada) no âmbito poético - tanto que "conheci" Cardenal através de um bloquinho de notas de uma tia há algum tempo (anos!) - mas gostei dos versos, ainda que contenha um tom pedante de "meu amor é o melhor", por eles encaixarem-se bem na minha fase de "João amava Teresa que amava Raimundo..." Posto-os agora sem algum motivo especial, apenas por ter lembrado do poema esses dias e por ele aludir a um amor fracassado, tônica da postagem anterior, a qual me reporto.

Epigramas
Ernesto Cardenal

Ao perder-te eu a ti, tu e eu perdemos:
Eu, porque tu eras o que eu mais amava
e tu porque eu era o que te amava mais.
Mas de nós dois tu perdes mais que eu:
porque eu poderei amar a outras como te amava a ti,
mas a ti não te amarão como te amava eu.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Sabe aquele casal que você imagina feliz para sempre?


Na minha época de colégio, comecei a "acompanhar" um casal, que eu achava bem feliz, de uma série a mais. Eu não conhecia nenhum deles, mas ficava sempre torcendo pela felicidade dos dois. Com a interatividade digital, criada a partir do orkut, consegui saber mais sobre o casal e volta e meia "dar aquela espiadinha" para conferir se eles estavam juntos. Lembro de uma vez que vi um vídeo bem legal que a menina fez para comemorar o aniversário de namoro deles. Enfim.
Eis que, ontem, fui nos orkuts deles conferir se eles continuavam felizes, mas percebi que não só não estavam mais juntos, como cada um já está num outro relacionamento, coincidentemente o novo namorado da menina é um primo de segundo grau da minha mãe (Êta mundo pequeno). Um texto* bem cético em relação ao amor, no perfil da menina, chamou a minha atenção e deixou-me duplamente desapontada.
Sabe aquele casal que você imagina feliz para sempre? Era assim que eu via esse casal e, por isso tudo, fiquei desapontada em relação ao sentimento tão forte que é o amor.
No mais, vou cuidando para o meu amor ser igual ao de Amelie e durar para sempre. ♥

*O texto era o seguinte:

Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:
- 'Ah, terminei o namoro... '
- 'Nossa, quanto tempo?'
- 'Cinco anos... Mas não deu certo... Acabou'
- É não deu...?
Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.
Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos esta coisa completa.
Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.
Tudo nós não temos.
Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.
E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante... E se o beijo bate... Se joga... Se não bate... Mais um Martini, por favor... E vá dar uma volta.
Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.
O outro tem o direito de não te querer.
Não lute, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa ta com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.
Continuando ...
Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família?
O legal é alguém que está com você por você.
E vice versa.
Não fique com alguém por dó também.
Ou por medo da solidão.
Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?
Gostar dói.
Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.
Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo.
E nem sempre as coisas saem como você quer...
A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta.
Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.
E nem todo sexo bom é para namorar.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
Nem todo beijo é para romancear.
Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar.
Enfim... Quem disse que ser adulto é fácil?

Arnaldo Jabor (Relacionamentos)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Só no sapatinho


Sentiu inveja do jornalista iraquiano (informe-se aqui)?
"Seus problemas acabaram!" Jogue o sapato você também!
Neste link, você mesmo pode arremeçar sapatos em Bush. Divirtam-se!

*Créditos a Diogo Madruga, que me passou o link.

sábado, 13 de dezembro de 2008

A cortina de ferro à moda brasileira

Em 13 de dezembro de 1968, ou seja, há exatamente quarenta anos, era promulgado o Ato Institucional número cinco, o famoso, AI-5. Neste ano, voltaram a ocorrer mobilizações contra o governo militar, sobretudo, entre operários e estudantes. Duas greves marcaram as manifestações operárias e os estudantes também saíram em marchas pela redemocratização. Numa dessas, o estudante Edson Luís fora morto.

Para conter as manifestações de oposição, o general Costa e Silva decretou o AI-5, que dava poderes ao presidente para fechar o Congresso, as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais. Além de poder cassar mandatos de parlamentares, suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer pessoa, demitir funcionários públicos, decretar estado de sítio, e suspender garantias judiciais, como o habeas corpus, nos casos de crime contra a “segurança nacional”.

Desta maneira, o regime fechava todas as chances de expressão e oposição popular ao governo. Assim, a cortina de ferro à moda brasileira se constituía, estabelecendo um episódio de isolamento e extrema repressão, com relação a participação e mobilização política e cívica. Com o AI-5, a ditadura entrou em sua fase mais cruel, com perseguições, prisões, tortura e morte de opositores.

Após quarenta anos, esse é um tema que sempre deve emergir do imaginário social. Este é um dos papéis da História, fazer surgir questões que não devem ser repetidas, além de contribuir para uma reflexão crítica. Mesmo vivendo em um Estado democrático de direito, ainda que formalmente, é fundamental que esta data, e o que ela significou para uma geração, seja sempre lembrada, e o seu significado debatido.

*A imagem é uma adaptação minha, de uma famosa litografia do escultor estadunidense, Richard Serra. O original faz menção ao governo Bush, e ao invés de AI-5, tem escrito STOP BUSH.

**A parte histórica do texto foi construída a partir do Livro – Cidadania no Brasil, o longo amanhecer – do autor – José Murilo de Carvalho.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"Use Good Bril"

Hoje, no cabeleireiro, folheando uma Revista Caras, ri bastante com essa peça publicitária.

(Clique na imagem para vê-la com detalhes)

agência: W/Brasil
criação: Fabio Meneghini, Gastão Moreira
direção de criação: Rui Branquinho

Foto de Propagando Propaganda.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A autocontemplação bakhtiniana no espelho


Li algo bem interessante nesta manhã de sexta-feira enquanto estudava um pouco para a prova de Português 4: o conceito de autor e autoria, de Bakhtin. A comparação que o filósofo-lingüista fez entre a autobiografia e a autocontemplação no espelho chamou a minha atenção pela reflexão interdisciplinar, coloco abaixo o trecho:

"O ato de autocontemplação no espelho motiva reflexão semelhante em Bakhtin. Pode parecer, numa abordagem superficial desse fenômeno, que estamos, de fato, nos vendo diretamente como os outros nos vêem. No entanto, diz Bakhtin, vemos no espelho uma face que nunca temos efetivamente na vida vivida: vemos apenas um reflexo do nosso exterior e não a nós mesmos em termos de nosso exterior, porque estamos em frente ao espelho e não no seu interior.
O que fazemos, então, quando em frente ao espelho, à falta dessa efetiva possibilidade (de nos vermos a nós mesmos inteiramente abarcados pelo nosso exterior) é nos projetarmos num possível outro peculiarmente indeterminado, com a ajuda de quem tentamos encontrar em uma posição axiológica em relação a nós mesmos. Nesse sentido, nunca estamos sozinhos frente ao espelho: um segundo participante está sempre implicado no evento da autocontemplação.
[...] É ingênuo pensar, diz ele, que no ato de olhar-se no espelho há uma fusão, uma coincidência do extrínseco com o intrínseco. O que ocorre, de fato, é que, quando me olho no espelho, em meus olhos olham olhos alheios; quando me olho no espelho não vejo o mundo com meus próprios olhos e desde o meu interior; vejo a mim mesmo com os olhos do mundo - estou possuído pelo outro.
Essas reflexões todas têm, como pano de fundo, o pressuposto bakhtiniano forte do primado da alteridade, no sentido de que tenho de passar pela consciência do outro para me constituir (ou, num vocabulário mais hegeliano, o eu-para-mim-mesmo se constrói a partir do eu-para-os-outros)."IT, Beth (org.) et al. Bakhtin: Conceitos-chave. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2005. p. 43.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Nota sobre o Vaticano - II

"O filósofo Antonio Gramsci (foto ao lado), fundador do Partido Comunista italiano, encontrou a fé antes de sua morte em 1937, afirmou nesta terça-feira um prelado do Vaticano, dando um caráter oficial a velhos rumores que circulam na Itália onde Gramsci goza de um grande prestígio intelectual e moral."
A influência de Gramsci ultrapassou as fronteiras da Itália e da Europa dos anos 30. Até hoje, é citado nos meios acadêmicos e por ativistas políticos que não precisam ser comunistas necessariamente. Suas reflexões são sobre o papel dos intelectuais e de suas idéias na mobilização social e política; versam também sobre a hegemonia cultural como um meio de manipulação do Estado capitalista; e foi responsável por ampliar o conceito marxista de Estado, incluindo aspectos da cultura nas análises.
Preso pelo regime de Mussolini, quando solto, estava extremamente debilitado. Fundador do PC italiano e ateu (isso é quase uma redundância), soube-se hoje, que antes de morrer recebeu os sacramentos da Igreja Católica Romana, e morreu segurando uma foto de Santa Teresa e do Menino Jesus.
Obs.: Também vi uma matéria sobre isso no Jornal da Globo, e lá eles acabam a matéria da seguinte maneira. Falam sobre o binômio sempre seguido por Gramsci (IDÉIA & AÇÃO), ou seja, sua correção em suas atitudes. Com essa história de um ateu, no fim da vida ter abraçado a igreja, o jornal nos diz: "Se Gramsci redescobriu a fé católica, para o que não há confirmação em documentos, não seria uma contradição. A força das idéias da Igreja durou mais que a do comunismo." Desnecessário este comentário final.

sábado, 22 de novembro de 2008

Nota sobre o Vaticano

O Vaticano deu seu perdão a John Lennon, e ainda comemorou os 40 anos do álbum branco dos Beatles. Tudo isso por conta da frase do Lennon, onde afirmava que os Beatles eram mais famosos do que Jesus Cristo (o vídeo da entrevista onde Lennon diz isso está disponível no youtube). Essa frase, que para mim, tinha outro sentido, gerou esse cisma que só foi relevado agora. Segundo o ‘Osservatore Romano’, o órgão oficial do Vaticano - o porta-voz do Papa, a frase "Foi um arroubo de um jovem da classe trabalhadora inglesa que conquistou um sucesso inesperado". Por fim, o Vaticano ainda reconheceu que a dupla Lennon-McCartney continua sendo uma fonte de inspiração até hoje.

Ainda bem que não estamos mais na época da inquisição, por que caso contrário, primeiro matariam o Lennon, para depois reconhecer o valor dele.

O Mito dos Iguais

A vontade de escrever sobre esse tema surgiu ontem (20-11) enquanto assistia o Jornal da Globo. Nestas reportagens das quais falarei a seguir, fica clara a intenção da Globo de fazer valer a sua opinião enviesada sobre o tema das cotas em universidades públicas. Devo reconhecer, que quem edita esse jornal merece um prêmio pela sua engenhosidade. Aqui, fica bem claro o caráter naturalizador e sutil pelas quais ideologias são propagadas. Bom, vamos ao que interessa.

De maneira bem esquemática e partindo do Stuart Hall (2003), vou tentar falar sobre a criação do Mito de Barthes (1987). O intuito não é fazer uma análise das reportagens preso a esses autores, minha intenção é a de oferecer algumas idéias/conceitos, para que o próprio leitor tire suas conclusões.

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Inicialmente, para a construção ideológica, é preciso um aparato pautado nas relações sociais, neste caso específico, quem comporta as relações sociais, e gera a ideologia é o fazer jornalístico (meio de comunicação de massa). No entanto, para a divulgação ideológica, o discurso se faz necessário. Assim, é preciso que haja um meio (linguagem e imagens) composto por significados e mensagens sob a forma de signos. Se o sentido ideológico é apreendido, não ocorre o consumo. Ou seja, se você consegue decodificar o mito, ele não consegue ser naturalizado e passar novamente para o nível das relações sociais. A intenção é embutir várias idéias, sem que haja um processo reflexivo, visto que tal processo pode levar os indivíduos a criar outras maneiras de interpretar o mesmo fato.

O Mito dessa forma é um discurso que pretende ser objetivo e imparcial. Ou seja, é aquele que diz ser apenas composto por termos no sentido denotativo. São aqueles que dizem falar apenas como as coisas são, e não como deveriam ser. Assim se cria o Mito barthesiano, visto que todo discurso está encharcado não só por termos denotativos, mas principalmente, por certas visões de mundo, sentidos conotativos.

A seguir, mostro dois vídeos. Os dois têm como temática central a educação no Brasil. No entanto, o primeiro que nos foi apresentado tratava do tema da lei de cotas. E o segundo, mostrado na seqüência do primeiro, fala sobre o resultado do ENEM. Vejamos como a globo age.
No primeiro vídeo é tratado o tema da nova lei sobre cotas em universidades públicas. Aqui, a reportagem é estritamente técnica, mostrando como se dará o processo de inclusão de estudantes pobres, negros, índios ou pardos. Posteriormente, para a reportagem ser isenta de julgamentos de valor, o repórter mostra a opinião de vários deputados que são contra ou a favor do sistema de cotas. Até então, o debate é apenas denotativo, estamos na fase da codificação dos signos. Contudo, na reportagem que segue a essa primeira, o repórter trata do resultado do ENEM. É nessa reportagem que todo véu da imparcialidade é rompido. E é nesse momento que se tenta construir e vender o MITO. O mito/tese em questão é que estudantes do ensino público possuem condições de concorrer de igual para igual com os alunos do ensino particular. Logo, as cotas em universidades públicas são desnecessárias no atual estado da educação brasileira. Assim, o rapaz que estudou em escola pública representa a veracidade da tese da globo. Ora, o rapaz estudou em escola pública, e foi o primeiro colocado no ENEM, o que mostra que estudando ao ponto de “fazer bolhas nos dedos”, todos (alunos da escola pública e privada) têm as mesmas chances no sistema de competição. Ou seja, o problema não é do sistema educacional, mas sim, dos próprios estudantes. Perceba como há uma permuta em relação à responsabilização pelo fracasso dos estudantes no vestibular. Obs.: não que os alunos não tenham responsabilidades, mas como é bem sabido, o problema transcende ao aluno, ele está na forma como se pensa a educação pública neste país.

Espero que agora vocês vejam os vídeos, tirem suas próprias conclusões, e nós posteriormente, podemos discutir via comentários.

Como não consegui baixar os vídeos, eles podem ser acessados nos links que mostro a seguir:
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Referências Bibliográficas
1) Hall, Stuart. (2003). Da Diáspora - Identidades e mediações culturais. - Organização Liv Sovik. Editora UFMG, Belo Horizonte, e Representação da UNESCO no Brasil, Brasília.
2) Barthes, Roland. (1987). Mitologias, 7ª edição.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Êxtase

I, I, I, I still believe in your eyes;
There is no choice,
I belong to your life.

Eu ainda acredito em seus olhos;
Não há escolha,
Eu pertenço a sua vida.
[Trecho de I'll fly with you, de Gigi D'Agostino]


[Foto de Henri Cartier-Bresson]

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Despedida

Você quer, ocê vá, cê nunca volte.
[Adaptação de trecho de Terceira Margem do Rio, de João Guimarães Rosa]

[Desenho de Banksy]

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Aos artistas

"Vocês, artistas [...],
Devem representar o que é
mas também insinuar o que poderia ser e não é
E seria bom que fosse ao representarem o que é.
Que a partir do seu retrato
a platéia aprenda a lidar com o que ali é retratado.
Que o aprendizado dê prazer.
[...] Ensinem como arte, pois praticar a arte dá prazer."

[BRECHT, Bertold. Sobre o Julgamento]

sábado, 1 de novembro de 2008

Conhecimento Jornalístico e a obrigatoriedade do diploma

A partir de um breve panorama histórico da prática jornalística e vislumbrando uma nova abordagem do Jornalismo enquanto forma de conhecimento, defendo a concepção jornalística dissociada da visão do senso comum, mas imbricada a um respaldo teórico, dando visibilidade à discussão da obrigatoriedade ou não do diploma na profissão.

Antes das Revoluções Burguesa e Industrial, o conhecimento que se tinha do mundo era bastante genérico e universal, baseado na realidade imediata, exemplificada por Eduardo Meditsch1 pela preocupação com a própria casa e com os vizinhos. O Jornalismo surge no contexto do desenvolvimento industrial e do capitalismo, sendo, inclusive, atribuído como conseqüência do modo de produção capitalista, em que as relações passaram a ter caráter universal e dinâmico, permitindo o conhecimento da humanidade a nível internacional.

Assim, diferentemente do que ocorria na Idade Média, o mundo não mais é baseado em relações singulares, como as com o vizinho. A partir da Revolução Industrial, as relações no mundo passam a exigir um caráter universal, em que todos podem, efetivamente, relacionar-se com todos. É diante de tal necessidade que o Jornalismo surge como forma de conhecimento capaz de possibilitar a interação do indivíduo com o mundo. Para Adelmo2, “o Jornalismo é uma forma de conhecimento baseado no singular, surgido a partir da Revolução Burguesa e que atingiu a maturidade com a industrialização.”

Sylvia Moretzsohn3, em Pensando Contra os Fatos, traz a importante lembrança de que, mesmo sendo considerado um pilar da democracia pela Constituição americana, o Jornalismo era, naquela época, alvo de contestações por parte da elite intelectual, por considerarem-no superficial e efêmero, rejeição que perduraria até o século XIX.

Sobre o Jornalismo como produção de conhecimento, Adelmo Genro Filho refuta as orientações funcionalistas de conhecimento de — atrelado ao uso familiar e ao hábito, sem corresponder à produção sistematizada — e conhecimento acerca de — produto formal e criterioso de conhecimento, formulado teoricamente —, baseadas na filosofia de William James4 e proferidas por Robert E. Park5, por considerá-las reducionistas.

Discordando das diversas concepções teóricas existentes sobre o Jornalismo — desde as que consideram-no puramente comunicacional às que o vêem como meio de integração dos indivíduos à sociedade —, Adelmo propõe, através da filosofia hegeliana, a construção de um novo conceito de Jornalismo, distante do modo de pensamento positivista e próximo do marxismo, elucidando uma teoria marxista de Jornalismo.

Diferentemente do senso comum, o Jornalismo não deve ser considerado tão-somente uma atividade prática; pois, embasa-se teoricamente em estudos antigos que discutem o seu papel enquanto forma de conhecimento. E é através de um ensino superior alçado nesse propósito que o Jornalismo deixará, então, de ser visto como uma necessidade técnica e passará a ser reconhecido como teoria, partindo de conhecimento coeso e não de “achismos” redacionais.

Além proporcionar condição mais coerente de trabalho para os profissionais da área, pautando-se em um reconhecimento digno de qualquer ciência, o Jornalismo necessariamente vinculado ao ensino superior garante à sociedade uma prática jornalística mais responsável, que partirá da cotidianidade, será fundamentada na academia e retornará enriquecida à cotidianidade, desenvolvendo, assim, importância de ciência.


Notas:

[1] Professor-doutor em Ciências da Comunicação que tem se dedicado a estudos sobre a teoria do conhecimento em Jornalismo, autor de O Conhecimento do Jornalismo.

[2] Adelmo Genro Filho foi professor e mestre da UFSC, responsável por trabalho de referência na teoria do Jornalismo, posteriormente publicado na forma de livro, sob o título O Segredo da Pirâmide - Para uma teoria marxista do jornalismo.

[3] Especialista em modernas tendências da mídia e professora da UFF

[4] Psicólogo e filósofo norte-americano.

[5] Sociólogo norte-americano e um dos fundadores da Escola de Chicago que exerceu durante muito tempo a atividade jornalística.


Referências Bibliográficas:

GENRO FILHO, Adelmo. O Segredo da Pirâmide: por uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre: Tchè, 1987. p. 54-68.

MEDITSCHI. Eduardo. O Conhecimento do Jornalismo. Florianópolis: Editora da UFSC, 1992. p. 23-34.

MORETZSHOHN, Sylvia. Pensando Contra os Fatos. Rio de Janeiro: Revan, 2007. p. 52-53; 122-130.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Saudade do meu Super Nintendo

Até o começo deste ano, eu fazia parte do grupo de órfãos do Super Nintendo, mas agora volta-e-meia mato a saudade do querido Mário jogando durante horas. Aproveitando o mês das crianças, alerto para a possibilidade de vocês, caros leitores, também desfrutarem novamente dos joguinhos da infância.

Dia desses, nerdando na internet, descobri que eu poderia reaver meu vídeo game e voltar a jogar meus jogos preferidos e tantos outros, caso quisesse, no computador. Numa comunidade do orkut (clique aqui), é possível adquirir tanto o Super Nintendo (e outros vídeo games) quanto as fitas, através de downloads gratuitos. Aproveitem!

Boas partidas de Mário Kart, Superstar Soccer, Donkey Kong, Street Fight, entre outros.

sábado, 25 de outubro de 2008

Novo Blog

Sim, isso é uma peça publicitária, mas poucas (ou nenhuma) peças publicitárias têm a relevância intelectual do meu objeto de publicidade.


Para a felicidade da comunidade blogueira, um novo blog foi criado com o intuito de incluir você, leitor, no mundo dos escritores.

O endereço é: http://www.actodeler.blogspot.com
Boa leitura e escritura para todos.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Às Crianças


"Será que desta vez cinco minutos vai ser muito ou pouco?" [Nathalia Pereira, quando criança]

Recomendações sobre o tema:
Filme: Pequena Miss Sunshine
Música: Saiba, de Arnaldo Antunes
Vídeo: Vida da Tamiris

Feliz dia das crianças (ainda que tardio) para todos nós!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A notícia

Entre trabalhos e mais trabalhos para a faculdade, hoje fiz o mais importante, até agora, para a minha vida profissional. Diferentemente dos trabalhos acadêmicos, como resenhas, resumos e apresentações no velho Power Point, deparei-me com a notícia.

O professor de Introdução ao Jornalismo incumbiu os alunos da seguinte tarefa: visitar uma conferência de comunicação (a IV Conferência de Mídia Cidadã) e escrever uma notícia com cerca de 30 linhas sobre o evento.

A princípio, achei bobinha a atividade, mas depois que tive que elencar as informações mais importantes, buscar maiores explicações e estruturar tudo em 30 linhas, senti o peso do jornalismo nas costas. Eis que o pior ainda estava por vir: escolher a manchete. Abaixo segue trecho de uma conversa sobre a dificuldade que senti (Torçam por mim!):

Dio. diz:
Lembre-se: o título faz a notícia.

Dio. diz:
Se o título não for bom, a notícia é péssima, pois não será lida.

gabriela diz:
caramba, como é difícil fazer isso, po.

gabriela diz:
depois que você começa a estudar, você vê que é mais sério do que você pensava.

Se um dia eu criar coragem, posto minha primeira notícia neste blog.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O pesadelo de Maradona - Publicidade incoerente

Hoje, procurando um recorte de jornal antigo para um trabalho, encontrei um texto de Roberto Pompeu de Toledo que eu havia guardado, há um tempo, por demonstrar o quanto a publicidade cria idéias um tanto incoerentes nas mentes dos destinatários. O trecho abaixo chamou bastante a minha atenção por isso. Antes de lê-lo, assista ao vídeo da propaganda (clique aqui) a qual o texto refere-se.

O campeonato dos comerciais tem momentos intrigantes. O festejado anúncio do guaraná Antarctica em que Maradona aparece com a camisa amarela, cantando o hino com os jogadores brasileiros, rendeu mais um momento de glória a seu criador, Duda Mendonça. Foi seu maior triunfo, depois das contas secretas que tanto lhe abalaram o prestígio. Mas, bem analisado, o que diz o anúncio? Maradona, depois da cena inicial, em que, ao lado de Ronaldo e de Kaká, entoa "e o sol da liberdade em raios fúlgidos", acorda e... "Caramba", diz. "Que pesadelo!" Ele atribui o sonho mau ao fato de estar bebendo muito guaraná Antarctica. Não há como fugir à conclusão de que o guaraná Antarctica dá pesadelos.
Texto na íntegra

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Lição de hoje: Quem critica, ouve crítica

Cobertura: Eliminatórias Microfonia 2008 - Primeiro dia

[...]
A puberdade é uma fase inglória mesmo. Que o diga o vocalista da Caravana do Delírio. Tão, mas tão, mas tão, mas tão, mas tão, mas tão, mas tão desafinado que só os hormônios da adolescência mesmo para justificar. Tudo bem assassinar “Eu Me Amo”, do Ultraje, pois o próprio Roger está longe de ser vocalista. O problema é sentir que a banda estava afundando seu repertório autoral mesmo. Um dia (espero que seja logo) eles ainda vão rir muito da noite de ontem no Uk Pub. Até lá, infelizmente, ela parecerá um interminável pesadelo. Relaxem e deixem o tempo passar. A adolescência é a pior fase da vida de qualquer um. Não seria diferente com vocês…
[...]

Gabriela disse,

em outubro 17, 2008 @ 11h42

Tão, mas tão, mas tão, mas tão, mas tão, mas tão, mas tão ruim essa crítica.

Bem, sobre ontem, não posso falar pelos demais shows, que não vi, mas quanto ao da banda A Caravana do Delírio, creio que foi bastante mal comentado nessa crítica. Não por falar mal da banda, algo completamente legítimo, afinal “cada cabeça é um mundo”, como diz o senso comum, e completando com Cartola, “o mundo é um moinho”, resumindo: Todos têm o livre direito de gostar ou não da banda ou ter gostado ou não do show. De fato, não preciso estender-me explicando o que vem a ser a tão deturpada democracia na qual vivemos; necessito, porém, explicar, infelizmente, o que vem a ser “parcialidade jornalística”. Concordo, respaldando-me nos direitos inalienáveis de todo cidadão, que cada um é livre para expor suas opiniões; discordo, no entanto, de que para isso seja preciso fazer uso de termos pejorativos e de extremo mau gosto. Assim, espero que tenha ficado clara a nada tênue diferença entre ser imparcial (algo impossível) e ser anti-ético (algo reprovável). Parabéns, Hugo, você é um excelente exemplo do jornalismo sensacionalista, que preza pela audiência em detrimento da qualidade dos próprios textos.

(Esse comentário foi postado ontem, mas, infelizmente, foi apagado por alguém maduro o suficiente para falar o que quer, mas que ainda encontra-se na puberdade e não agüenta ouvir o que não quer, assim é muito fácil falar mal das bandas, não?)

Vamos desenhar? (Parte 2)


Arte de: Gabriela Bezerra
Inspiração: Diogo Madruga

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ato de Ler


Relaxe, você só está diante de um texto. Para lê-lo, deve estar, antes de tudo, com foco. Isso, solte os ombros. As primeiras linhas são um pouco mais lentas mesmo, é a parte de adaptação com o processo de escrita do autor. Depois, com alguma disposição (e uma ajudinha do talento do autor), você vai se acostumar mais fácil. Ache sua posição, não dê atenção ao som que a cadeira faz quando você se mexe. Sei que ler ao computador é mais difícil. Todas essas janelas piscantes e coloridas aí abaixo competem com as pequenas, fracas e insossas palavras diante de você. Mas acredite, o desafio maior está aqui, e vencê-lo dará um prazer inigualável a você. Ok, agora você parece mais focado, está querendo saber que diabos é esse desafio, certo? Eu, como escritor, poderia fazer um suspense e não dizer logo de cara, ou poderia dizer agora mesmo, poderia inventar outra história, sem desafio algum, e fazê-lo esquecer dessa: tenho o leitor nas mãos. Não! Não! Espere, sei que é o contrário, você tem o texto em mãos e olhos, pode finalizá-lo agora e ir se dedicar a outras coisas se quiser. Aquilo ali acima foi um recurso provocativo. Nós, escritores, subordinados a vocês, temos que confundi-lo a fim de envolvê-lo e, só então, esclarecê-lo.

Bem, então vamos mais diretamente ao assunto, certo? Vamos, porque eu ainda vou a ele também, escrevo à medida que você lê. Se você ainda não leu, não foi escrito. Escreve-se para quem lê. É dependência mesmo. Por isso alguns escritores são um tanto “enrolões”. Na verdade, é pura carência. Não saia agora, vou contar um causo então, não é um causo que você quer? Uma história, uma experiência? Eu conto. Acho impressionante como há pessoas que conseguem ler em situações totalmente adversas. Lembro-me do meu irmão. Durante o recreio, no colégio, juntavam-se as séries todas do colégio no pátio e tome a conversar, escutar a rádio do colégio, agüentar a berradeira dos mais novos ou dos mais exaltados. A quadra ficava ao lado do pátio, então ia pra ele também todo o barulho do futebol de trinta (variação do futebol, onde trinta pessoas jogam — todas contra todas, só pode ser — a fim de marcar um gol — em qualquer barra). Em meio a tudo isso, sentado, com o livro Xadrez, truco e outras guerras, de José Roberto Torero, está meu irmão, lendo. Lendo sem a mínima desconcentração. Eu e uns amigos, ao redor dele, falando muito alto; o rádio me incomodava porque competia comigo, e meu irmão impassível. Impressionante leitor que ele é, respeita o texto. Você deveria seguir o exemplo dele. Calma, não é uma repreensão, mas uma sugestão, talvez você já siga, ou mesmo seja melhor leitor ainda.

O leitor é um sujeito temperamental e vaidoso. É um risco escrever sobre ele, sobre você. Você sempre espera que o texto o surpreenda, mas luta bravamente contra isso. “Sabia!”, fala, ao descobrir o mistério de Assassinato no Expresso do Oriente, de Agatha Christie. Mas ninguém sabia. Não havia como saber. Não importa. O leitor sabe. Ele tem o controle do texto, ele faz o texto. Ele pára de ler neste momento, responde uma pergunta de um amigo (seja na internet, seja o colega do lado) e volta a ler, quebrando o raciocínio do autor. Mas ele é piedoso. Ele volta no texto, retoma o raciocínio, e refresca a felicidade do autor. O ato de ler é mais importante que o de escrever. Porque ler é escrever. Escrever não implica necessariamente em ler. Tem gente que nunca lê o que escreveu — geralmente são os que escrevem mal, permitam-me falar como um leitor por um momento.

E então você vai chegando ao final do texto. Sempre há um ar de poeira baixando, de suspense pré-alívio. Às vezes o final não é feliz, mas e daí? O importante é que o texto acabou. Que alívio, que sensação de liberdade. Feliz é o final que acaba com o texto. Não importa o número de mortes, o volume de lágrimas derramadas, o importante é que a última palavra finalize o texto. É curioso escrever sobre ler, e mais curioso deve ser ler sobre ler. O leitor, no momento final de um texto como este, sente-se um titã, ele é o melhor, o contemplado, o homenageado. Mas, infelizmente para você, no fim das contas, a dependência escritor–leitor não é tão grande, pois daqui pra frente, graças ao escritor, se você seguiu todo o texto do começo ao fim, acaba aqui sua função de leitor nessa história. Pois daqui para baixo só há o branco, o escritor não te deu mais nada, você tem que criar. Agora é sua vez de depender de um leitor. Parabéns, você, agora, também é um escritor.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

TVbus, nada inofensiva

Na programação da TVbus, "os astros dizem" sobre o signo de áries:

Você precisa mudar sua vida financeira. Pense seriamente em gastar mais do que ganha [destaque meu].

Como assim? A TVbus quer levar todos os arianos para o SPC e o Cerasa?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Vamos desenhar?

Há muito tempo, eu desenhava bastante. Minhas aulas preferidas, na escola, sempre envolviam a criatividade. Meus desenhos costumavam destacar-se, fazendo com que minhas professoras sentissem-se orgulhosas e saíssem da sala de aula para mostrar minhas "grandes obras" às demais "tias". Essa fase, além de estar bem longínqua, passou.

Com o tempo, as atividades com desenho, pintura e massinha foram tornando-se cada vez mais esparsas, até que se extingüiram. O meu jeito para a prática da arte foi, igualmente, definhando-se. Não lembro bem o motivo - alguma experiência como a do Pequeno Príncipe, talvez - mas, com o tempo, passei a desacreditar no meu potencial para o desenho.

Assim fui afastando-me do universo das cores e aproximando-me do das letras, o qual é a grande aposta para o futuro. A fase de transição entre tais universos pode ser tema para uma próxima conversa, mas agora não quero desviar-me do foco.

Na época que eu era sétima série, com a mudança de colégio, voltei a ter aula de artes. Lembro que eu achava bastante anacrônica a idéia de ter tal disciplina depois de "velha", mas gostei da idéia. Fiz alguns desenhos, um deles até foi pedido pelo professor, para ser exposto; sentia, no entanto, imensa dificuldade para retornar ao universo das cores.

Com a fase da bagunça e, posteriormente, a proximidade do vestibular, deixei, novamente, as bisnagas de tinta na gaveta.

Dia desses, fiquei surpresa comigo mesma, por estar desenhando no Paint, como gostava de fazer quando mais nova. Desenhei frutas e verduras; não simplesmente isso, produzi personagens baseadas na feira! Assim nasceu Uvolino, Limonudo, Seu Cenuro e Melancélia (vide foto).

Inspirada em uma das minhas frutas preferidas, fui pensando a personalidade e criando a aparência de Melancélia, uma charmosa melancia "cult".

Claro que esta postagem não tem (mesmo) a intenção de exibir uma obra de arte, longe disso. Mas julguei relevante apresentar a história de Gabriela e de Melancélia para o universo. Tanto o das cores, quanto o das letras.

No mais, desenhem!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Vaidade

Sábado resolvi fugir da rotina e ir a um salão de beleza para cortar e hidratar o tão maltratado cabelo que carrego. Querendo fugir ainda mais da mesmice, resolvi ir a um salão afro, por estar saturada de ouvir, das cabeleireiras, conselhos para alisar as minhas madeixas (absolutamente nada contra quem alisa o cabelo, até já alisei, mas quando eu resolver alisar eu peço, não precisa ficar tentando fazer lavagem cerebral toda vez, a fim de levar embora o meu rico dinheirinho). Então lá fui eu.

Imaginando um ambiente bem mais propício a mulheres que resolveram aposentar suas chapinhas, frustrei-me ao ver que as próprias cabeleireiras eram vítimas da "indústria do alisamento", que tenta das mais diversas maneiras convencer a todos de que cabelo bonito é cabelo liso. As clientes, diferentemente do que eu havia imaginado, não carregavam o cabelo afro, título do salão. E, para completar, não faltou a velha pergunta: Por que você não relaxa (alisa) seu cabelo?

Não teria ficado tão impressionada se fosse um salão qualquer, porque sempre ouço essas promessas tentadoras de que meu cabelo vai ficar uma belezura, mas ouvir isso da dona de um salão que se auto-denomina afro, foi bem estranho.

Alguns mais íntimos sabem que, há algum tempo, costumo não cortar meus cabelos em salão, por considerar um absurdo o exorbitante preço e por achar que sempre cortam demais. Sábado, entretanto, dei um novo voto de confiança aos profissionais da beleza(?).

Nossa, como estou arrependida, saí frustrada com o salão e estou frustrada com o meu cabelo, porque, como sempre, ELA CORTOU DEMAIS!!!

Enfim, salão é tudo igual.

domingo, 5 de outubro de 2008

Mito

Resposta referente à quinta questão (relacionar o filme Matrix ao Mito da Caverna de Platão) da prova de Filosofia, realizada em 03/10/2008:
O Mito da Caverna de Platão trata-se de uma alegoria para explicar a sociedade. Segundo Platão, a realidade expressa-se do lado de fora da caverna, sendo o Mundo das Idéias. Na visão platônica, todos tiveram acesso a tal mundo, mas após banhar-se no Rio do Esquecimento, as pessoas esqueceram-se de muitas das coisas, algumas mais e outras menos, passando a viverem no Mundo das Sombras, ou seja, a caverna. As sombras dispostas na caverna seriam não mais a realidade, mas a sua cópia.

No filme Matrix, as sombras da caverna foram substituídas pela matriz, sendo ela, portanto, a própria caverna a qual habitamos. Quando é dado a Neo a possibilidade de escolha entre duas pílulas, a azul e a vermelha, pode-se interpretar que a ele está sendo feita a seguinte pergunta, se compararmos com o mito platônico: Você quer sair da caverna (pílula vermelha), para conhecer a realidade, ou quer permanecer na caverna (pílula azul), para continuar no Mundo das Sombras?

A partir da analogia entre o mito e o filme, podemos entender que com as formas de controle social, as ideologias — idéias que o senso comum incorporou — produziram uma espécie de “cegueira” nos indivíduos. Assim, a alienação, propiciada por formas de controle, produziu ideologias na sociedade que a faz acreditar e perceber coisas que nem sempre condizem com a realidade. Dessa forma, enquanto seres humanos, nós ficamos de olhos abertos, mas não enxergamos, pois estamos cegos, sem perceber a verdadeira realidade. Para ilustrar esse raciocínio, o livro Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago, revela-se uma grande explicação.

* Leia-se Matrix como Matrix 1.
* Houve adaptações no texto para o melhor entendimento do leitor.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Olinda tem o lugar do cachorro mijar


Segunda-feira (29/09), fui a Olinda tirar fotos para a cadeira de Introdução à Fotografia. Depois de horas embaixo do sol quente (nem estava tão quente assim, mas eu estava com uma cólica tremenda, então tenho direito de fazer esse drama), ao passar pela rua do Amparo deparei-me com lugares bem artísticos.

Após sair do atelier-casa de Badida, o qual é realmente encantador e que, por vezes, assusta, sentamos (eu, Arão e Júlia, da Guatemala) na calçada para desfrutar de uma sombrinha e descansar as canelas. Eis que me deparei com algo que não poderia faltar em Olinda, o "lugar do cachorro mijar", no muro colorido da artista Iza do Amparo. Digo que é algo inerente à cidade olindense porque desde que avistei o Mercado Eufrásio Barbosa, praticamente não passei pelas ruas sem ver um só cachorro sequer.

Graças à querida amiga Júlia, a outra que não a da Guatemala, fui enfrentar a atividade fotográfica mais relaxada, pois fui de carro, como uma lady; e quando estacionamos o veículo, eu disse: Outra coisa não, mas cachorro Olinda tem. Repeti a frase quando chegamos à pracinha - cujo nome esqueci - que foi nosso ponto de encontro com o professor, para os demais colegas, mas fui repreendida com o olhar, como se eles dissessem: Fala baixo, se não te batem. Acatei-os, pois a ausência de um "boa tarde" já havia feito um guia olindense dar o pererê, como costumo falar.

No mais, vários e vários cachorros foram vistos durante a maratona em busca da foto à Cartier-Bresson, meu objetivo máximo nessa cadeira, e que possa satisfazer os critérios do professor Eduardo. Assim, eu não estava muito paranóica com a opinião do professor acerca das minhas fotos não, mas depois que ele viu com maus olhos a foto que eu mais gostei na saída de campo anterior, afirmando, segundo compreendi, que estava uma merda, eu comecei a preocupar-me.

Por incrível que pareça, acho que prefiro as aulas teóricas às práticas, essa coisa de tirar foto ser uma obrigação tira todo o tesão da fotografia, na verdade, obrigação em si tira o tesão de qualquer coisa. (Viva a liberdade, viva a terra da massa!, como diriam alguns).

Sem mais delongas, viajei muito no "lugar do cachorro mijar" e, refletindo, comecei a acreditar que existem carrocinhas em Recife.

Quem se Importa?

Música: Quem se Importa?/Caravana do Delírio
Emocionante!!!

Uma boa notícia:JC (26/09)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

E o que é, o que é o Brasil?

Para ver a figura maior, só é clicar na imagem.

Do livro: HISTORIA DA VIDA PRIVADA NO BRASIL - VOL. 4 - CONTRASTES DA INTIMIDADE CONTEMPORANEA. Parte 9 - Capitalismo tardio e sociabilidade moderna - João Manuel Cardoso de Mello e Fernando A. Novais. Pág. 658.

Filosofia jornalística ou do jornalista?

g a b i diz:
acho que me falta o espírito jornalístico
g a b i diz:
da ganância
g a b i diz:
ajdhjkdhajkdhsjd
Dio. "O quanto eu gosto de vocêêê" diz:
Nada disso. Fale mal dele não. Espírito jornalístico é colaborativo.
g a b i diz:
ajshdajsdhjaskdhska
g a b i diz:
não creio
Dio. "O quanto eu gosto de vocêêê" diz:
Espírito de jornalista é uma coisa. Espírito jornalístico é outra.
g a b i diz:
hummm
Dio. "O quanto eu gosto de vocêêê" diz:
:)
g a b i diz:
falo do de jornalista, então
g a b i diz:
:P
g a b i diz:
não tenho esse espírito
Dio. "O quanto eu gosto de vocêêê" diz:
Pronto. Assim tá melhor.
g a b i diz:
:P
Dio. "O quanto eu gosto de vocêêê" diz:
O que é bom.
Dio. "O quanto eu gosto de vocêêê" diz:
Ou seja, não falta. O problema é que sobra no resto.
g a b i diz:
hehe
g a b i diz:
deve ser

terça-feira, 30 de setembro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Banco Imobiliário


É (quase) impossível alguém que teve a infância entre os anos 1980 e 1990 não conhecer o Banco Imobiliário, jogo que era obrigatório em toda prateleira de quarto de criança daquela época. Ao jogar, sempre havia os que iam à falência logo no início da partida, por comprar demais, e os que enriqueciam com tantos imóveis. Havia, ainda, quem "roubasse", infringisse as regras ou até mesmo inventasse novas formas de brincar com tal jogo. A compra dos hotéis mesmo até hoje é um mistério para mim, pois cada grupo de amigos jogava de uma forma diferente.
Uma boa estratégia imobiliária era investir nas Companhias, que sempre rendiam grandes lucros, a depender dos números dos dados do adversário que caíam, pois seguia a regra do "pontos dos dados multiplicados por X" (quociente a depender da Companhia).
A parte mais badalada do tabuleiro era a que continha Morumbi, Interlagos, rua Augusta e avenidas Pacaembu e Europa; sendo mais excluída a parte que continha o famoso bairro do Leblon, tão filmado nas novelas de Manuel Carlos. O preço do imóvel era tão irrisório (R$ 100, com aluguel custando R$ 6) que me fazia crer que se tratava de uma favela.
Quem nunca pensou que a nota de quinhentos reais realmente existia que atire a primeira pedra, pois eu acreditava piamente. Apesar de algumas incoerências absorvidas depois de tanto jogar, tenho certeza que aprendi algumas coisas, mas como era difícil vencer o jogo, resolvi não me aventurar pela área de administração.
Alguns motivos levavam os participantes a serem presos. A prisão dos adversários sempre era bem-vinda, mas não muito duradoura, pois talvez alguém tivesse a carta de liberação, adquirida no "sorte ou revés"; quando não, a fiança de R$ 50 resolvia o problema, mas só após três rodadas sem jogar; havia, ainda, a chance de apelar para sorte, tendo que tirar números iguais nos dois dados para se livrar do xadrez. Regalias como o "salário" (R$ 200), recebido a cada rodada no tabuleiro, ajudava a recompor a "fortuna" dos jogadores depois de vários percalços na rodada anterior.
Lá pelo fim do jogo, os números dos dados faziam toda a diferença, um número a mais ou a menos rendia grande perda de dinheiro para os que caiam nos hotéis do adversário. Os “acordinhos” sempre aconteciam nessa fase, a camaradagem do "eu não pago agora e você não paga quando cair no meu hotel" eram freqüentes. Valia tudo para não sair do jogo, lembro que até "emprego" era oferecido, algo como "se andares por mim no tabuleiro, te pago R$ X a cada rodada”. Confesso que já me "humilhei" para receber esse rico dinheirinho, que não fazia ninguém recuperar-se, mas ajudava a manter a brincadeira por mais tempo.

Escrevi sobre o jogo, que me rendeu grandes alegrias e algumas brigas por ultimamente estar sonhando bastante com ele. Os sonhos são os mais absurdos, num, a caixa do Banco Imobiliário ocupava a vaga da minha garagem no prédio que eu morava anteriormente; e em um outro sonho, a caixa estava sob o chão na posição mais difícil de equilíbrio, em pé. A mensagem onírica ainda não foi captada, mas algo me diz que preciso matar a saudade do jogo, quem se candidata a uma partida?

Foto em: gardenal.org

*Um beijinho pro meu amor. :*

domingo, 21 de setembro de 2008

C G Am F

Este texto é regido por quatro acordes infalíveis: C G Am e F. Não, não, esqueçam, na verdade eles só fazem a música de fundo, os verdadeiros quatro regentes são outros, ainda a serem inseridos. Antes de sair de casa, escutei a jovem - até demais - Mallu Magalhães tocar You ain't nothing but a hound dog, do Rei Presley, e Folsom Prision Blues, do Men in Black, Johnny Cash. Músicas das quais gosto bastante. A primeira música teve uma boa leitura, já a segunda... Já no clima, e depois de uma rodada de C G Am F (quase que não toco, mas Danilo me salvou a tempo), segui rumo ao ponto de encontro: Cuba do Capibaribe. Lá, apresentaria-se a banda Caravana do Delírio, composto pelo tal quarteto já mencionado, mas ainda não nomeado. Então, aqui vai: Matheus (baixo e vocal), Danilo (guitarra, vocal e trajes loucos), Baracho (Paraíba, Minas Gerais e mais outros estados, além do teclado) e Eduardo (cadeira, baquetas e... bateria?). E foi mais ou menos assim:

Não é todo mundo que abre um show fazendo alusões à masturbação e fecha com Imagine, de John Lennon. Aliás, também não é todo mundo que consegue uma série de, pelo menos, uns cinco "Mais um, mais um", dobrando o tempo original do show. Não, não qualquer um. Trazer Mutantes, Bob Dylan, Elvis Presley; atender (vejam bem!) a um "Toca Raul"! E, mesmo assim, o que marcar é o deles, o que marcar é um Valha-me Deus, Sistema Nervoso, Todos os Homens São Lendas. E são mesmo. Lendária é uma banda que toca rock, sem bateria, e consegue impressionar um músico de mais de uma década de experiência. Que tem a "cara-de-pau" de traduzir — e com um humor refinado — instantaneamente (parecia, no show) uma música do Rei do rock, e arrancar risadas e aplausos dos presentes.

O show da Caravana do Delírio, no Cuba do Capibaribe, Paço Alfândega, Recife, PE (ufa!), foi difícil de acontecer. A bateria, anunciada aos músicos como completa, nem pratos tinha; o teclado teve que ser ligado direto num microfone. Mas tudo bem, lá foram eles, subiram os três: Matheus, Danilo e Baracho. Eduardo, infelizmente, ficou na cadeira, assistindo. O show inicia-se com Mãonogamia, a mais nova música da banda, sobre a história de um sujeito que não troca sua parceira inseparável — a mão — por mulher nenhuma. Nem animal, nem homem, nem nada, só a mão, o que justifica o trocadilho no título. Após algumas canções próprias, trazem Baby, música de Caetano Veloso, conhecida na voz de Rita Lee, na época dos Mutantes. Mais um pouco, e Elvis chega, com You ain't nothin but a hound dog, cover melhor do que o de Mallu, e ainda seguido de sua "adaptação", feita pelo próprio Matheus. Mais um pouco, e o momento mais "reflexivo" do show. Sentado, só com guitarra e teclado, Matheus canta Quem se importa?, melodia e letra tocantes. Quase ao fim do show, o grande momento para os fãs, Sistema Nervoso, que vai se tornando o grande sucesso da banda, arranca gritos e aplausos, e é seguida pela última música: Descanse em Paz.

Ao menos era esse o plano. Mas a platéia pediu mais, e veio um Mahteus Dylan inspirado. Pediu mais e mais e mais. E seguiu-se praticamente tudo o que a banda já compora (até pagode com guitarra rolou!). "Não sei mais o que tocar", disse Matheus à banda. Mas não eram músicas novas que os ouvintes queriam, eram eles, era a banda ali em cima, tocando, seja lá o que fosse. Mas a casa tinha que fechar e então, vaiado, um funcionário — que não era um dos garçons, loucos por mais músicas — solicitou o fim do show. Matheus finalizou com a bela mensagem do beatle Lennon ao mundo: Imagine. Agradeceu muito a todos, emocionado, e convidou ao próximo show, dia 3 de outubro, no Sabor Pernambuco.

O sucesso da banda Mamonas Assassinas é inexplicável. De covers de canções de rock conhecidas na época, os garotos passaram a fazer uma música irreverente, escrachada, crítica (em certo ponto) e estouraram. Pouco mais de um ano depois, a banda sofreu um acidente quando voltava do último show da turnê no Brasil, e nenhum deles sobreviveu. Marcaram história. Bandas tornam-se estouros por suas letras, suas melodias, seus contatos, seu carisma, sua perseverança? Acredito que não. Bandas, na minha opinião, estouram porque estouram, é tautológico mesmo. A Caravana do Delírio ainda não estourou, mas caminha para isso. Letras, melodias, contatos, carisma e perseverança eles têm, e está sendo aperfeiçoado aos poucos. Porém, acima de tudo, eles têm o que precisam para estourar. O tal do feeling. Talvez seja um sobretudo do Willy Wonka ou um "Mãe, olha" nada roqueiro.

Abraços,
Diogo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Delirando

Certo dia, conheci, na livraria Cultura, um menino, que, provavelmente vestia uma camisa do Bob Dylan, levando seu característico olhar distante no rosto. Durante alguns dedos de prosa, percebi que estava diante de uma criatura realmente intrigante, um artista? O momento não era o mais propício para conversas sem tanto nexo, afinal, estávamos sendo "testados" pelos nossos futuros colegas de turma.
Alguns dias depois, as aulas começaram e a convivência diária foi revelando, aos poucos, cada um de nós. O garoto quase sempre chegava atrasado na faculdade, quando ia, porque as ausências, por motivos laringológicos, eram bastante freqüentes. Sem negar nenhuma aventura proposta por um colega ainda mais ousado, fomos umas duas vezes, depois da aula, para praia conversar um pouco e até jogar uma bolinha. No meio da conversa, nos “declaramos”, falando algo como “eu gosto de você, mesmo sem parecer”, acho que nos sentíamos meio estranhos por não demonstrar qualquer afeto um pelo outro. Nessa noite conversamos sobre algumas coisas de âmbito pessoal, ele deu-me alguns conselhos amorosos, depois tomamos uma água de coco e fomos todos para suas respectivas casas.
Lembro-me de outro dia, em que voltamos juntos para casa depois da aula, começamos a conversar e, entre as freadas bruscas do ônibus, o garoto novamente tentou ajudar-me com outros conselhos. Talvez, até hoje, ele nem imagine, mas as poucas palavras que trocamos naquele dia foram de muita importância para mim, foi mesmo um ombro amigo.
Com o passar do tempo, a turma foi percebendo a irreverência e a criatividade existente naquele garoto, que fazia músicas para a turma e brincava de cantar. Naquela época, não tão distante de hoje, ninguém colocava muita fé quando ele afirmava ter uma banda, e julgavam ser apenas uma brincadeira, tal qual a Imparciais do Samba. Eis que algumas músicas começaram a ser postas na internet, ficando notoriamente conhecidas pela turma, que, aos poucos, foi mudando de opinião em relação às brincadeiras que aquele garoto seria capaz.
Dia 30 de agosto seria a prova de fogo, apresentar para a turma a tal Caravana do Delírio. O show ocorreu da melhor forma e foi, realmente, um sucesso. Entre músicas e tietagens, a banda foi anunciando morder a vida com os dentes. Com muita irreverência, que não poderia faltar, os garotos da Caravana ajudaram a divulgar o trabalho do colega em início de carreira, o Bob Dylan.
Confessando que, antes, eu era uma das que não colocava muita fé no gogó do garoto, ouvi “a seco” o som muito instigante, eu diria até delirante, da banda e transformei-me numa grande tiete da Caravana do Delírio. E, como já era, fiquei ainda mais fã de Matheus de Jesus.

Conheça você também: http://www.myspace.com/acaravanadodelirio

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Um tanto Frida

Ando cabisbaixa com algumas coisas que andam acontecendo há algum tempo, mas para não afogar as minhas lágrimas na web 2.0 (já estou treinando para os futuros estudos), expressarei-me apenas com um desenho. Como os famosos quadros de Frida, a minha "arte" não tem sentido para as outras pessoas, apenas para mim, que a fiz, então não ensejem entender meu âmago através dele.

Para completar o clima nostálgico, estava curtindo minha "circuntristeza", aqui cabe muito bem esse neologismo do grande Guimarães Rosa, ao som da banda Los Hermanos (O velho e o moço).
Sei do incômodo e ele* tem razão
Quando vem dizer que eu preciso sim
De todo o cuidado.

*adaptado
Ânimo para mim.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Um breve debate sobre Partidos Políticos e Eleitores no Brasil: Como se dá essa interação?

Esse texto originou-se de alguns textos que andei lendo. Acho que é sempre válido discutir esses temas, mostrando evidências empíricas, e numa linguagem mais cuidadosa e metodologicamente precisa. Assim, vamos refletir um pouco sobre a relação “partido político” e “eleitor” no Brasil.
Uma preocupação da Ciência Política brasileira é examinar o impacto (sobre os eleitores) das estratégias eleitorais (Kinzo, 2005). Segundo a autora é certo que os partidos políticos têm servido como aglutinadores de interesses da elite política, porém não se sabe qual seu papel na orientação da decisão do eleitor. O objetivo de Kinzo (2005) é focalizar os partidos na arena eleitoral e verificar se eles são capazes de servir como atalhos ao eleitor no ato de votar.
Para a autora, os eleitores brasileiros estão expostos a candidaturas individuais, o que geraria laços fracos entre partidos e eleitores. O principal inibidor dessa relação é a situação de informação limitada sobre os partidos. Os eleitores brasileiros não diferenciam os partidos que compõe o sistema partidário brasileiro. Segundo a autora, algo esperado em um cenário que combina baixo nível educacional e alta complexidade da competição eleitoral. Ela elege dois fatores que explicariam esse cenário. O primeiro é resultado de uma estrutura de incentivos que constrange os políticos e os partidos na arena eleitoral, e o segundo refere-se aos recursos organizacionais dos partidos.
Veja a seguir duas tabelas. A primeira mostra o percentual de pessoas que conhecem, já ouviu falar, ou já fez menção a algum partido. A segunda, refere-se a porcentagem de indivíduos que conseguem associar os nomes dos principais líderes partidários à sigla que fazem parte. (Os dados apresentados são Resultantes de uma pesquisa por amostragem realizada na região metropolitana de São Paulo e de dados secundários sobre preferência partidária das pesquisas nacionais do Data Folha, entre 1989 e 2002.)

In: Kinzo, 2005, pág. 71


In: Kinzo, 2005, pág. 72 (Para visualizar melhor, olhar tabela no texto original)

Perguntados sobre quais os partidos que conhecem ou ouviram falar, a resposta dos entrevistados mostra que o nível de fixidez dos partidos é extremamente baixo.
Sobre a Tabela 3: “Com a exceção do PT e do PMDB, que foram citados, respectivamente, por 80% e 59% dos entrevistados, mais da metade dos eleitores da RMSP (Região Metropolitana de São Paulo) não mencionou os outros partidos importantes (como PSDB, PFL, PPB, PTB e PDT) que formam o sistema partidário brasileiro.” (Kinzo, 2005, pág. 71)
“Ainda mais surpreendente é o fato de uma parcela considerável dos entrevistados não saber a que partido eram filiados os principais líderes políticos do país, como mostra a Tabela 4.” (Kinzo, 2005, pág. 71) É valido salientar que no período da pesquisa, Fernando Henrique Cardoso era o Presidente da República, e mesmo assim, apenas 29% dos respondentes sabiam a qual partido ele era filiado.
Assim, em que medida o contexto democrático em vigor desde 1985 tem contribuído para a consolidação dos partidos, do sistema partidário e da democracia?
Segundo Kinzo (2004) a concentração eleitoral ou a distritalização do voto está longe de ser o padrão dominante da competição política. Em sua perspectiva há uma tendência à dispersão e fracionamento do apoio eleitoral do que redutos perceptíveis. Assim, o fato dos eleitores não se lembrarem de quem é o seu deputado ou em quem votou nas últimas eleições legislativas é um bom indicador da inexistência de redutos eleitorais e de uma desvinculação entre parlamentares e eleitores.
A fragmentação do sistema partidário não seria problema para o funcionamento da democracia, claro se ela não afetasse o discernimento do processo eleitoral.
A conclusão de Kinzo (2004) é que a via eleitoral e a saída constitucional se afirmaram como caminhos seguros para a resolução dos impasses políticos. No entanto, alerta que o cenário partidário brasileiro é marcado por intensa fragmentação, fragilidade partidária, baixa inteligibilidade da disputa eleitoral e elevada volatilidade eleitoral (essas questões apontadas pela autora levariam a outro debate).
Por fim, a questão da identificação partidária no Brasil não tem sido observada de maneira detida, principalmente, no que tange ao comportamento eleitoral. Para os autores, não se registra na recente experiência democrática um crescimento significativo dos índices de partidarismo. A identificação partidária resultaria do julgamento que os eleitores fazem do desempenho dos partidos no conjunto de sua atuação. Porém, o jogo partidário-eleitoral brasileiro é pouco propício à formação de identidades.

Referências Bibliográficas:

KINZO, Maria D'Alva G.. Partidos, eleições e democracia no Brasil pós-1985. Rev. bras. Ci. Soc. , São Paulo, v. 19, n. 54, 2004 .

KINZO, Maria D'Alva. Os partidos no eleitorado: percepções públicas e laços partidários no Brasil. Rev. bras. Ci. Soc. , São Paulo, v. 20, n. 57, 2005 .
Obs.: Os textos referenciados estão disponíveis na internet.

O Político - Chico Buarque



O álbum O Político foi lançado no ano de 1991, pela Universal Music, como parte da coleção Chico 50 anos, a qual compunha ainda os seguintes títulos: O Malandro (1991), O Trovador (1991), O Cronista (1999) e O Amante (2000).

Congregando as principais músicas de protesto feitas por Chico Buarque, o álbum traz grande alusão aos momentos da ditadura militar brasileira, visivelmente perceptível na música Meu Caro Amigo, que consistia numa carta ao seu amigo exilado, Augusto Boal, além de exprimir o desabafo do povo, notório em Deus Lhe Pague, ambas alusões atemporais, conforme comenta o crítico Tárik de Souza no próprio encarte do cd:
"Toureou a Censura através de metáforas e imprimiu uma linguagem cifrada que não tirou a beleza de suas músicas nem reduziu seu trabalho à mera fabricação de panfletos de vida curta."
Canções aparentemente passionais, na visão de um olhar ingênuo, ganham caráter de protesto para quem sofria com as arbitrariedades dos "Anos de Chumbo". O sofrimento de Zuzu Angel à procura do corpo do seu filho, seria tema da música Angélica, denotando a angústia de tantas outras mães daquele Brasil.

As músicas relembram uma época que a Anistia Geral e Irrestrita tentou esconder; ainda hoje, entretanto, tal contexto histórico continua latente na lembrança de quem viveu e na atualidade de quem ouve as imortais canções de O Político, trazendo à tona um passado que queremos, porém não devemos esquecer.


*Créditos a Diogo, que me presenteou com o CD.

domingo, 7 de setembro de 2008

Ensinamentos de Cartier-Bresson

Algumas vezes, a gente tem a impressão de que tirou a fotografia mais forte e, contudo, continua a fotografar, sem poder prever com certeza como o evento continuará a desenvolver-se. Será preciso evitar metralhar, fotografar rápido e maquinalmente, sobrecarregar-se assim de esboços inúteis, que entulharão a memória e perturbarão a nitidez do conjunto.

A memória é muito importante, memória de cada foto feita ao galope, na mesma velocidade que o evento; é preciso ter certeza, durante o trabalho, de que não se deixou buraco, que tudo se exprimiu, pois depois será tarde demais, não será possível retornar o acontecimento às avessas.

CARTIER-BRESSON, Henri. O Imaginário Segundo a Natureza. 1. ed. São Paulo: Editorial Gustavo Gili, SA, 2004. p. 18.

Lendo tal trecho, consigo entender o quanto a leitura de A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen influenciou o entendimento de Henri Cartier-Bresson acerca da fotografia, serviu como um verdadeiro manual, conforme ele mesmo afirmou.

Na sutileza de suas frases, percebo ainda uma prévia crítica ao que viria a ser, anos depois, a fotografia digital, quando a banalidade das fotos perpassou a observação do objeto focado, aumentando a produção fotográfica em detrimento da acuidade do olhar, essência da arte fotográfica.

É evidente que tal versão do fato seria bastante semelhante à opinião um tanto radical, e certamente refutada pelo próprio fotógrafo, de Baudelaire, ao afirmar não ser a fotografia uma expressão artística.

Creio, no entanto, que tal discussão é bastante relevante para a sociedade digital em pleno desenvolvimento, além de resgatar um pouco do debate de Walter Benjamin, na questão da aura, em A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica.