quarta-feira, 31 de outubro de 2007

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

NOSSO DILEMA DO PRISIONEIRO

Periodicamente os brasileiros afirmam que vivemos numa democracia. Por democracia entendem a existência de eleições, de partidos políticos e da visão republicana dos três poderes, além da liberdade de pensamento e de expressão. Por autoritarismo, entendem um regime de governo em que o Estado é ocupado através de um golpe (em geral militar ou com apoio militar), não há eleições nem partidos políticos, o poder executivo domina o legislativo e o judiciário, há censura do pensamento e da expressão e prisão (por vezes com tortura e morte) dos inimigos políticos. Em suma, democracia e autoritarismo são vistos como algo que se realiza na esfera do Estado e este é identificado com o modo de governo.
Essa visão é inútil para algo profundo na sociedade brasileira: o autoritarismo social. Nossa sociedade é autoritária porque é hierárquica, pois divide as pessoas, em qualquer circunstância, em inferiores e superiores. Não há percepção nem prática da igualdade como um direito. Nossa sociedade também é autoritária porque é violenta: nela vigoram racismo, machismo, discriminação religiosa e de classe social, desigualdades econômicas das maiores do mundo, exclusões culturais e políticas. Não há percepção nem prática do direito à liberdade.
O autoritarismo social e as desigualdades econômicas fazem com que a sociedade brasileira esteja polarizada entre as carências das camadas populares e os interesses das classes abastadas e dominantes, sem conseguir ultrapassar carências e interesses e alcançar a esfera dos direitos. Os interesses, porque não se transformam em direitos, tornam-se privilégios de alguns. A polarização social se efetua entre os despossuídos e os privilegiados. Estes, porque são portadores dos conhecimentos técnicos e científicos, são os “competentes”, cabendo-lhes a direção da sociedade.
Assim, essas idéias ultrapassam uma esfera abstrata da nossa imaginação, e acaba desembocando nos nossos dias, de forma ativa e permanente. Não é difícil de perceber esta concepção. Enquanto, os cidadãos brasileiros não forem tratados como tal, ou seja, como INDIVÍDUOS, e que, portanto possuem direitos e deveres a cumprir, a sociedade permanecerá estagnada.
Nessa discussão então, surge aquela velha idéia, idéia que me lembra o pensamento dos marxistas mais “hard”. Pensamento diria linear, que imagina ser impossível um desenvolvimento, sem que antes a sociedade tenha passado por todas as etapas anteriores. Por exemplo, para se implantar o Socialismo, seria preciso passar pelo Feudalismo e Capitalismo, e claro, seus respectivos meios e forças de produção. Mas isso tudo foi apenas para lembrar, será que para a implantação da tríade de direitos (civis, políticos e sociais) é preciso um processo? Ou tais direitos podem ser amplamente e imensamente difundidos na sociedade sem nenhum tipo de problema?
È nesse ponto que aparece o nosso dilema do prisioneiro. Suponhamos que dois comparsas tenham sido presos. No entanto, leia-se quando for colocado comparsas, ou sinônimos, implantação, ou não, dos direitos citados anteriormente.
Tais personagens foram presos, mas os policiais não o podem condená-los por falta de provas. Mas com astúcia, os policiais separam os prisioneiros, e faz a seguinte proposta. Se por acaso, um dos dois depor, e o outro em silêncio ficar, o que depôs será liberto, enquanto que o “preso fiel” será condenado a cumprir uma prisão de 10 anos. Caso ambos fiquem em silêncio, a justiça só poderá ficar em posse deles por um período máximo de 6 meses. No entanto, se ambos se verem tentados a delatar o comparsa, os dois ficam por 2 anos na cadeia.
Agora percebam, tudo isto está acontecendo sem que os presos saibam quais são as atitudes do outro. Como se diz, eles estão jogando no escuro, e logo, o máximo que fazem são suposições sobre a atitude possivelmente tomada pelo outro. Então, o dilema ao qual ambos estão submetidos é, o que vai acontecer? Como cada prisioneiro irá se comportar diante da tentação de culpar o outro?
Assim, esse jogo poderá ser cooperativo, produzindo um resultado não ótimo. Ou então, o jogo poderá ser não-cooperativo, e ai há duas possibilidades. 1) Se um dos dois contar e o outro não, o outro será submetido a uma prisão de 10 anos. E esse seria o melhor resultado a ser alcançado, pensando-se individualmente. 2) Se ambos se acusarem os dois serão presos, produzindo um resultado menos ótimo, já que ambos ficaram presos por um período de 2 anos.
Toda essa história foi apenas para informar que realmente já está na hora de começarmos a tratar as pessoas como indivíduos. E que não importa se haverá implantações pausadas de direitos, o que importa é que eles comecem a ser implantados. Por isso, em abstrato, não importa os valores das penas, mas o cálculo das vantagens de uma decisão cujas conseqüências estão atreladas às decisões de outros agentes, onde a confiança e traição fazem parte da estratégia em jogo.
Enfim, enquanto não houver no Brasil, uma construção concreta, combinada de: liberdade, participação e justiça social, fatos como os quais convivemos diariamente continuarão a perseguir a nossa sociedade. Temos “liberdade”, alguma participação e muita desigualdade. A liberdade e a participação, para sobreviverem, precisam gerar igualdade. E esta igualdade seria então traduzida em: respeito à Constituição e aos Direitos Humanos, investimentos maciços em setores do bem-estar social (educação, lazer, saúde...) e uma visão de segurança pública institucionalizada que permaneça ao longo dos governos como política de Estado, e não como política de governo.

sábado, 20 de outubro de 2007

Maconha por Gabeira


"Se a Cannabis sativa fosse uma família, teria dois filhos. São irmãos de sangue, com a diferença de que num deles os exames detectam níveis mais altos de THC --o tetraidrocanabinol. O cânhamo, que entra na produção de 20 mil produtos importantes para a humanidade, tem um nível de THC inferior a 3%. A partir daí, entra em cena sua irmã, a maconha, que produz toneladas de bons e maus sonhos, com um teor de THC em torno de 6%. Na maioria dos países, a plantação de cânhamo e de maconha é igualmente proibida, um irmão pagando pelo outro, o cordeiro pelo lobo.
Pensar que é ilegal plantar cânhamo nos Estados Unidos e que a Constituição dos Estados Unidos foi escrita em papel de cânhamo ajuda pelo menos a entender as grandes fogueiras que se fazem periodicamente para destruir a canábis. Já foi assim com os livros, com a diferença de que naquela época se queria matar a cultura e na nossa querem matar uma planta --sem perceber que se trata, também, de uma cultura, e não só de uma espécie vegetal que se possa levar à extinção. [...]
A ascensão social da maconha implicou numa guinada, pois era descrita como uma droga que impulsiona o crime e agora se tornava um fator de apatia e desmotivação. Grandes dirigentes mundiais, como Bill Clinton (que "não tragou") e Fernando Henrique (que não gostou), confessaram ter experimentado a planta. As atenuantes que apresentam servem para mostrar como se toleram os excessos de uma época, desde que desvencilhados deles para cumprir as funções sociais. [...]
Não confiar cegamente em pesquisas vale tanto para as que são contra quanto para as que são a favor. Resta a observação pessoal como um ponto de referência. Os efeitos mais comuns --relaxamento, alteração do humor, redução da agressividade-- nos autorizam a afirmar que a maconha leva a um estado contemplativo. Independentemente da presença de espiritualidade, é uma experiência humana para muitos indispensável.
Há gente, no entanto, que fuma o mesmo baseado diante do mesmo pôr-do-sol e reclama que nada de novo acontece. A maconha em si não é a resposta para isso. Ela tem de ser procurada no cotidiano da pessoa, em como enfrenta seus desafios, como capitula ou avança em suas decisões íntimas.É compreensível que se tome a maconha como um sujeito com responsabilidade própria, capaz de ser julgado por seus atos ou contra quem devemos fazer uma guerra. A maconha tem mil e uma utilidades. A milésima primeira é, precisamente, servir de bode expiatório para nossas dificuldades de encarar o real." [...]
*Trechos do primeiro capítulo do livro A Maconha de Fernando Gabeira
*O primeiro capítulo completo pode ser lido em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4313.shtml

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Varal

Desde criança, sinto uma certa liberdade diante de varais de quintal, com longos fios; um dia desses resolvi analisar essa fixação sem nexo. Sempre gostei de desenhar um varal com algumas roupas penduradas, roupas sempre coloridas, talvez representando que os donos das roupas eram felizes. Não fazia o desenho com o intuito de dizer que o varal pertencia a mim ou que as roupas do varal eram minhas, havia, inclusive, roupas masculinas e até femininas as quais eu nunca usei e talvez nunca usarei. Eu olhava atentamente cada traço do desenho, tentando fazê-lo parecer mais feliz possível, mesmo que não tivesse perfeito. Enfim, desenhava sempre um vestido, uma calça e uma camisa, acho que era uma forma de representar um casal feliz. Muitas vezes as roupas eram estravagantes, com cores berrantes. Nesses dias, porém, comecei a pensar sobre isso e conclui que talvez o varal não representasse essa liberdade, posto que as roupas balançam, mas não voam, não são livres para voar, estão presas. Assim, percebi que o varal não representa tanto essa liberdade na qual eu acreditava, talvez fosse até ingenuidade minha pensar desta forma. Enfim, ai comecei a voltar às minhas analogias e pensei que se as roupas representam as tais pessoas felizes, essas pessoas estavam presas. Aprofundei o raciocínio, de certo não muito elevado, e conclui que as pessoas, donas daquelas roupas aparentemente livres, não são livres, são prisioneiras. Não me referi a grades e presídios, mas a uma prisão mental. Depois conclui que não era apenas uma prisão mental, posto que elas estavam ali por imposição das mesmas pessoas felizes que as colocaram no varal. Lembrei que dependendo do vento, do "vento revolucionário", elas se soltam, mas em geral ficam presas mesmo. Não sei, mas de repente fiz uma analogia com a sociedade, que finge ou é enganada pela relativa autonomia, porém vive sempre presa no varal dos "bons costumes".

terça-feira, 16 de outubro de 2007

redação

Etanol: uma alternativa ambiental e econômica

A sociedade vigente usufrui de grande diversidade energética, as fontes são usadas em diferentes escalas em função do lugar a ser implantada. Devido à Revolução Industrial, o petróleo assumiu a liderança no fornecimento de energia. Desde então, as petrolíferas abastecem o mundo com o "ouro negro", responsável por crises e disputas. A Idade do Óleo Pétreo, porém, pode está próxima da derrocada.

Após a crise de 1973, propiciada pela Guerra de Yom Kippur, percebeu-se a extrema dependência mundial do petróleo assim, houve o recrudescimento das pesquisas em prol de novas fontes energéticas. No Brasil, implantou-se o Pró-Álcool, a fim de substituir em larga escala os combustíveis derivados do petróleo por etanol, a partir de 1975. O programa viabilizou-se através da baixo do preço do açúcar; na época, comercializar álcool tornava-se bem mais rentável.

Devido à recuperação da crise petrolífera, o projeto do governo Geisel começou a ruir. Questões anteriores, de dependência e crise, associadas a ímpetos ambientais, recolocaram o uso do etanol e de outras fontes renováveis em pauta. No caso brasileiro, especificamente, a utilização do combustível álcool poderá render grande crescimento econômico, em função do solo e clima propícios ao cultivo da cana-de-açúcar. É notório o maniqueísmo de tal questão, pois há, por parte dos ambientalistas, medo do provável desmatamento, semelhante ao ocorrido durante o Período Colonial, provocado pelas primeiras lavouras açucareiras.

É relevante o estudo das possíveis conseqüências do uso das novas fontes energéticas para saber quais as melhores alternativas e testar a viabilidade dos novos combustíveis. O Brasil, segundo o atual Presidente, agirá em função da economia e das questões ambientais. Salvo o problema da possível destruição das florestas, o etanol é uma alternativa bastante viável para o futuro; o fato de não influenciar no efeito estufa traz, portanto, uma enorme possibilidade de êxito.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O ser humano é quiral!

Somos seres assimétricos!!!
Podem nos partir em qualquer dimensão, mas continuaremos assimétricos. Mesmo que nos partam ao meio do rosto, sempre um lado é diferente do outro, detalhes, porém é sempre diferente. E mesmo que fosse igual, ainda tem os órgãos, fígado e pâncreas, por exemplo, ficam em lados distintos. Até as funções do cérebro são diferentes em cada lado. Enfim, meros devaneios de uma aula de química, confesso.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

EL CHE

“Por que será que o Che
Tem este perigoso costume
De seguir sempre renascendo?
Quanto mais o insultam,
O manipulam
O atraiçoam
Mais ele renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!
Não será por que Che
Dizia o que pensava e fazia o que dizia?
Não será por isso que segue sendo tão extraordinário,
Num mundo onde palavras e atos tão raramente se encontram?
E quando se encontram raramente se saúdam
Por que não se reconhecem? "
(Eduardo Galeano)


*Créditos ao parceiro Chico :)