quarta-feira, 29 de julho de 2009

Clichês e outras aspas

Parece que Chico Buarque (Sim, eu pegaria!) escreveu Cotidiano para mim. Só esqueceu que eu costumo dormir (muito) mais. Pois é, os dias têm seguido um após o outro, sempre com a mesma mecânica, como se vivesse nos Tempos Modernos. "Acorda e vai", diz a minha mãe, e eu vou. Feliz. Duas frases representam bem a missão "Todos juntos somos fortes, não há nada a temer" e "Não quero dinheiro, eu só quero amar" (E amo!). Musical demais para ser um jornal, vale ressaltar: um TELEjornal. Quem trabalha em TV sabe os fios brancos a mais que esse "TELE" concede. De qualquer forma, se há músicas, por que não as dizer? Por que não as cantar? O ditado não diz que quem canta os males espanta?! Então, trate de trocar as cordas do violão porque vou soltar o gogó! Bem, a correria termina com um "boa noite" final. É regra. Cessa a correria, mas começa a missão le-en-ta para chegar em casa. "Chamou?", —"Chamei". Isso não diz muita coisa, sempre é por volta das "dez da noite" (preferiria dizer vinte e duas horas, mas são as regras!) que, finalmente, grito "Amigo, cheguei!" E chego mesmo. O tempo passa e (adversativo) ninguém nota. "Caramba, três da manhã!". Isso é bom, mas entre estacas e tijolos, vem a dúvida: Quero mesmo fazer engenharia? É. E quem não faz o que faz? Vegeta? Ah, melhor seguir o conselho de quem toca a viola: ouvir o Canto.

Medo de construir
E medo maior de derrubar.
Vinícius contribui com a lição do amor:
Só é bom quando dói
E pra ser bom tem que viver.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Boas cenas, belas músicas

Aproveitando que irei iniciar um novo ciclo de postagens no blog, vou tentar corrigir um erro cometido quando eu pretensiosamente elegi as mais belas atrizes de todos os tempos. Naquela lista, tinha deixado de fora a Audrey Hepburn. E justifiquei dizendo que não a achava um mulherão, e sim, uma “bonequinha de luxo”, se é que vocês me entendem.

Posteriormente, pensando sobre essa nova postagem, lembrei de uma cena do filme “Breakfast at Tiffany's” de 1961, onde a mesma Audrey Hepburn interpreta a música “Moon River” com muito charme, delicadeza e sentimentalismo. Assim, se ela não é nenhuma Sophia Loren, ela também é bem mais bela que a Demi Moore que ocupava a oitava colocação na ocasião. Então, assédios sexuais a parte, venho ratificar a escolha, e mudar o ranking. Dessa forma, Demi Moore sai da minha lista das eleitas, e na sua posição, entra a Audrey.

Dito isso, a segunda coisa é justificar este ciclo de novas postagens com o mesmo título. Os posts intitulados, “Boas cenas, belas músicas”, vão tratar de passagens do cinema onde a conjunção desses dois elementos (o cinematográfico e o musical) se combinam e transformam o momento em mágico. Inclusive, bons casamentos entre trilha sonora e composições visuais proporcionam cenas inesquecíveis, fazendo algo que seria mais uma tomada, entrar para o imaginário do público e a história da sétima arte.

Como dito anteriormente, a cena a seguir, é do filme “Breakfast at Tiffany's”, em português, Bonequinha de Luxo, que tem como atriz principal a Audrey Hepburn. Entre o desejo de se tornar rica (casando com um milionário) e o risco de viver um verdadeiro amor, ouvimos a canção “Moon River” (vencedora dos Oscars de Melhor Trilha Sonora - Comédia/Drama e Melhor Canção Original) interpretada pela própria Audrey. Pelo conjunto, música, interpretação e cena, essa é a primeira “Boa cena, bela música” da série.



Também vale a pena ouvir as versões da mesma música nas vozes de Frank Sinatra, Louis Armstrong, Michael Stipe (R.E.M.) e Morrissey(ex-Smiths).

sábado, 25 de julho de 2009

Cara, cores, rivalidade, gols e emoções

O que falar sobre dois dos mais antigos clubes de futebol brasileiro? O que falar sobre a paixão de duas torcidas quando seus times estão em campo? Alguém já me disse que certa vez, Nelson Rodrigues falou que dentre as coisas menos importantes da vida, o futebol é a mais importante. De fato, para os brasileiros isso é quase regra, aqui, o estranho é não gostar de futebol.

Como em vários estados pelo Brasil afora, em Pernambuco não é diferente. Aqui é realizado o terceiro mais antigo Clássico de todo o Brasil. Seja na Ilha do Retiro ou seja no Estádio dos Aflitos é possível encontrar a manifestação desse fenômeno: o amor pelo futebol. E esse amor tem cara, cores, rivalidade, gols e emoções. Há exatos 100 anos, no Recife, era escrita a primeira página desse livro. Em 25 de julho de 1909, no campo do British Club, o primeiro “Clássico dos Clássicos” (Sport versus Náutico) era jogado. O placar foi favorável ao time alvi-rubro que ganhou a partida amistosa por 3 x 1. De lá para cá já foram 512 partidas disputadas, com 169 vitórias do Timbu, 197 do Leão e 145 empates.

Um dos ingredientes da rivalidade entre os clubes é saber qual deles possui a hegemonia local. Se pensarmos hegemonia como aquele que possui o maior número de títulos, o Sport está a anos-luz de distância. Entretanto, se o Náutico possui alguma vantagem, é pelos seus seis títulos pernambucanos consecutivos. O que acirra mais os nervos, pois mesmo o Sport possuindo 38 títulos contra 21 do seu rival, seguidamente seu maior triunfo foi um pentacampeonato em 2000. Além de que, as duas vezes que o hexacampeonato ficou ameaçado em cair nas mãos inimigas, o Timbu tratou de ganhar o campeonato e acabar com a felicidade alheia (uma vez tirou das mãos do Santa Cruz, e mais recentemente, do Sport). Em meus registros jornalísticos sobre os triunfos do rubro-negro pernambucano, encontrei uma foto e uma charge, que vocês podem ver a seguir, que demonstra bem o espírito e a mística em torno do maior feito alvi-rubro.


Fotos do caderno de esportes do Jornal do Commercio de 22 de junho de 2000. Para ampliar qualquer imagem, basta apenas clicar nelas.

Outra curiosidade é que a disputa é levada tão seriamente no clube da Rosa e Silva que eles não põem o escudo do Leão em seu site oficial (como pode ser visto na foto a seguir). Em geral, os sites oficiais dos clubes colocam em suas páginas o resultado do último jogo e o próximo a ser jogado, como pode ser observado no do Sport. Mas como pode ser visto na do Náutico, é visível apenas o escudo do Botafogo-RJ e do Timbu, e nada do Leão.

Como ritual que se repete há tanto tempo, seria impensável não haver aquelas histórias mais marcantes. O breve relato que vou contar se passou em 1975, e obviamente eu não era nascido. Desse modo, essa história chegou a mim através da minha avó (alvi-rubra) e do meu pai (rubro-negro). Em 1975, o Sport amargurava doze anos sem conseguir desbancar seus arqui-rivais. Foi nesse espaço de tempo 1963 a 1974 que o Náutico conseguiu seu hexacampeonato e o Santa Cruz seu penta. Nesse jogo, o time da Rosa e Silva saiu na frente do marcador, e o tempo normal acabou 1 x 0 ao seu favor. Só que esse resultado forçava o jogo ir para a prorrogação. A partida durou quase três horas, e no fim, o Leão do Norte sagrou-se mais uma vez campeão pernambucano acabando o seu jejum. Toda vez que esse jogo volta a discussão é lembrado como “o jogo que terminou no outro dia” e que foi um teste para cardíaco.

Ingresso do último Sport x Náutico que fui. O Leão venceu por 2x0.

Enfim, dia 26 de julho (amanhã), será realizada a partida de número 513. Sem dúvidas, meu coração rubro-negro pede e torce por um massacre leonino para cima dos timbus. Mas, paixões a parte, o que me emociona, é ver duas torcidas que se alegram e se entristecem por times das suas regiões. Que independentemente de que condição esteja, Libertadores, Série A ou B, zona de rebaixamento ou não, lutam com suas equipes, e não se deixam render por times extremamente favorecidos pelas mídias do sudeste do país. Ainda bem que somos um pólo de resistência a essa lógica, e por esse motivo, temos muito a comemorar. Pra cima deles Leão... ops.. Mantendo a neutralidade, bom jogo para todos!

terça-feira, 21 de julho de 2009

As mais belas atrizes de todos os tempos

Sempre é bastante difícil elaborar listas que enumerem de um universo imenso um grupo seleto, neste caso, as mais belas atrizes de todos os tempos. É evidente que as escolhas a seguir estão pautadas a partir de uma elaboração altamente subjetiva, e que provavelmente deverá haver discordâncias dos leitores, tanto com relação às atrizes indicadas, quanto às colocações que elas ocupam. Entretanto, essa foi uma tentativa minha, a partir daquilo que julgo belo, e espero ver nos possíveis comentários, as suas preferidas. Sei que geralmente essas listas são do tipo “Top 10”, mas como foi bastante difícil, ampliei as minhas selecionadas para 15. Elas são em ordem:

1. Sophia Loren
Pela beleza mediterrânea ao mesmo tempo desafiadora e sedutora, do tipo, desvenda-me ou devoro-te!

2. Grace Kelly
Quem não gostaria de possuir uma janela indiscreta para poder espioná-la? Atento a sua beleza, o príncipe de Mônaco não titubeou e casou-se com a moça.

3. Elizabeth Taylor
Nossa eterna Cleópatra é de fato uma gata em teto de zinco quente. A beleza dos seus olhos azul-violeta é de tirar o fôlego. Nem com uns quilinhos a mais e fazendo uma mulher que gosta de jogos psicológicos, em “Quem tem medo de Virgínia Woolf?”, perde o charme e o encanto.

4. Marilyn Monroe
O que falar dela? Que ela foi bastante popular e ícone de sensualidade todos já sabem. O que ninguém sabe, é que ela sempre teve razão. Tudo a seguir é verdade: “Os homens preferem as loiras”, “O pecado mora ao lado” e “Quanto mais quente melhor”.

5. Brigitte Bardot
Símbolo sexual dos anos 60 e 70. Vários artistas prestaram homenagens a ela, dentre eles, Bob Dylan, The Who e Caetano Veloso.

6. Sharon Stone
Apenas uma coisa: Ela provoca instintos selvagens.

7. Penélope Cruz
É uma mulher que pode fazer o papel de uma freira, grávida e com AIDS que ainda assim fica linda. O que é que a espanhola tem? Ela sabe, e Almodóvar ajuda.

8. Demi Moore
Quem não a assediaria? Quem não gostaria de passar o resto do tempo com ela no outro lado da vida?

9. Greta Garbo
O que mais gosto nela é o seu olhar misterioso e intrigante. Assistir a um filme seu da época do cinema mudo é uma experiência impar, graças a beleza da sua expressividade.

10. Julianne Moore
Hannibal não queria fazer mal a ela, queria apenas levá-la para casa. E eu, queria ser seu marido cego, para que ela cuidasse o tempo todo de mim. Uma ruiva autêntica.

11. Nicole Kidman
Seja no Moulin Rouge seja em Dogville sua beleza toma conta da tela e enche nossos olhos de alegria. Outra ruiva autêntica.

12. Julia Roberts
Uma coisa a resume: Pretty Woman!

13. Ava Gardner
É lembrada como “o animal mais belo do mundo”. Não à toa, Frank Sinatra ficou louco por ela.

14. Catherine Deneuve
Nada mais, nada menos que a “Belle de jour”.

15. Ingrid Bergman
Seu olhar é penetrante, tomar um champagne ao som de “As time goes by” ao seu lado seria inesquecível.

P.S.: E que ninguém me diga que a Audrey Hepburn é a mais bela de todas.

domingo, 19 de julho de 2009

Se tudo pode acontecer

Com um cenário simples e sempre com o “três, dois, um” antes de cada canção, o público sentia-se íntimo daquele homem de voz grave e músicas, por vezes, concretistas. Como num consenso para sentir ao máximo a melodia de Arnaldo Antunes, a platéia ouvia as canções em silêncio, como se a voz ainda não existisse. Alguns balbuciavam, outros não se continham e volta e meia cantavam ao ouvir as músicas preferidas. Claro que foi impossível manter o “acordo” ao ouvir hits como O quê, tão conhecido e querido pelos fãs da época do Cabeça de Dinossauro. E foi nesses momentos que Arnaldo convocou Recife para cantar; o público não pôde nem quis negar tal pedido.

Dos sucessos da época de Tribalistas, a expectativa era ouvir Um a um, sétima faixa do Ao vivo no estúdio, mas Arnaldo surpreendeu quando cantou outra canção da tribo que não consta no CD temático do show, Tribalistas. Tal música, que conta um pouco da história do trio que se desintegraria (e se desintegrou) no próximo momento, deixou o público com saudade. Saudosismo que aumentou ao ouvir O pulso, clássico dos Titãs no fim dos anos oitenta. Para fugir um pouco da proposta do show de “relembrar” o passado, Arnaldo Antunes adiantou, com apoio do público, uma canção do novo álbum, Iê-Iê-Iê, que será lançado ainda este ano.

Mesmo os que já estavam cientes do jeito elétrico com que Arnaldo movimenta-se no palco, foi impossível não se encantar com os passos da dança dele. E para os pernambucanos, pensar que entre um passo e outro tudo viraria frevo foi inevitável. Durante o show, não houve quem não pensasse Eu quero que esse momento dure a vida inteira (!). Tanto que foi unânime, no fim do espetáculo, a reclamação de que terminou muito rápido. Não que o show tenha sido efetivamente curto, mas a velocidade com que passou foi enorme, como tudo na vida que se espera demais. E também como tudo que acaba logo, deixou saudade.

Esses dias

Livro: O Veredicto, Franz Kafka
Filme: Kika, Pedro Almodóvar
Música: For no one, The Beatles

segunda-feira, 13 de julho de 2009

One, two, three, four!

Hoje, 13 de julho, é comemorado mundialmente, o dia do rock'n'roll. Aproveitando a ocasião, contarei o que aconteceu no meu fim de semana. Muitos não deviam nem saber o que se celebra hoje, da mesma forma que provavelmente, não sabiam que o baixista da extinta banda de punk rock Ramones, estava no Recife, no último sábado. E mais que isso, que ele fez um show no Clube Português, onde eu estava.

Na precária publicidade que fizeram, estava lá que o show seria em comemoração aos 35 anos de formação da banda, e que se ouviria obviamente, o som dos Ramones e as clássicas do punk rock mundial. Entretanto, havia pouquíssimas pessoas, e o espetáculo não durou nem uma hora. Ou seja, o que deveria ser uma festa, virou uma apresentação quase que particular. Mas, o dinheiro foi bem empregado. C. J. Ramone estava de brincadeira, acho que em decorrência do pequeno público que não chegou a lotar nem o pequeno espaço do Português. Acompanhando C.J., na guitarra estava Daniel Rey, produtor de vários álbuns e co-autor de algumas músicas dos Ramones, e na bateria, Brant Bjork, que pilotou as baquetas do Queens of the Stone Age. Cheio de caras e bocas, C.J. interpretou várias clássicas da banda, tais como, I wanna be sedated, Sheena is a punk rocker, Judy is a punk, Do you remember rock’n’roll radio, Pet sematary, e claro, o quase hino do grupo, Blitzkrieg bop, que pode ser visto no vídeo abaixo. Com um repertório desses, não haveria público que impedisse os caras de fazerem um bom som ficando, para nós espectadores, o gosto do bis.

Para acabar a noitada, terminei indo para o Garagem. Papo vai, papo vem, altas horas aconteceu uma batida policial. Ninguém sabe o que diabos eles estavam procurando, mas estavam armados até os dentes, com direito a cachorros farejadores e policiais encapuzados. Além disso, algumas pessoas foram revistadas, e de longe (como se estivéssemos em um set de filmagem, como figurantes) todos foram fotografados e filmados (por favor, se eu aparecer pelos jornais ou programas televisivos, avisem-me). Mas no fim, eles não saíram com ninguém detido, e o único déficit da noite, foi que o som teve que ser baixado enquanto ocorria a vistoria. Depois dos momentos de tensão tudo voltou a mais perfeita desordem e a noite continuou uma criança. Ainda ao som de muito rock’n’roll, inclusive, What a Wonderful World na versão dos Ramones, e claro, Michael Jackson, além de outros.

Enfim, foi uma noite diferente das outras. Primeiro, um encontro com um som de uma banda histórica, e depois, porque nunca tinha visto tanto policial junto. E eu que pensei que estavam dando uma “festa” na Câmara dos Vereadores ou na Assembléia Legislativa, e eles iriam dar uma olhada por lá.

domingo, 12 de julho de 2009

A África de Malick Sidibé

Lendo sobre a coreógrafa alemã Pina Bausch, que faleceu na semana passada, fui parar em Mali, no norte da África, e conheci Malick Sidibé. Ele é um dos mais conceituados fotógrafos africanos, ganhador de prêmios importantes e recentes da fotografia mundial, como o Leão de Ouro da Biennale di Venezia, em 2007, e o prêmio máximo do Photoespaña do ano passado. Ao contrário do que se pode estar pensando, os artistas não possuem nenhuma relação direta; a referência ao fotógrafo, no texto sobre a Pina Bausch, remontava ao movimento que as obras de ambos apresentam.

Oriundo de um continente financeiramente pobre e de cultura riquíssima, Malick não retratou as mazelas do seu país; ao contrário, inspirou-se na alegria do seu povo. Tal característica rendeu a ele, no Brasil, a alcunha de “antípoda de Sebastião Salgado”, pois segundo o fotógrafo malinês, “fotografia é juventude e alegria”. Não pretendo tecer comentários acerca das particularidades das obras de cada um deles, nem mesmo fazer deste texto uma apologia contrária ao estilo de fotografar do brasileiro, que também me comove, de outra maneira, claro.

Mali é um dos países mais pobres da África, com o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo e cuja expectativa de vida não chega aos cinqüenta anos. Como muitos do seu país, que possui taxa de analfabetismo superior a setenta por cento (!), Malick não freqüentou a escola, mas passou as décadas de 1960 e 1970 dedicando-se a um estúdio fotográfico com o seu nome (Studio Malick). Talvez, por tudo isso, ele tenha dedicado-se a retratar os sorrisos malineses, como forma de evadir-se da miséria que assolava o seu povo e de contemplar a beleza daquelas pessoas.

Com câmeras, certamente, rústicas, Malick fotografou o cotidiano da cidade de Bamako, capital de Mali, retratando muito da moda do seu povo. Sem utilizar-se dos ensinamentos bressonianos, afinal trata-se de um retratista de estúdio, ele conseguia deixar seus modelos muito à vontade, a ponto de suas expressões transmitirem que era exatamente daquele jeito que eles queriam estar. As fotos de Malick transformam o colorido africano em preto e branco, algo que eu não conseguia conceber antes de conhecer seus retratos. O colorido da África é algo que realmente me encanta (!), mas o fotógrafo não pôde ou não quis retratá-lo e, ainda assim, suas fotos não me pedem cor e mostram-se exatamente como deviam ser.

sábado, 11 de julho de 2009

"Quem sabe eu ainda sou uma garotinha"

gabi diz:
hoje aprendi uma lição
gabi diz:
não se afaste tanto ao ponto de perceberem que você não faz falta.
Jão. diz:
HAHAHAHAAHAHAHAAHHAAHAHA
gabi diz:
lição do dia: "só caraminhole com amigos, porque os não-amigos podem roubar a sua idéia"
gabi diz:
skdjhskjdhsjkahdsdjks
Jão. diz:
HAHAHHAHAHAHAHHAAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHAA
Jão. diz:
Essa é antiga, viiu?
gabi diz:
outra: se quem eu quero não me quer e quem me quer eu não quero, melhor ficar só.
Jão. diz:
Mais velha que eu e tu.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

“Mas eu não quero ver gente maluca”

Você já imaginou um lugar onde flores pensam que você é uma erva daninha, lagarta faz o estilo fumante-intelectual, um coelho apressado corre porque está atrasado, um gato fica sob sua própria cabeça, chaleiras cantam, urubus são guarda-chuvas, corujas tem pescoço de sanfona, cachorros tem cabeça em forma de vassoura e maçanetas falam? Pode acreditar, esse lugar existe! Pelo menos, em “Alice no País das Maravilhas (1951)”.

Esse é um filme clássico que muitos devem ter assistido quando eram crianças. Entretanto, a interpretação que se tem nesse momento, não é a mesma quando se tem um pouco mais de bagagem intelectual. Pelo menos é o que se espera! Sem dúvida, ter contato com essa obra da Disney é submergir e brincar com a imaginação. Contudo, sem leituras ingênuas, proponho uma visão do filme que busca reconstruir conceitos sem se basear na racionalidade típica das sociedades ocidentais.

Alice é uma garota chateada com sua vida sem grandes emoções. Para ela, sua vida é um livro sem figuras. Acredito que os psicanalistas adorariam ter uma paciente aos moldes de Alice. O filme nada mais é do que arte, certa estética, associada à psique da protagonista (que não é tão protagonista). Ou seja, o que vemos é um determinado imaginário extraído de um sonho, sem necessariamente, importar coisas como, coerência, significados racionais e adequação. O problema – se assim o posso chamar – de Alice está na sua dificuldade em resignificar e recodificar estruturas de pensamento já consolidadas em sua ação, sem, contudo, ter a ajuda de claras passagens cognitivas.

Mas nem pense que nesse mundo surreal – literalmente – há apenas devaneios. O real também está no nonsense (Oscilando entre a "ficção" e a realidade). O encontro de Alice com a lagarta é um deles. Incessantemente, a lagarta pergunta à Alice: Quem é você? Ora, em minha perspectiva, isso pode ser interpretado, na passagem, tanto como um artifício para desqualificar a fala da menina, ou seja, um instrumento autoritário de poder, como uma indagação reflexiva sobre a existência dela. Aqui, o autoritarismo perde espaço para uma ação fenomenológica. A lagarta, na verdade, pergunta à Alice, como é que ela se percebe no mundo. E é a própria inquiridora que dá a resposta ao se transformar em borboleta. E agora eu pergunto, de fato, não somos uma eterna mutação? Não estamos em eterna mudança? Não é isso que somos?

Em um caminho tortuoso, regado a explicações incompletas e conclusões precipitadas, temos um segundo momento que merece destaque. O primeiro encontro de Alice com o gato de Cheshire inicia-se com uma pergunta simples: Qual caminho devo tomar? O gato caminha em uma linha tênue entre loucura e lucidez, é ele que alerta a garota da insanidade dos outros, e dá pistas de como sobreviver neste ambiente. Veja se isso não é a vida real. 1) Estar com os outros, e discordar minimamente deles; 2) Tentar não irritar as pessoas; 3) Elogiá-los; e 4) Se adequar ao local, ou seja, nunca tente inovar muito em circunstâncias estranhas. Seguindo essas quatro regras, você sempre será bem quisto. A seguir, você pode ver um trecho dessa conversa de Alice com o mestre gato. Na cena, além da discussão sobre qual rumo tomar, há também, um processo de desconstrução de raciocínio que o gato promove sobre o possível paradeiro do coelho atrasado.



Mas ainda não é esse o ponto. O mais interessante nesse encontro, é como o gato transmite a ideia de escolha associada a de responsabilidade individual. Se não se sabe qual caminho tomar, é porque não se sabe para onde ir, uma ótima definição para o que chamamos de “indecisão”. A seguir, uma pequena transcrição da conversa que se refere a esse debate que estamos tendo.

Alice: Eu só queria saber que caminho tomar.
Gato: Isso depende do lugar onde quer ir.
Alice: Realmente não importa.
Gato: Então não importa que caminho tomar.

Enfim, para além de um filme infantil, “Alice no País das Maravilhas (1951)” traz bons pensamentos nada infantis. Diferentemente, de outros filmes com a marca Disney, este além do seu pouco ou nenhum comprometimento com a realidade, mostra que para um filme ser bom, não é preciso: 1) Que ele gire em torno de um grande propósito ou dilema, e/ou 2) Que haja uma lição de moral a ser apreendida ao longo dele. Quem não o viu depois de adulto, que o veja! Ahhh, e feliz desaniversário para quem nos lê.

domingo, 5 de julho de 2009

O fabuloso destino de uma digressão de domingo

Em geral, sou bastante receptiva em relação aos filmes nacionais; não quero com isso dizer que gosto de todos, nem poderia, afinal não tenho vocação para major Quaresma. De qualquer forma, é melhor alertar, o quanto antes, para a opinião frágil e facilmente rebatida que tenho sobre filmes, já que não entendo sobre arte cinematográfica e pouco (!) conheço do cinema brasileiro de antes da "retomada". Em suma, não tenho bagagem teórica nem prática para dialogar horas a fio sobre o melhor de Truffaut ou mesmo acerca do grande Glauber Rocha.

O desconhecimento que tenho da cena cinematográfica mundial e brasileira não é premeditado, ao contrário, tento findá-lo, pois me agrada entender sobre o tema. Assim, não escrevo como forma de apologia ao "analfabetismo cinematográfico", de jeito nenhum; contudo, não posso negar esse fato, essa minha condição.

Espero que, com o que eu disse, o leitor não pense que meu filme preferido é O Diário de Bridget Jones, a que assisti com asco no auge dos meus treze anos, para satisfazer a vontade de uma amiga. Explico para não pensarem, equivocadamente, que eu gostei de ver O Poderoso Chefão. Não, não gostei. Sei o quanto dizer isso aos quatro ventos é pedir para ser olhada com ar de desprezo — sobretudo, se você estuda no Centro de Artes de Comunicação — mas não escondo.

Lembro que fui sozinha à locadora, ano passado, pegar a trilogia de O Poderoso Chefão e o balconista olhou-me com uma expressão de respeito, como se dissesse "Escolha perfeita!" Certamente, surpreendeu-se com o fato de uma garota com jeito de treze ou catorze anos interessar-se pelo clássico de Coppola. A expectativa pelo filme era gigante, já que o título é presença garantida no top five dos intelectuais de plantão, e eu odeio a "expectativa cinematográfica", que, em geral, transforma-se em decepção para mim.

Decepção foi o que senti quando o cast subiu. Definitivamente, a família Corleone não me agradou (!). Talvez seja necessário frisar que não considero o filme ruim, nem posso, não tenho argumento para sustentar essa tese; também não posso, contudo, afirmar que gostei, porque a história não chamou a minha atenção. Quando falo isso, dizem que eu não estava num bom dia para ver aquele estilo de filme e que por isso não gostei; pode ser, mas não tenho vontade de revê-lo. E para terminar de frustrar qualquer paquera "intelectualóide", eu não só gostei de Titanic, como chorei todas as vezes que revi (sim, eu revi!).

Bem, existem muitos filmes entre O Poderoso Chefão e Titanic e dentre esses títulos, em alguns, compartilho do mesmo posicionamento dos intelectuais de plantão (livrei-me da fogueira!). Recentemente, por exemplo, gostei muito de O Curioso Caso de Benjamin Button, cujos imperceptíveis e nada enfadonhos cento e sessenta e seis minutos também foram elogiados pela crítica.

Folheando a revista Veja, ontem, deparei-me com a história de um pai, crítico de cinema, que, atendendo ao pedido do filho, aceitou que ele parasse de estudar aos quinze anos. A única condição imposta ao garoto foi que ele assistiria aos filmes que o progenitor indicasse. Assim, toda semana, durante três anos, pai e filho compartilharam experiências cinematográficas. A fim de evitar "tendenciosidades", o pai escolhia os filmes aleatoriamente, bons e ruins, antigos ou lançamentos. Óbvio, que foi uma decisão difícil e bastante arriscada, mas deu certo; o garoto decidiu dar continuidade aos estudos e pretende ser cineasta. A trajetória dessa experiência pode ser lida em O Clube do Filme, livro que há três semanas está entre os mais vendidos na lista da Veja.

A história, que ganhou páginas na Veja desta semana, expressa um pouco a influência que os filmes, bons ou ruins, têm nas vidas das pessoas, tais como os livros. Quem nunca sentiu vontade de viver uma passagem cinematográfica? Inúmeros foram os títulos de filme que serviram para a minha construção. Afinal, algumas cenas, realmente, ficam marcadas na cabeça, como trechos de músicas que nunca esqueceremos.

Hoje, uma cena assim veio à minha mente. Quando assisti ao filme Lisbela e o Prisioneiro, a passagem em que o pai da mocinha dá adeus a ela chamou a minha atenção. O delegado, temendo a prisão da filha, aceita que ela fuja com o Leléu — um malandro sem eira nem beira — e despede-se de Lisbela com um grito que nunca esqueci, algo como: Vá e seja feliz! (Na verdade é "Vááááááá e seja filiiiiiiiiiiiiiiiiiix"). A cena marcou-me pelo notório estado de tristeza que ele fica com a partida da filha e, principalmente, pelo amor expressado em tal frase.

O amor é um sentimento tão forte que é capaz de renunciar a presença, ainda que ela seja muito triste, em prol da felicidade de quem se ama; tal despedida expressa exatamente isso e, assim, encanta-me profundamente. Bem, recordei-me dessa cena porque um querido amigo está de malas prontas para viajar. Hoje foi a despedida dele e foi nítido perceber o mesmo amor do pai de Lisbela em cada uma das pessoas presentes, pois ainda que a dor seja grande, o que mais queremos é a felicidade dele.

Eu nem sabia!

Um dia desses, conversando, falaram-me sobre O Divã, de Roberto Carlos. Não me recordo o motivo que trouxe essa canção à conversa, mas a citavam como uma música que remete à infância de quem a escreveu. Explicaram-me as analogias e as metáforas, mas eu não entendia. Posteriormente, soube do acidente que o cantor sofreu quando era criança e acarretou na perda de uma de suas pernas. Confesso que faz um tempo que me contaram isso e eu ainda estou sem acreditar. Não que isso não possa ter acontecido, o fato que me deixa perplexa é ter vivido vinte anos e nunca (não que eu lembre) ter ouvido uma só palavra sobre o assunto, afinal Roberto Carlos é um homem público e famoso no país todo (um rei!). A pergunta é: onde eu morei esse tempo todo? Enfim, acho que isso não é novidade para ninguém, já que, quando me contaram, ficaram surpresos por eu não saber; escrevo, então, pelo tamanho estado de perplexidade que fiquei e (por que não?) pelo exemplo de superação que essa história representa.

sábado, 4 de julho de 2009

Rondando

Esta semana fiz minha primeira "ronda jornalística". Lá estou eu, discando os números telefônicos e torcendo para alguém atender do outro lado de linha. Isso porque é comum não atenderem; muitas vezes estão em horário de almoço ou a linha está ocupada. Bem, liguei para um celular — às vezes é melhor recorrer direto ao assessor responsável — e dei início ao diálogo:

— Olá, Z. Aqui é Gabriela [...]. Gostaria de saber se houve alguma ocorrência na manhã de hoje [...].
— Oi, Gabriela. Eu não posso te informar nada, não estou mais na empresa.
— Ah, ok, então.
— Ligue para o número XXXX-XXXX, que vão poder te passar essa informação.
— Certo, Obrigada [...].
— [...]

Ou seja, o mailing estava desatualizado e essa pessoa não trabalha mais para a empresa Y.

No fim da tarde, buscando uma informação específica para escrever uma nota, liguei para a empresa Y novamente. Um senhor muito educado atendeu e disse que não podia responder o que eu estava perguntando. porque não estava por dentro do assunto e sugeriu que eu ligasse para Z. Então, expliquei a ele que Z havia me dito, mais cedo, que não estava mais na empresa. Ele ficou bastante surpreso.

— Nossa, mas eu falei com Z hoje. Será que ele foi demitido agora de manhã?
— Não sei [...].
— Poxa, vou ligar para ele e tentar descobrir alguém para te dar essa informação.
— Certo [...].

Depois este homem telefonou para mim e explicou que quando Z disse que havia deixado a empresa, referia-se ao horário de almoço, que tinha saído para almoçar, apenas. Logo, o mailing estava correto, a informação que estava imprecisa.

Moral da história: Houve falha na comunicação.

Em seguida liguei para Z, que me informou o que eu precisava e, no final, perguntou do equívoco. Eu expliquei o que entendi, pedi desculpa e tudo ficou esclarecido.