sábado, 13 de dezembro de 2008

A cortina de ferro à moda brasileira

Em 13 de dezembro de 1968, ou seja, há exatamente quarenta anos, era promulgado o Ato Institucional número cinco, o famoso, AI-5. Neste ano, voltaram a ocorrer mobilizações contra o governo militar, sobretudo, entre operários e estudantes. Duas greves marcaram as manifestações operárias e os estudantes também saíram em marchas pela redemocratização. Numa dessas, o estudante Edson Luís fora morto.

Para conter as manifestações de oposição, o general Costa e Silva decretou o AI-5, que dava poderes ao presidente para fechar o Congresso, as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais. Além de poder cassar mandatos de parlamentares, suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer pessoa, demitir funcionários públicos, decretar estado de sítio, e suspender garantias judiciais, como o habeas corpus, nos casos de crime contra a “segurança nacional”.

Desta maneira, o regime fechava todas as chances de expressão e oposição popular ao governo. Assim, a cortina de ferro à moda brasileira se constituía, estabelecendo um episódio de isolamento e extrema repressão, com relação a participação e mobilização política e cívica. Com o AI-5, a ditadura entrou em sua fase mais cruel, com perseguições, prisões, tortura e morte de opositores.

Após quarenta anos, esse é um tema que sempre deve emergir do imaginário social. Este é um dos papéis da História, fazer surgir questões que não devem ser repetidas, além de contribuir para uma reflexão crítica. Mesmo vivendo em um Estado democrático de direito, ainda que formalmente, é fundamental que esta data, e o que ela significou para uma geração, seja sempre lembrada, e o seu significado debatido.

*A imagem é uma adaptação minha, de uma famosa litografia do escultor estadunidense, Richard Serra. O original faz menção ao governo Bush, e ao invés de AI-5, tem escrito STOP BUSH.

**A parte histórica do texto foi construída a partir do Livro – Cidadania no Brasil, o longo amanhecer – do autor – José Murilo de Carvalho.

7 comentários:

Unknown disse...

Quanto a imagem , lembrei-me de Goya retratando também tempos de repressão e tortura ...

Santiago. disse...

q novidade vc por aqui.. muito boa a sua passagem.. faça disso uma rotina! qnt ao seu comentário, é verdade, Goya tb n passou por bons momentos, aconselho q vc assista ao filme: "Sombras de Goya". Não é um filme sensacional, mas retrata o período q ele viveu.. vale a pena.

abração.

Unknown disse...

Já assisti , no começo o filme é bom mas o roteiro se perde no fim ... enfim , farei uma presença mais assídua aqui ...

abraço :)

Dio disse...

Pra mim 13 de dezembro é aniversário de Luiz Gonzaga. haahahahsuheaha

No mais, belíssimo texto, Rodrigo. E boa lembrança. Boa no sentido de sua importância, e não de suas potenciais conseqüências.

Abraços,
Diogo.

Girabela disse...

"Dormia a nossa Pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações."

Fiquei bem feliz em poder ler aqui no meu blog sobre o tema, posto que estava pensando em divagar sobre ele. Parabéns pela iniciativa, Rodrigo.
No mais, recomendo um link, cujo texto retrata de forma bem prosaica como era a vida, principalmente dos jovens, durante o regime militar, contando vários temas, desde os ídolos musicais à morte de Edson Luís.
*http://www.culturabrasil.pro.br/ditadura.htm

E para encerrar meu comentário, ponho uma "piada" (que tá no texto do link) sobre a época, com a vontade imensa que dias assim não voltem nunca mais.

"- O que você acha da situação atual?
- Eu não acho nada! Tinha um amigo que achava muito e hoje ninguém acha ele! To fora!"

Girabela disse...

AAH, esqueci:

Parabéns pela adaptação.

Santiago. disse...

Sempre quando se fala sobre temas relacionados a repressão ou regimes de exceção, seja no Brasil, ou não, pensamos na questão de uma juventude ativa versus outra passiva. A primeira característica de um momento de repressão, agitação, e a segunda, reflexo de uma sociedade já livre e com os direitos básicos já reestabelecidos.
Porém, para mim, este dilema, ou escolha não existe. Sem dúvida, prefiro a segunda, não pela sua juventude especificamente, mas pelas possibilidades que surgem. Viver em um sistema repressivo, dificulta mais um pensamento coeso, do que uma juventude alienada.
No mais, é cada vez mais comum, nas sociedades modernas, encontrar pessoas não-dispostas a sacrificar as próprias vidas em pró de uma causa pública ou universal. Acho esse tema relevante, e depois pretendo dissertar sobre isso.

abraço.