terça-feira, 22 de julho de 2014

Sim, ganhamos

Está na fala do ex-jogador argentino Diego Maradona, mas acredito que esse é o sentimento de muitos turistas que vieram ao Brasil para assistir aos jogos da Copa do Mundo de 2014: "O que se pintava é que seria um caos. Parecia que teríamos de comprar uma arma ao desembarcar por aqui, mas não foi nada disso".
Sabe-se que, por motivos políticos, descrença ou puro pessimismo, muitos brasileiros desacreditaram o mundial. Não faltaram previsões de que passaríamos um grande vexame diante dos visitantes. O vexame até existiu, mas por motivos exclusivamente futebolísticos, que não vêm ao caso agora.
A má expectativa acerca da sede desta Copa do Mundo também veio de fora. Às vésperas do mundial, os governos de diversos países elaboraram e distribuíram cartilhas que, ao meu ver, mais alarmavam do que alertavam as pessoas dispostas a acompanhar as suas seleções na competição no Brasil. Enumeravam-se vários problemas que poderiam ser encontrados aqui, chamando atenção, principalmente, para a infraestrutura e a questão da violência, inquestionáveis problemas brasileiros.
É possível que o recado tenha sido exagerado e, talvez por isso, agora surjam comentários como o de Maradona. Sem falar que passamos a copa inteira observando, in loco ou pela TV, torcedores e jogadores das mais diversas bandeiras manifestando seus encantos pelo nosso país. Ao que parece, vir ao Brasil foi uma surpresa positiva para gente do mundo inteiro.
Para quem é daqui também foi uma experiência interessante observar tudo isso. Às vezes somos desconfiados, teimando em não acreditar no nosso potencial. Assim, foi bom ouvir dos outros que temos muito do que nos orgulhar. Ao sediar um evento para os quatro cantos do mundo, percebemos que nossas belezas naturais e artísticas encantam os estrangeiros oriundos dos lugares que imaginamos impecáveis e, principalmente, descobrimos que nosso jeito de ser é admirado por pessoas de nações que invejamos.
A Copa do Mundo de 2014 foi uma boa oportunidade de nos valorizarmos mais. Afinal, somos um povo cheio de virtudes. Muitas vezes, não percebemos isso, seja pelo afamado "complexo de vira-latas" ou por nunca termos tido a oportunidade de enxergar o Brasil a partir de um olhar mais distante.
Nas redes sociais, circula uma lista elencando coisas simples do nosso dia a dia que encantaram muitos turistas. Claro que não é apenas cultivando o hábito de aplaudir o pôr-do-sol, citado na tal lista, que melhoraremos o País. É preciso muito mais, desde consciência cidadã até vontade política. Contudo, será importante para esse percurso de desenvolvimento a aquisição de uma autocrítica menos cruel com nós mesmos e mais antenada com o mundo.
Por fim, acredito ser possível dizer que, se não nos engrandeceu enquanto torcedores ansiosos pelo hexacampeonato, esta copa nos serviu de grande lição como povo brasileiro. Que sigamos, cientes das nossas limitações, mas também orgulhosos das nossas qualidades.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Vai que é tua, Brasil!

Estamos a poucas semanas da Copa do Mundo 2014. Há alguns anos, imaginei que estes dias seriam bem diferentes. Sinto falta de mais verde e amarelo, de mais bandeiras, de muros pintados e de felicidade. Ao menos é assim que costumo lembrar das vésperas das copas anteriores. Em particular a de 1994, que não sai da minha cabeça. Lembro de bastante coisa para alguém que tinha apenas cinco anos. Não me esqueço, por exemplo, de que cheguei a escrever uma cartinha para Dunga. Por algum motivo (este, sim, não lembro), o capitão era o meu jogador predileto naquele time inesquecível. Aquela era, oficialmente, a minha primeira copa. De 1990, não recordo nada.
Apesar dos 24 anos sem conquistar títulos (ou por causa disso), em 1994, notei mais entusiasmo nas ruas, ao menos no Recife, minha cidade. Diversos estabelecimentos comerciais e marcas distribuíam tabelas com os jogos da copa. Até colecionei. Depois elegi a mais bonita para marcar os resultados. Nas ruas, era incontável o número de carros que carregavam a bandeira brasileira flamulante na janela. Na escola, a professora (4ª série) mobilizou toda a turma para montar um mural com as bandeiras das seleções participantes. Coube a mim, pintar a Dinamarca. Os muros também estavam pintados de verde e amarelo. Hoje, em contraste, noto certa apatia, apesar de a Copa 2014 ser no nosso quintal.
Claro que a minha visão acerca de 1994 pode estar superdimensionada, afinal, como disse, tinha apenas cinco anos. Depois que a cresci, percebi que a casa de vovó não é tão grande quanto imaginava na minha infância, por exemplo. Sem falar que aquela Copa mexeu demais comigo. Tudo novo e muita emoção. Aprendi sobre prorrogação e pênalti. E que pênaltis aqueles da final! É verdade que detalhes pequenos (!), como regra de impedimento, só aprendi anos depois. Enfim, 1994 é mais especial para mim do que 2002, mesmo com todos os "R" em campo. Taffarel é um ídolo até hoje (inclusive porque joguei como goleira no time da faculdade).
Dos jogos mesmo, lembro muito pouco. Recordo que achei engraçado o nome "Camarões" e o apelido "Laranja Mecânica", alguns dos adversários do Brasil. Só lembro uns flashes desses jogos e, claro, da (incrível) final. Recentemente, revi o duelo contra os italianos. É aquela mesma história sobre a casa de vovó acima, percebi que a seleção não era tão espetacular assim. Mas, se faltava técnica, sobrava garra. E amor. A união e sintonia entre os jogadores era realmente contagiante. E isso até hoje me emociona. A final foi de ameaçar os cardíacos de plantão. A bola não queria entrar de jeito nenhum! Eu não entendia direito como funcionava os pênaltis, mas ficava aflita a cada cobrança. Agradeço demais a Roberto Baggio por ter encerrado aquilo da melhor forma possível. No dia seguinte, fiquei desfilando na rua com uma bandeira do Brasil de plástico, brinde de um jornal local.
Somente há dois anos, conversando com um amigo italiano, descobri que Baggio era ídolo. Muitos garotos italianos aderiram ao seu look na época, à semelhança do que fizeram aqui em 2002, imitando o cabelo à Cascão, de Ronaldo Fenômeno. Sempre me coloquei no lugar do jogador italiano, refletindo acerca da tristeza de ser, ainda que injustamente, a principal lembrança da derrota da Itália naquele ano. Outro fato que só me dei conta (muitos) anos depois, revendo vídeos, foi a homenagem a Ayrton Senna. Afinal, em 1994, ganhamos um título, mas perdemos um ídolo.
Se adoro forçar a memória para lembrar da conquista do tetracampeonato, não preciso me esforçar para esquecer 1998. Não sei se em função do desfecho, mas realmente lembro pouco dessa Copa, embora a partida entre Brasil e França, claro, seja difícil de esquecer. E de engolir.
Em 2002, o Brasil se reergueu com o obstinado Felipão. Mesmo sem Romário. Não faltaram televisões ligadas e a "lei do silêncio" foi rompida. A torcida não parava nem de madrugada.
Enfim, nasci numa época em que Copa virou, praticamente, sinônimo de "Brasil na final", ainda que nem sempre campeão (malditos franceses!). Fiquei mal acostumada. Sofri nas Copas seguintes com a ausência das cores verde e amarela nas finais de 2006 e 2010. E me enchi de esperança quando descobri que, em poucos anos, o Brasil jogaria no Brasil a próxima Copa do Mundo. Não recordo quando me dei conta disso, mas os planos foram muitos desde então. Meu desejo era ver todo o espetáculo de perto e, principalmente, sentir a mobilização de todo o País para esse grande evento.
Eis que chego no hoje e encontro um cenário diverso dos sonhos. Afinal, a seleção não jogará tão no meu quintal assim. Para ver o Brasil jogar, precisaria me deslocar, no mínimo, uns 700 quilômetros. O jogo mais próximo ocorrerá em Fortaleza, onde encontraria hospedagem por preço elevado, se me dispusesse a pagar por passagens de valor considerável. Lógico que a Copa não é para todos. E não seria diferente justamente no Brasil, um país repleto de desigualdade. Mas o que me entristece não é isso.
Frustante mesmo é não ver hoje o que elenquei no primeiro parágrafo deste texto, cheio de tergiversações e memórias. Os brasileiros não estão satisfeitos com a forma como as coisas foram conduzidas, com os elevados e inflacionados (!) gastos com os estádios. Também entristece a nação observar que os estrangeiros questionam (com razão) a infraestrutura que temos para oferecer. Os governos de seus países promovem alertas sobre a falta de segurança no Brasil. Os turistas têm medo de vir para cá. Contudo, imensamente mais duro é perceber que nós, brasileiros, temos cada vez mais medo por viver aqui. Cadê o verde e amarelo nos muros e as bandeiras nas ruas? E, principalmente, cadê a felicidade de estar sediando o que poderá se traduzir no hexacampeonato da seleção brasileira? Que as reflexões acerca do momento que estamos vivenciando no País e as ações efetivas para solucionar tudo isso sejam o grande troféu que conquistaremos nesta Copa. Vai que é tua, Brasil!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

"Assim não pode, assim não dá"

Estava aqui sem muito o que fazer nesta tarde, então resolvi procurar uns documentários no site do Senado Federal. Lembro que, há bastante tempo, era assídua à programação postada lá. Inclusive, vale a pena dar uma olhada. Tem bastante coisa interessante, como um documentário sobre O Pasquim, por exemplo, e algumas outras coisas que, realmente, soam como aula de História, como o que acabei assistindo: "Presidentes do Brasil", série de três episódios. A narrativa é sobre uma época em que eu não sonhava em existir até alguns anos recentes, dos quais não me recordo muito, de Prudente de Moraes a FHC. Sucedendo Floriano Peixoto, Prudente de Moraes foi o primeiro presidente eleito pelo voto direto no Brasil. Mas isso faz bastante tempo. Depois dele, tantos outros ascenderam ao poder - no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, ou mesmo em Brasília. Tudo o que sei sobre eles é aquilo que li nos livros ou ouvi falar. No governo de José Sarney, eu já estava pelo mundo, mas sem consciência nenhuma do que se passava pelas bandas do Palácio do Planalto. Sequer posso dizer muita coisa sobre o "collorido" que manchou o Brasil, por exemplo. Último presidente a ser retratado na série, Fernando Henrique Cardoso assumiu o primeiro mandado em 1995. Com seis anos de idade na época, tenho quase nenhuma lembrança disso. Lembro, contudo, da experiência vivida um ano antes com a chegada do Real, no governo de Itamar Franco. Claro que a lembrança é rasteira, mas o impacto do Plano Real e o trabalho dos jornalistas, que falam incessantemente sobre um tema até um fato novo acontecer, foram capazer de produzir alguma memória sobre esse episódio na minha cabeça. De qualquer forma, a questão que fiquei refletindo após assistir à mencionada série é que nem mesmo lembro de FHC no poder. Para mim, devido à minha idade, o Brasil sempre foi governado por um petista. Para se ter uma ideia, as lembranças mais fortes que tenho do ex-presidente tucano é a sátira que fizeram sobre ele no Casseta e Planeta, com o bordão "Assim não pode, assim não dá". As informações existem, mas, diferentemente de ler, vivenciar o dia a dia de um governo é algo que permite um maior entendimento sobre as decisões e intenções de um presidente. Como já disse, desde que me entendo por gente, politicamente falando, a batuta do País está com o PT. Filha da década perdida, minha geração começou a votar na época do "Lulinha paz e amor". Fiquei com um pouco de inveja dos mais velhos, que têm um leque maior de vivência política e podem analisar o hoje com maior propriedade. Mas chegarei lá.

domingo, 23 de setembro de 2012

Novos já velhos

Apesar de não ter sido tão instigante quanto ouvir as tantas músicas do disco Acabou Chorare - cantadas ontem por Moraes Moreira -, um comentário antes do show me deixou pensativa. Não pelo seu ineditismo, porque essa batida já ecoa há anos. Mas porque tenho andado muito nesse ritmo. Alguém comentou sobre a juventude de hoje estar curtindo o som dos jovens de outra geração, a exemplo de Os Novos Baianos. Curiosamente, não foram meus pais que me apresentaram as (boas e) velhas canções que escuto hoje, mas amigos. Não, não faço parte da corrente que diz que a música tem perdido a sua qualidade ao longo dos anos. Inclusive, esse foi o tema de um recente estudo divulgado. Ao contrário, eu não tenho qualquer base científica nem mesmo certeza para afirmar o que digo agora, mas acredito que há muita gente fazendo música boa e acho bastante simplista o argumento de que hoje só querem tchu e tcha e afins. Volta e meia, escuto coisas novas bem legais. Meu caso com os "velhos" não tem a ver com isso. Também não me considero integrante do grupo "Nasci na época errada". Meu diagnóstico é outro, menos nobre, talvez. O caso é que não costumo procurar novos sons. Enquanto os velhos me satisfazem, fico com eles. E estou satisfeita. Admiro as pessoas que estão por dentro do que ainda está sendo feito nos estúdios, mas não sou uma delas. Até porque tenho mania de passar semanas (!) ouvindo o mesmo CD ou até mesmo a mesma música, cerca de 20 vezes ao dia. E não é exagero. Love Songs, de The Beatles, confirma isso. Obsessão à parte, é possível que esse seja o equívoco dos saudosistas: não tirar o bolachão da vitrola. Mas eles também estão com a razão, ao defender a beleza do Acabou Chorare, que há 40 anos esquenta os nossos pandeiros. E, como disse Moraes, "é lindo ver a juventude comemorando isso", reconhecendo a grandeza desse álbum, que integra a minha listinha de desesperadamente ouvidos. E, confesso, me derreto toda só porque eles são baianos.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Trabalhar pra viver ou viver pra trabalhar?

Aqui numa sala gelada e sem afeto, preciso confessar: morri de inveja agora do meu entrevistado. Ele trabalhou em Suape, de 2000 a 2005, e ficou morando em Porto de Galinhas durante todo esse tempo. Disse que sempre curtia muito a praia. mergulhando e tal. Também ia para Maracaípe surfar e pescar. Velejava no Rio Serrambi e fazia trilha pelos matos. Na verdade, ele nem sempre morou em Porto. Nos primeiros oito meses, ele morava em Maracaípe, numa barraca de camping. É que ele é de Natal e tinha sido transferido para cá. Passava a semana aqui e voltava para ver família no fim de semana (de moto, com mochilão nas costas, prancha de surf de um lado e barraca do outro). "Como estava longe da família, trazia a prancha como passatempo." Depois, ele ficou morando em Porto com a mulher e três filhos (todos meninos) pequenos. As crianças adoravam tudo. Sempre em contato com a natureza, pescando e tudo mais. Em 2001, ele voltou para Natal. Os meninos ficaram tristes, mas depois se acostumaram. E foi bom para a educação deles, já que por perto de Porto não teria uma boa escola. Hoje, um deles estuda na Espanha. Em Natal, ele tem uma casa super da natureza, cheia de árvores frutíferas (jabuticaba, cajueiro, bananeira...). "Tem até um morangueiro, que é da minha netinha de 4 anos." A casa é bem rústica mesmo, de tijolo aparente e tem até um poste de eucalipto por onde ele desce do primeiro andar todo dia! Ele trabalha no gasoduto, passa o dia percorrendo trilha no carro da Petrobrás e tals. "Fico trabalhando e curtindo a natureza!" No fim de semana, ele vai para Baía Formosa, onde tem casa na praia. Conferi no Google, e a praia é bem bonita. Ele garantiu que não é tipo Porto de hoje! Tem pouco turista e é um lugar bem tranquilo com reserva de Mata Atlântica. Lá, ele pratica motocross no mato! Tipo, não que eu quisesse ter, necessariamente, a vida dele. Até porque não me imagino percorrendo BR de moto de Natal a Pernambuco. Mas ele parecia tão feliz com o que faz, sabe? E, pelo que disse, tem tanto tempo livre para curtir tudo. Sei que estou parecendo uma louca, mas sei lá. Acho que fiquei meio reflexiva com uma frase que li ontem no Twitter. Estou com a sensação de que sou mesmo maluca.



domingo, 29 de abril de 2012

Domingo no parque

Fim de tarde ensolarado - o que tem sido raro por aqui, mesmo com a primavera -, eu conversava com um garoto português, 25 anos, universitário. Estávamos num parque. Ainda não sei ele é uma exceção, mas me impressionei bastante com o que disse. Nada de "date". O parque serviria mesmo como palco de mais uma das minhas "experiências antropológicas" pelas bandas de cá. Antes de contar sobre o que conversamos, vou voltar um pouco no tempo e falar sobre a expectativa que eu sentia, ainda no Brasil, sobre como os portugueses enxergam a colonização que fizeram na minha terra natal. Imaginei que a versão deles sobre o massacre aos índios, o tráfico negreiro e o rapto do nosso ouro seria bem mais branda do que a aprendida nas nossas aulas de História do Brasil. Mas, mesmo assim, ainda me surpreendi. Concordo com ele que, enquanto povo, somos quem somos graças a Portugal. Até porque nossa cultura e nossa origem remontam também a esse país. Inegável. Mas daí a dizer que a colonização portuguesa foi a mais respeitosa do mundo é bem discutível. Comparar o que ocorreu no Brasil com o processo de domínio realizado pela Espanha nos países da América também não é um bom argumento para validar essa tese. É sabida toda a destruição sofrida pelas "civilizações pré-colombianas". Mas eufemizar o que foi feito contra os índios no Brasil é um tanto ingênuo (!). Ouvir que os portugueses respeitaram a "inaptidão indígena para os trabalhos na lavoura" me soou muito mal. Dizer que a predileção pela escravidão negra se deu pelo fato dos índios preferirem dormir em rede a trabalhar, enquanto que os africanos tinham essa aptidão, me parece de uma ignorância sem tamanho. Como se alguém pudesse estar apto a escravidão e como se ninguém preferisse "dormir em rede" a ser escravizado. Não é preciso muito esforço para entender que a opção de Portugal pelo trafico negreiro foi econômica. Nada tinha a ver com respeito ou preguiça. Falei "ingênuo" acima porque essa informação foi recebida pelo garoto como novidade. Imaginei que o problema estava no que as escolas daqui ensinam sobre o que ocorreu lá. Aquela coisa de existirem versões e versões sobre um mesmo fato histórico. Durante muito tempo, por exemplo, as elites dominantes brasileiras fizeram (ou ainda fazem?) valer a sua versão nos ensinamentos dados nas escolas. Contudo, há de se ponderar que eu e você tivemos conhecimento, na escola, sobre as atrocidades (e foram muitas!) praticadas pelo Brasil durante a Guerra do Paraguai, para citar o exemplo concedido por um amigo brasileiro com quem comentei o diálogo do parque. Sabemos até que a população masculina paraguaia foi quase toda dizimada durante o confronto (falam de 80 a 95% de mortos nessa população). Temos tanta noção do que ocorreu de 1864 a 1870 no Paraguai que muitos utilizam essa guerra como argumento contrário à abertura dos "documentos sigilosos", prevista pelo Projeto de Lei Complementar nº41/2010. Como já disse, não sei se esse desconhecimento do garoto é uma exceção entre os portugueses ou se realmente é assim que a expansão de Portugal no além-mar é ensinada nas escolas daqui. Vou buscar a resposta. Nossa conversa, ainda bem, não terminou em briga. Ainda no parque, diante de tanta polêmica, passamos a falar sobre pastel de nata, esse sim é, indiscutivelmente, delicioso.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Jantar português

Portugueses são maníacos por jantar. Tudo é motivo para cozinhar para os amigos e beber com eles, principalmente. Ontem, fui iniciada nessa tradição! Única brasileira num grupo de 17 jovens portugas, aprendi algumas coisas não tão nobres sobre a cultura lusitana. Por exemplo, quem disse que somente no Brasil se inspira, respira e expira sexo?! O brinde das meninas de cá é o mesmo que, volta e meia, se ouve abaixo da linha do Equador:

"A nós, a eles e a nós em cima deles!"

Tudo sem nenhum constrangimento. Afinal, por baixo daquela capa de Harry Potter, existem garotas (ou devo dizer 'raparigas'?) tão divertidas quanto no Brasil. E, levemente ébrias, elas se soltam mesmo e bebem com muita animação. Inclusive, mais do que costumo observar do lado de lá do Atlântico, aqui são elas que propõem o pênalti (Hã?). É que, antes de tentar esvaziar o copo de uma só vez, os português não gritam "Vira, vira, vira" ou, como dizem alguns amigos, "al-ça-pão!". Em Portugal, beber até o fim é isso, "fazer um pênalti". E o ritual é iniciado com uma musiquinha engraçada:

"Se (fulano) quer ser cá da Malta, tem que beber esse copo até o fim, até o fim. E vai acima e vai abaixo e vai ao centro. E vai a dentro e vai a dentro e vai a dentro."

Achei um vídeo que mostra mais ou menos como é:


O "cá da Malta" é equivalente ao nosso "ser da galera". E as meninas ainda costumam gritar "Sexo!" em seguida do "vai ao centro". Eles se divertem bastante cantarolando e vendo cada um dos amigos da mesa fazer o pênalti (Não fiz desfeita). O curioso é que eles fazem isso bebendo algo semelhante ao "suco gummy", mas usam vinho branco em vez de vodca.

Depois do jantar, que termina por volta de meia-noite, é hora de sair para dançar. Todos vão em busca da melhor discoteca - e não 'boate', palavra que eles costumam associar a bordel. E o resto da noite fica por conta das sangrias ou dos finos (chopes), ao custo de, no máximo, 1 .

quinta-feira, 8 de março de 2012

Um mês de saudade

Parece que foi ontem Gabriela chorando tanto com medo do desconhecido que encontraria cá em Portugal. Agora já começa a ficar com medo das lágrimas na despedida desta terra. Cada dia mais é um a menos, afinal. Num instante, ela se apegou ao que descobriu do outro lado do Atlântico. Quem diria?! E confessa que tudo começou a ficar bom mesmo depois do batismo de absinto com licor pêssego.



segunda-feira, 5 de março de 2012

Dentes fortes e sem cárie

Para além da fama de não serem muito afeitos a banhos, o que se pode justificar com o frio (sobretudo no inverno), os europeus parecem se destacar por outra característica no hall da higiene: economizar a escova de dentes. Ao menos foi o que destacou uma mineira residente em Portugal há pouco mais de sete anos. Ela entrou em um dos banheiro da Universidade de Coimbra assim que comecei a escovar os dentes e, de pronto, perguntou: "Você é brasileira, né?" Confesso que a descoberta dela não é exatamente incrível, mas fiquei curiosa para saber quais os indícios para esta conclusão, até porque eu ainda não estava certa da sua brasilidade. Ela disse que o fato de escovar os dentes me denunciou. É bem verdade que, ao longo desse primeiro mês em terras portuguesas, não vi ninguém (!) fazendo o mesmo, mas podia ser apenas coincidência. Em seguida, ela também começou a escovar os dentes. Não sei se é cultural, se eles têm vergonha de escovar os dentes em público nem se eles acham esquisito quem o faz. Mas tenho que admitir que, ainda assim, o sorriso deles é Colgate.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Além mar

Tá certo que não foi exatamente depois de um longo inverno, mas cá estou novamente. Desta vez, do outro lado do Atlântico. Hoje faz exatamente duas semanas que saí do Recife rumo a Lisboa (e depois Coimbra, onde tenho passado bastante frio). Parece que já faz bastante tempo. Contudo, ainda não me adaptei ao mundo português, que carrega certa "frieza" até nas relações interpessoais. É possível perceber um pouco disso antes mesmo de desembarcar nas terras lusas. Os e-mails respondidos sempre com o estritamente necessário e finalizados - quando muito - com um "atenciosamente" são alguns exemplos. Mas os portugueses tratam de se justificar: "O pessoal não é frio não. Você está em Portugal, meu bem. É assim mesmo. Cada um faz sua vida sem se importar com as outras pessoas". Talvez isso explique o sorriso de alívio de um rapaz guineense ao ouvir que sou brasileira.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

É chegada a neve

A cidade se enche de luz, os supermercados ficam repletos de árvores e os panetones brotam das prateleiras. É tempo dos Papais Noéis de plantão tirarem as barbas do baú e das pessoas ensaiarem bondade. Coisas do “espírito natalino” de que tanto se fala nesta época do ano. Os shoppings ficam ainda mais insuportáveis, as passagens aéreas passam a custar pequenas fortunas e os perus morrem de véspera. A incandescente quantidade de pisca-piscas aumenta o lucro da Celpe, enquanto a Perdigão aposta na “invenção” de uma nova ave – chester – para engordar o faturamento. Rolos e rolos de papéis de presente são fabricados para virar lixo segundos depois, sem falar nos descartáveis, frequentemente utilizados. Tudo pronto? Comprometeu o cheque-especial? Devorou o 13º? Então, Feliz Natal! Na sala, o papo é o mesmo do ano anterior. Nem os comentários mudam, algo entre “Nossa, como fulano cresceu!” e “Você está mais magra!”. (Falsos?) Elogios à comida e aos figurinos não faltam. Mais entediante somente os replays infindáveis de Jingle Bell e We Wish You a Merry Christmas. As crianças ainda se divertem, mesmo que ludibriadas sobre a existência do bom velhinho. Mas, como não vêem trenó, renas e neve, pensam que talvez no Polo Norte o Natal seja mais divertido. No fim da noite, já em casa com os presentes recebidos, muitos só pensam no melhor dia para enfrentar filas e trocá-los. Afinal, se encontrando apenas uma vez por ano, dificilmente dá para acertar o presente.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Jornalismo baseado em fatos reais

Nada é mais brochante para jornalistas do que cobrir um fato que simplesmente não existe, a popular “pauta que não rende”. Para quem (tem sorte e) não é do mundo jornalístico, talvez, essa frase não esteja perfeitamente clara. Explicando, de uma forma bastante sintética, tais missões inglórias ocorrem em duas situações: (1) quando a matéria é “indicada” pelo dono do jornal ou (2) quando se trabalha numa assessoria de comunicação. No primeiro caso, a desventura é algo mais eventual; já no segundo, parece rotina. Na faculdade ­­– ainda nas cadeiras introdutórias –, os professores ensinam os famosos “Critérios de Noticiabilidade”, que integram a parca bagagem adquirida nos quatro (e torturantes) anos do curso de Jornalismo. Com o tempo, se o foca for esperto, perceberá que teoria e prática são coisas distintas. Fora das CNTP, a questão ideológica e financeira costuma falar alto demais. Nas assessorias, por exemplo, só há um critério: o que é bom para o cliente (!). Na caça dessas pautas, os assessores assumem desafios dantescos. Cabe a eles transformar entrevistas sem conteúdo e coletivas infrutíferas em textos com apenas uma função: agradar e promover a clientela. Tudo baseado no real, mas com pouca verossimilhança. Sem contar as cenas incrivelmente bizarras que presenciam e os “detalhes” que lhes aconselham a omitir. Um dia se irritam e batem a porta.

sábado, 28 de agosto de 2010

Verborrologia

Pela sexta vez este ano, o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou em Pernambuco nesta sexta-feira (27). Além das inaugurações de obras nas cidades de Caruaru e Ipojuca (Suape), a visita teve caráter político, com a realização de comício no Centro do Recife. No palanque, a candidata à presidência, Dilma Rousseff (PT), e demais políticos da Frente Popular - Eduardo Campos (PSB), candidato à reeleição como governador, Humberto Costa (PT) e Armando Monteiro Neto (PTB), postulantes ao Senado, além de deputados estaduais e federais. Alardeada pela constatação de que essa, provavelmente, é a última aparição de Lula no Estado como Presidente da República e instigada pelo entrave histórico entre Eduardo Campos e o candidato pela coligação Pernambuco Pode Mais, Jarbas Vasconcelos (PMDB), fui ao comício. Lá pude perceber a força política de Lula na emoção das pessoas, todas disputando espaço para ver, ao menos de relance, o presidente. Claro que também havia os militantes de última hora - contratados para balançar bandeiras e distribuir santinhos -, mas era possível distingui-los dos verdadeiros petistas, que pareciam maioria. Esses enlouqueciam a cada frase proferida em favor do líder do PT, que chegou ao Marco Zero com semblante bastante cansado. Em oposição à idéia de que os brasileiros são apáticos com a Política, vi eleitores - conscientes ou não - tão envolvidos com o comício que, num momento de distração, logo pensaria estar em mais um tradicional show no Centro do Recife. Lula, num tom característico, criticou a oposição ("picaretas"), pediu apoio para os candidatos da Frente Popular e disse que só com Dilma o Brasil continuará a crescer. A candidata, por sua vez, discursou em tom diverso, pareciam falar para públicos distintos, ainda que estivessem em sintonia. Apesar dos empurrões, a experiência de presenciar um comício foi importante, pude perceber a reação das pessoas aos discursos e o apelo dos políticos, que, do palanque, coordenavam o movimento das bandeirolas hasteadas no meio da multidão.

Nossa!

De um tempo para cá, tenho me dado conta do quanto eu ando refletindo acerca das minhas concepções. Digo, mais especificamente, em âmbito "sentimental", ainda que a angústia no plano profissional tenha sido cada vez mais latente. Acredito que em cerca de dois anos diversos pontos de vista que eu possuía a respeito das relações e dos sentimentos sofreram significativa mudança. O processo de reflexão foi desencadeado por uma sucessão de acontecimentos, em geral, negativos, caso se realize uma análise superficial deles. Em contrapartida, essa explosão de pensamentos também foi inspirada em momentos muito descontraídos, tipo conversas de mesa de bar. Papos que, talvez, nem tivessem relação direta com "relacionamentos", mas que me fizeram até conhecer mais sobre mim mesma. Uma discussão sobre Forró, por exemplo, gerou esse tipo de descoberta. Nesse fervilhão de questionamentos que ocupa minha cabeça, percebo que tenho assumido uma postura diferente em relação aos sentimentos. Desde algum tempo, carrego um ideal bastante fixo acerca de determinados assuntos nesse mote, sobre os quais eu não conseguia atinar para uma segunda via. Contudo, depois de experiências próprias e diálogos alheios, fui assimilando novos pensamentos e adquirindo um posicionamento distinto do de outrora. Ainda mantenho muitas das minhas convicções, mas hoje me vejo mais disposta à aceitação e até à assimilação de pensamentos que, anteriormente, eu não entendia nem aceitava. É certo que a mudança não é instatânea, trata-se, contudo, de um processo natural e que ocorre gradualmente e parece trazer o bem. Não sei se é a influência de Ingrid, se tem a ver com os filmes de Woody Allen (vide o clássico Annie Hall e o recente Tudo Pode Dar Certo) e ou sei lá, mas estou em vias de balancear razão e emoção de maneira mais eqüitativa.

domingo, 15 de agosto de 2010

Sábado à noite

Crianças são realmente hilárias, sempre surpreendem. Depois de me proporcionarem intensas gargalhadas com minhoca X minhoca X minhoca, hoje minhas primas me trouxeram graça outra vez. Ao voltar às 13h de uma noitada de sábado regada a muitos litros de cerveja e todo o resto que vem como conseqüência do álcool, desabei na cama - onde, por sinal, estou até agora. Eis que a campanhia toca, eram elas para visitar-me. Ao entrarem no quarto, perceberam meu estado de eliminação, e logo questionaram:
- Bibi, tás cansada, é?
- Muito.
- Ficasse até tarde assistindo Criança Esperança, né?
- Hã?

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Eu não aguento! Eu não aguento!

Bastaram dois chopps para tudo mudar de órbita. Sendo do tipo "Fulano bebeu, fudeu", dá para calcular o perigo da presença etílica nas minhas veias. Após uma longa celebração requintadíssima de conclusão de curso dos estudantes da FDR, cedi ao álcool em plena segunda-feira, usando como pretexto a realização de um brinde. Um motivo deveras nobre, oras. A conseqüência, contudo, não merece a mesma adjetivação. Sentada numa mesa entre familiares, agi como uma ébria, para utilizar um vocábulo mais pomposo. Todos ficaram surpresos, nunca me viram ingerindo mais do que o tradicional champanhe no reveillon. De fato, eu não bebia. Tudo começou há cerca de seis meses de forma eventual e se tornou recorrente a partir das semanais festas (muito ótimas) da Copa Paulo Francis 2010, regadas a muita cerveja para garantir a alopração com tanta música de qualidade duvidosa. Ou o contrário. Que seja, desde então não hesito em aceitar o primeiro copo, que nunca mais foi também o único. Assim ocorreu naquele dia na companhia dos meus estimados parentes que logo perceberam a minha incontida alegria ao celebrar a chegada de mais um bacharel na família. A recomendação foi sábia e, sobretudo, rápida: suspendam o álcool para a menina! Acredito que até o garçom entendeu tudo e, por isso, não me serviu mais nenhuma tulipa. Haja comida! Isso ofereceram-me bastante. Sai do bar como quem dá prejuízo no rodízio. Ao chegar em casa, olhei-me no espelho e pensei como Chico, "Amanhã há de ser outro dia". Ledo engano. Além de embriagar-me de forma veloz, o álcool parece gostar de mim. Tem efeito (incrivelmente) prolongado sobre o meu organismo. No dia seguinte ainda conservava a perturbação mental da noite anterior e os acontecimentos daquela terça-feira pareciam corroborar para que tudo parecesse mesmo uma grande confusão. Felizmente, não precisei prometer de novo não beber nunca mais.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ao Max

A amizade entre Mary & Max fez-me recordar uma atitude que tomei há um tempo, com a ressalva de que utilizei meios mais tecnológicos. Em 2006, imbuída de curiosidade e de certa angústia, dei início a um diálogo que não se esgota. Como Mary, eu tinha necessidade de descobrir coisas para além do que estava ao meu redor e precisava conversar com alguém suficientemente capaz de entender-me. Claro que minha perturbação se distinguia dos dramas psíquicos (ao menos em tese) abordados por Adam Elliot neste e em outro filme, intitulado Harvie Krumpet, mas tinha um sentido semelhante. Buscava alguém capaz de responder-me questões tão complexas quanto explicar a uma criança de onde vêm os bebês. Acho, inclusive, que a solução encontrada por Max foi bem mais engraçada. A minha escolha por aquele amigo e não outro foi menos aleatória do que a estratégia utilizada por Mary, embora também desconhecesse sua cidade natal. Os diálogos, que no filme ocorrem por meio de cartas, aconteciam, entre mim e meu amigo distante, através do Orkut e, posteriormente por Messenger e Skype, e até por cartas mesmo. Horas de tec-tec no teclado, que hoje, tanto tempo depois, já nem é mais o mesmo. Como na ficção, a mocinha enchia o amigo, visto como mais experiente, de perguntas sobre as situações novas que enfrentava, buscando conselhos e até mesmo explicações sobre a vida e o funcionamento das coisas. Curiosamente, assim como na relação entre Mary e Max, ambos aprenderam bastante com essa amizade, sendo assim, ao mesmo tempo em que eu indagava, também respondia a muitas questões. Um crescimento simultâneo. Lembrei bastante de mim enquanto assistia ao filme. Foi engraçado identificar o meu amigo no sofrimento de Max, que queria ajudar a garota, mas não sabia as respostas. Inclusive, minhas questões não tinham como serem respondidas, menos ainda por alguém que não eu. Os anos passaram. O mote das conversas mudou. A conjuntura das nossas vidas também. Contudo, a relação perdura, sempre mais intensa. Mantemos contato que, graças à internet, ocorre de forma bem mais veloz do que em Mary & Max. Diálogos diários que não cansam de crescer. Experiências que são sempre compartilhadas. Quilômetros que estão cada vez mais comprimidos. Felizmente, agi como Mary.

domingo, 25 de julho de 2010

Má fase!

A sandália nova que não cabe no pé e sequer pode ser trocada, pois foi presente vindo de São Paulo. Após horas de download, perceber que o ovacionado filme tem um homônimo e que, claro, baixou o errado. Depois de tentar um outro título, percebe que o arquivo carece de áudio (e também de legenda). O pai se recusar a levá-la ao drive thru. Sair com os amigos e se irritar com todos eles. Encontrar o paquerinha novamente acompanhado dias depois de vê-lo aos beijos com outra garota. Decidir ir embora e, em seguida, começar a chover. Derrubar a bolsa na sarjeta inundada ao subir no ônibus. O cobrador não ter troco. Chegar em casa e, depois de tudo isso, ficar acordada até quatro da manhã com insônia. Talvez seja a hora de tomar um banho de sal grosso.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Oi?

É sabido o imenso clichê de diferenças entre os pensamentos masculinos e femininos. Sábado, anotei mais um. Numa situação bem descontraída, em que um garoto molhava latas de cervejas antes de colocá-los no congelador, rolou o seguinte diálogo:
Menina 1: Mas tu acha que só molhar adianta?
Menino: Claro, po. A água ajuda a congelar mais rápido.
Menina 1: Nossa!
Menina 2: HAHAHAHAHA
Menina 1: Tu entendeu, né?
Menina 2: Claro.
Menino: Hã?
Para quem não entendeu patavinas: as meninas acreditavam que, ao molhar as latas, o garoto estava preocupado com a higiene, não com a velocidade do congelamento das cervejas.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Trânsito

Sol a pino, Centro do Recife. Impaciente com um congestionamento quilométrico que enlouquecia a cidade, Teresa passou a fazer a única coisa que lhe restava, olhar pela janela do ônibus e tentar distrair-se com a beleza das pontes e a sujeira do Cão sem Plumas. Ela até carregava um livro dentro da bolsa vermelha, mas nem o melhor enredo de Kafka a faria ler no vuco-vuco daquele coletivo. A leitura de um bom livro no caminho para casa parecia algo bastante útil para passar o tempo, e ela admirava quem conseguia fazê-lo, mas ler qualquer coisa dentro de um veículo em movimento lhe causava náuseas. As buzinas serviam de trilha sonora para aquele momento flâneur e, não raro, algum passageiro lhe confidenciava irritação com aquela demora. Nesses momentos, ela estampava - com esforço - um sorriso de simpatia no rosto, coisas da cordialidade tão esmiuçada pelo, como é mais conhecido, "pai de Chico". As pessoas estavam impacientes dentro daquele ônibus, uns reclamavam do trânsito, enquanto outros culpavam o motorista pela demora. A velocidade era de um metro por minuto, mas não havia o que fazer, nenhum carro se movimentava. Indisposta a esperar, uma passageira levantou-se e pediu ao motorista que abrisse a porta ali mesmo para ela descer. Nisso, Teresa tirou os olhos da rua e fixou-os na mulher que, ao não ser ouvida ou ao ser ignorada, irritava-se a cada segundo. A princípio, a passageira usou da gentileza para ter seu pedido atendido, mas ao perceber o cinismo do cobrador e do motorista, que fingiam não ouvir, desesperou-se. Xingado, o motorista, finalmente, deu atenção à mulher; contudo, não a atendeu. Apenas retrucou. "Grossa", disse ele. Assim teve início um bate boca vertiginoso. Todos passageiros olhavam de um lado para o outro acompanhando a confusão. Eis que (amém) chegou a parada de ônibus e então a mulher desceu. Ainda xingando, mas desceu. Findada a confusão, Teresa, novamente, isolou-se em seus pensamentos e voltou a vaguear o olhar para fora daquele veículo. Ao cruzar uma das pontes do Recife Velho, ela fixou o olhar. O ônibus seguia, mas o olhar da garota continuava lá atrás. Uma criatura vestida de vermelho com uma câmera fotográfica chamava a sua atenção. Pela aparência e em função do seu comportamento, parecia um turista. Teresa pensou em descer do ônibus para conversar com o rapaz e se livrar do trânsito, mas, enquanto hesitava, a distância entre eles ficava maior. Certamente, o motorista não iria aceitar parar antes da parada, que distava bastante dali. Seria uma nova polêmica. Então, preferiu seguir viagem. Pensando no que podia ter sido e não foi.