sábado, 31 de janeiro de 2009

O caráter plástico.

Conheci Marc Chagall há alguns anos, cerca de sete, na casa de uma tia, que, apreciando suas pinceladas, ostenta o pôster de Paris Through the Window na sala de casa. O primeiro contato com o quadro foi marcado pelo estranhamento, à época eu desconhecia o movimento moderno e quase nada sabia sobre arte. Lembro-me, contudo, que, apesar de não entender o significado de pinturas modernistas, eu, diferentemente dos meus tios, não as desprezava com comentários como “qualquer criança faz isso”; ao contrário, sentia que elas podiam transmitir mais que os traços rígidos dos pintores mais clássicos.
Em 2007, enquanto eu procurava fotos de violinos, tive a oportunidade de rever Marc Chagall no querido Google. O site — ou pastor, como preferem alguns — redirecionou-me para The blue violinist, que, a partir de então, passou a ser a minha obra favorita do artista. O conhecido bordão “arte não se explica, se sente”, permite a mim — leiga e, em certa medida, amante das artes — explicar o que eu senti ao ver tal obra. As cores usadas por Chagall, sempre me agradam, sejam os tons frios ou quentes, acho que ele usa-os muito bem. Em The blue violinist prevalece a frieza, que junto à melancolia dos traços transmitem um sentimento de “quem canta seus males espanta”, ainda que não tenha sido bem esse o intuito do artista.
Tendo nascido na parte da Rússia czarista que hoje corresponde à Bielorússia, Chagall viveu num período bastante conturbado da História, fato que influenciou bastante as suas obras, que, como dizem seus estudiosos, mesclam a realidade com o mundo dos sentidos. Durante o período de entre-guerras, o artista aproximou-se ainda mais da cultura judaica, por ocasião da perseguição aos judeus, e retratou em suas telas toda a degradação daquela sociedade, à beira da sangrenta II Guerra Mundial.
Com o mundo em guerra, Marc Chagall migra, com a amada Bella, que havia conhecido durante a juventude em São Petersburgo, para os Estados Unidos a fim de escapar da política hitlerista de extermínio aos judeus. Em 1944, um ano antes do fim do conflito, a morte da esposa provoca a depressão do pintor, que parecia prever que não veria mais o rosto dela e pintara, desde 1931, Autour d'elle, concluído naquele ano. Após o fim da guerra, Chagall vai morar na França, país onde viria a falecer em 1985.
Hoje, folheando a agenda do meu irmão, que traz em suas páginas pinturas e trechos poéticos, ainda que, incoerentemente, sua capa remonte a uma temática de animais domésticos, deparei-me novamente com Marc Chagall. Desta vez, conheci The Promenade, pintado em 1917, que, sem qualquer comprovação, me parece ser autobiográfico, pesquisarei. Assim, depois de três incursões do artista na minha vida, resolvi usar esta linda tarde ensolarada de sábado para escrever este pequeno texto sobre nós três — eu, ele e suas pinturas.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Só no sapatinho (parte 2)


Há pouco mais de um mês, o jornalista iraquiano Muntazer al-Zaidi tornava-se conhecido no mundo inteiro através do ato, símbolo árabe de ofensa grave (atirar solas de sapatos), que cometeu com o então presidente George W. Bush. Esta semana, seu gesto foi imortalizado com uma estátua, esculpida pelo artista iraquiano Laith al-Ameri, em Tikrit, a aproximadamente 180km de Bagdá, capital do Iraque.
A escultura representa - em bronze e com 3 metros de altura - o sapato utilizado pelo jornalista e faz parte do jardim de uma fundação iraquiana de apoio a crianças que tiveram seus pais mortos em decorrência da invasão norte-americana, em 2003. Shaha al-Juburi, fundador da organização, garante que a escultura não tem qualquer ligação com entidades políticas.
Sem a finalidade de encorajar atos semelhantes, vale ressaltar que, desde o dia em que atirou os sapatos no ex-presidente Bush, o jornalista está preso e seus parentes temem represália.

FOTO: JC (30/01/2009)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Presidência

Atenção: Este post não versa sobre o novo presidente dos EUA.

Ainda que o novo presidente não seja brasileiro, as manchetes dos principais jornais do país trazem sempre o tal Obama, com fotos nas mais variadas poses e ângulos, com notícias desde suas decisões para Guantánamo aos seus passos de dança com a nova primeira-dama. Deixo claro que não se trata de uma crítica à importância dada a um fato de repercussão mundial, ainda mais num momento de crise como este que estamos vivendo; é apenas uma constatação.
Outra observação que tenho feito esses dias é que entre as notícias de Obama parte 1 e 2, estão pequenos quadrículos dedicados à cobertura das eleições para presidência — da Câmara e do Congresso — aqui no Brasil e, infelizmente, pouca gente tem acompanhado. A audiência dessas eleições não se compara nem de longe a nenhuma outra realizada no país que tenha como votantes o povo, claro; seu resultado, no entanto, também é de suma importância para o país.
Em menos de quinze dias, mais precisamente em 2 de fevereiro, nossos deputados e senadores elegerão os presidentes daqueles dois semi-círculos de Brasília. A articulação das candidaturas dessas presidências antecipam o quadro de apoios políticos da próxima eleição majoritária, em 2010, que terá como “ápice” a saída de Lula da presidência — há quem desconfie. É importante ficar atento aos jogos de interesse e acompanhar o que os deputados e os senadores andam confabulando nesse momento, afinal eles são nossos representantes (é um clichê falar isso, mas poucos eleitores recordam-se).
No mais, vamos acompanhar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O Jayminho de hoje


Quem acompanhou a minissérie Maysa, pôde perceber o quanto o filho da cantora sofreu. Perdeu o pai, quando ainda tinha oito anos, e teve que conviver com a ausência da mãe, que optou por uma vida "transgressora", como o próprio Jayme Monjardim, hoje, classifica a escolha de Maysa.
Em resposta à pertinente frase de André Matarazzo à Maysa - que se julgava uma boa mãe - na qual ele disse que quando o garoto crescesse iria julgar a boa mãe que ela foi ou deixou de ser, a Veja desta semana trouxe Jayme Monjardim para dizer o que pensa sobre a mãe e mulher Maysa.
Nas páginas amarelas (Entrevista) de Veja, o outrora Jayminho, esquecido entre um show e outro, responde quais as suas impressões sobre tudo o que viveu ao lado e na ausência dessa mulher tão polêmica que foi Maysa. Alguns trechos da entrevista foram selecionados por mim e podem ser lidos abaixo.
Depois da morte de seu pai, sua mãe o deixou num internato na Espanha. O senhor ficou lá dos 7 aos 17 anos. Qual foi o peso dessa experiência? Em quase dez anos, minha mãe nunca me visitou e me mandou apenas duas cartas. Nas vezes em que saí do colégio para encontrá-la, fui incorporado à equipe que a acompanhava em seus shows. Fiquei noites intermináveis sentado em banquinhos, esperando o fim de uma apresentação. Ou então trancado num quarto de hotel. Lembro de dizerem: "Fechem a porta para o Jayminho não fugir". Foi um período terrível, de muita angústia.

Sua mãe chegou a lhe explicar a razão de um afastamento tão prolongado? No fim da vida de minha mãe, toquei nesse assunto. Ela não soube responder. Disse que já não lembrava o motivo de me deixar na Espanha, longe da família e do Brasil. Ela mesma, quando criança, foi para um colégio interno – mas por apenas dois anos. Gosto de pensar que entre as motivações, fossem quais fossem, houve algumas positivas. Minha mãe queria que eu tivesse uma cultura europeia para, quem sabe, assumir a administração dos negócios deixados por meu pai. Suponho que também quis, de alguma forma, me preservar de seus próprios problemas – com álcool, por exemplo.

O senhor chegou a odiar sua mãe? Ódio é uma palavra forte demais. Houve um período na infância em que o sentimento dominante foi de rejeição. Eu me perguntava cotidianamente o que havia feito de errado para ser esquecido tão longe, num colégio interno em outro país. Depois veio a revolta. A gota d’água se deu em 1970, quando voltei ao Brasil – e ela não foi me buscar no aeroporto. Fui para a casa dela e tivemos uma briga homérica. Tempos depois, fui morar em São Paulo com os meus tios. Nosso afastamento parecia irremediável. Mas então, cerca de dois anos antes de sua morte, fui visitá-la em sua casa em Maricá, no litoral do Rio de Janeiro, e criamos um novo laço.

[...]

Há um momento da infância que o senhor relembre com carinho? A melhor lembrança que tenho é de quando ela cantava para mim. Eu estava ali, sentado na coxia de um teatro, e de repente minha mãe saía do palco e cantava A Noite do Meu Bem olhando para mim. Ela me encarava de tal maneira que eu ficava numa confusão de sentimentos. Muito emocionado – a tal ponto que, às vezes, chegava a sentir medo.

É verdade que sua iniciação sexual ocorreu com a ajuda de sua mãe? A escola em que estudei era extremamente rigorosa. Era simpática ao ditador espanhol Franco e os professores nos batiam por qualquer motivo. Nesse ambiente repressor, era difícil até olhar para uma mulher. Para dar uma ideia da situação, nós íamos à loucura ao ver os joelhos das meninas que arrumavam nossos quartos e limpavam nossos sapatos antes da hora de dormir. Então, aos 13 anos, eu fiz uma das minhas visitas ao Brasil. Numa conversa, minha mãe me perguntou se eu já tinha tido alguma espécie de contato com uma mulher. Eu disse que não. Ela então me disse: "Tenho uma amiga que quer te levar para passear, conhecer os lugares bonitos do Rio". Saí com essa mulher e aconteceu. Não foi uma relação profissional. E também não foi uma atitude constrangedora por parte de minha mãe. Foi uma das boas coisas que ela fez por mim.

Sua mãe foi uma transgressora? Sim. E essa foi uma das características de sua história que me motivaram a fazer a minissérie. Maysa foi transgressora porque ousou viver com prazer e sofreu profundamente. Muitas pessoas sonham em ser como ela, mas lhes falta coragem para isso. Minha mãe falava o que pensava, nunca teve meias palavras e foi intensa em todos os sentidos. Isso é raro. Todo mundo se esconde atrás de uma máscara. Maysa, não. Nunca teve vergonha de assumir o que era e sabia que despertava nas pessoas à sua volta uma sensação de preocupação e medo.

Qual a importância musical de Maysa? Ela representou a transição do período das cantoras do rádio para a bossa nova. Começou como uma mulher que, ousadamente, despejava seus sentimentos na canção. Quando a bossa surgiu, aderiu ao novo gênero. O disco Barquinho, de 1961, foi um dos primeiros lançamentos de uma grande cantora a trazer compositores de bossa nova. Ela também foi a primeira artista a levar a bossa nova para os palcos internacionais. No exterior, era acompanhada pelo Tamba Trio. O escândalo é que os artistas de bossa nova mal tocam no nome da minha mãe. Somente o Roberto Menescal lhe dá o devido valor. A maioria se refere a ela como "a cantora que namorou o Ronaldo Bôscoli". Ninguém diz que Barquinho teve uma repercussão maior do que a de qualquer outro disco de bossa nova lançado naquele momento, muito menos que foi ela quem levou João Gilberto para cantar na televisão pela primeira vez. Minha mãe foi injustiçada.
*A Entrevista na íntegra pode ser lida no site da Veja.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Can he change?

Chega hoje à Casa Branca, o 44º presidente dos Estados Unidos, e com ele, grande expectativa de mudanças. Em seu governo, Barack Obama para além de enfrentar os graves problemas econômicos de sua crise doméstica, e de ter de negociar problemas de ordem política no cenário internacional, vide principalmente, Afeganistão e Iraque, representa socialmente uma mudança de valores que há 46 anos seria impossível pensar.
Obama parece ser símbolo de inovação em todos os sentidos. Há muito não se via nos EUA um governo que mesmo antes de tomar posse, tentasse o diálogo com as várias forças políticas do país. Pois bem, na composição de sua equipe de trabalho, está sendo levado em consideração, a ampliação de sua base de governo, naquilo que ele chama de governo de unidade nacional. Essa a meu ver é uma atitude sensata, visto que como o próprio Obama frisou, essa crise que foi instalada no governo de seu antecessor, não é passageira e necessitará de apoio seja ele democrata ou republicano.
O novo presidente estadunidense inova outra vez ao perceber que essa crise é fruto do declínio na confiança nas velhas instituições e do esgotamento de certo estilo de vida, conhecido como “american way of life”. Nesse sentido, Obama quando fala que os EUA precisam de uma nova Constituição, não está dizendo que seu Estado precise ser re-fundado literalmente, mas sim, simbolicamente. Ou seja, o sistema capitalista predominante não precisa apenas de uma renovação ou recuperação, mas sim, de uma reconfiguração, naquilo que o transformaria em mais sustentável. O que não significa dizer que a mudança de paradigma representaria um não-consumismo, mas o que se pretende é uma produção e um consumo mais equilibrados, buscando-se fontes renováveis e mais “limpas” de geração de bens. Vale lembrar, que além do aspecto da produção, a crise também é reflexo de um modelo liberal, principalmente em suas características máximas, a não intervenção estatal e o regulamento por si só dos mercados. Nesse cenário, Obama emergeria com um potencial catalisador político – um líder.
Por fim, mas não menos importante, ele é o sonho idealizado por Luther King em 1963. Não despropositadamente, na postagem anterior, penso um pouco sobre a questão dos direitos civis nos Estados Unidos. Grande significado simbólico tem a sua ascensão à Casa Branca, isso talvez marcaria o fim da segregação racial nos EUA, o que poderia ter eco em vários outros países. Em vários países, mas em especial, nos EUA quando comparados vários indicadores sócio-econômicos de negros e brancos, vê-se que as oportunidades não são oferecidas equitativamente.
Sem mais delongas, sensatez, diálogo, mudança de paradigma econômico-político e final da segregação racial e ascensão da igualdade de oportunidades entre brancos e negros, parecem ser as pedras de toque deste novo governo. Contudo, esse clima amistoso, não deve ser estendido a todas as arenas. O governo Obama deverá ser protecionista, visto que isso é defendido pelo partido democrata, mas o que se espera mesmo assim, é diálogo para tomar decisões políticas e econômicas. Assim, o que podemos desejar é um bom governo, e ficar na torcida que ele possa fazer o que esperam dele, visto que não é à toa que vários grupos socias põem tantas esperanças em seu mandato. Mas mesmo assim, uma coisa já é certa, hoje na posse em Washington DC, estaremos vendo a História sendo feita, e tomara que essa seja uma história feliz. “It’s a beautiful day”!


*Texto a ser revisado

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Um bom filme para as férias – II

Quando alguém fala sobre a luta pelos direitos civis, este alguém está pensando sobre os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei. Esses direitos fundamentais são desdobrados na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis e de não ser condenado sem processo legal regular. Enfim, estamos falando da liberdade individual.

Todavia, em muitos lugares, esse direito essencial não era garantido pelo Estado a certos segmentos da população. Nos anos de 1960, cerca de 10% da população estadunidense era composta por negros. Eles estavam concentrados, majoritariamente, nos estados do Sul e nas grandes cidades do Norte e Oeste, tais como Nova Iorque, Chicago e Los Angeles. Nesta época, em especial, eles sofriam dupla segregação, uma de ordem racial e outra social. Apenas como ilustrativo, sua renda era 58% inferior à dos brancos.

Entre 1961 e 1968, nos governos de John Kennedy e Lyndon Johnson, o governo federal dos Estados Unidos, adotou medidas contra a segregação racial com o apoio da Corte Suprema. Porém, como esperado, houve grande resistência às medidas nos estados sulistas. Nessa época, é válida a atuação de Martin Luther King, em especial, com a Marcha sobre Washington de 1963. Estas ações levaram o Estado norte-americano a sancionar o Ato dos Direitos Civis (igualdade racial de direitos) e o Ato dos Direitos do Voto (proibição de medidas que invalidassem o direito de voto dos negros).

É neste quadro histórico que o filme indicado neste post está inserido. Mississipi em Chamas (1988) é um dos marcos do cinema e um dos melhores filmes dirigidos por Alan Parker. Resumidamente, o filme conta uma história verídica do assassinato de três militantes dos direitos civis em uma pequena cidade onde a segregação divide a população em brancos e negros e a violência contra os negros é uma constante. Neste contexto, dois agentes do FBI investigam as supostas relações das mortes com a Ku Klux Klan que atua deliberadamente na cidade, inclusive com a conivência dos poderes públicos. Sobre a repercussão do filme no Oscar de 1989, ele venceu na categoria de Melhor Fotografia, tendo sido indicado nas categorias de Melhor Ator (Gene Hackman), Melhor Atriz Coadjuvante (Frances McDormand), Melhor Direção, Melhor Edição, Melhor Filme do Ano e Melhor Som.

Por fim, Mississipi em Chamas mostra na realidade, a consecução de três conceitos. Discriminação*, Preconceito** e Racismo***. Todas as cenas são muito boas, e fazem com que você reflita sobre a questão da igualdade de direitos, mas atenção ao diálogo a partir dos 89 minutos de filme transcrito abaixo:

- É feio.
- Esta coisa toda é tão feia.
- Você sabe o que é conviver com tudo isto?
- As pessoas nos vêem como fanáticos e racistas.
- O ódio não nasce com as pessoas.
- Ele é ensinado.
- No colégio, diziam que a segregação estava na Bíblia.
- Gênesis 9, versículo 27.
- Aos 7 anos você já ouviu o bastante, e passa a acreditar.
- Você acredita no ódio.
- Você vive o ódio, respira o ódio.
- Você se casa com ele.

Boa reflexão.
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*tratamento injusto de pessoas devido ao seu pertencimento a determinado grupo;
**atitude de se julgar uma pessoa com base nas características reais ou imaginárias de seu grupo;
***crença segundo a qual uma característica visível de um grupo, como por exemplo, a cor da pele, indica sua inferioridade e justifica a sua discriminação.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Wander do Delírio

A primeira vez que ouvi falar em Wander Wildner foi há uns três anos, quando meu irmão mais velho trouxe, de uma festa brega, o CD No Ritmo da Vida. Na época, pensei, ingenuamente, que devia ser um daqueles bregas que tocavam em Denny Oliveira. Então, nem me interessei. Assim passou e o CD ficou acumulando poeira ao lado do computador. Pouco tempo depois, vi um cartaz anunciando show de Wander, pelo design do cartaz e pelo local do show (que não lembro agora), percebi meu equívoco e que se tratava de um brega autêntico e não de um "brega pop". Ainda assim, continuei sem interesse pelo som do gaúcho e deixei o CD empoeirar um pouco mais.
No fim do ano passado, ouvi rumores de que A Caravana do Delírio, banda da qual eu sou tiete, poderia tocar com Wander Wildner, como banda de apoio, em shows aqui em Recife, achei que a experiência seria legal, mas não me animei muito não. Eis que, dia 21 de dezembro, fui ao Projeto Domingo no Campus prestigiar os colegas da Caravana, que dessa vez seriam os coadjuvantes, ao lado do famoso cantor gaúcho, conhecido desde a época de Os Replicantes. Por mais que possa parecer que eu vivia dentro de uma bolha, confesso que nunca havia visto a cara de Wander Wildner. Então, foi um susto! Mas, susto mesmo foi eu ter gostado daquele show, que eu, literalmente, não tava dando nada por ele. A empolgação do cantor, da banda e do público somada às letras de caráter melancólico e, incoerentemente e incrivelmente, ao mesmo tempo alegre, conquistaram-me.
Quinta-feira passada, curti novamente o som "punk brega" de Wander, dessa vez no Boratcho. Agora, já por dentro das canções, aproveitei ainda mais o show, que, contrariando a música, me deixou alegre o tempo inteiro. Fui embora ansiosa pelo próximo show que já viria no fim de semana, numa apresentação VIP na casa de Matheus (vocal de A Caravana do Delírio), por ocasião de sua maioridade.
Cheguei à festa e vi um Wander Wildner que parecia muito mais com a metade melancólica do que com a metade alegre de suas músicas, sentado sozinho e quieto com a sua camisa (brega) de aviõeszinhos. A primeira apresentação, como esperado, foi de A Caravana do Delírio, que tocou suas principais músicas — inclusive o sucesso Quem se importa, que ainda não foi gravado —, um cover de The Doors e a canção Amigo Punk, de Graforréia Xilarmônica, em homenagem a Wander, que tem tocado bastante a música. Logo depois, o gaúcho subiu, timidamente, ao palco, dando início ao seu show. Cantou sentado e quase de costas para a platéia, durante a maior parte do tempo, deixando a escolha das músicas a cabo do aniversariante. As canções foram as mesmas dos shows anteriores, mas com um público diferenciado, que mostrou ser bastante pé de valsa. Enfim, um show "do caralho", regado a muito vinho, que não podia ser o nacional Boticcelli.
Após a festa, finalmente resolvi tirar o CD, já bastante arranhado, da poeira para ouvir. Por coincidência, das doze faixas do CD, cinco já me são familiar (Bebendo vinho, Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro, Anjos e demônios, Eu tenho uma camisa escrita eu te amo, Mantra das possibilidades), ainda que com arranjos diferentes. Enfim, curti muito esse tal de No Ritmo da Vida e reconheço que estou arrependida por ter protelado tanto o meu encontro com as músicas legais e os shows delirantes de Wander Wildner, que, determinado, deixa claro que não vai gastar dinheiro no dentista para agradar ninguém.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Náutico X Cabense

Minha primeira tentativa no Jornalismo Esportivo.
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ESTRÉIA SEM REFORÇOS

A estréia do Timbu no Campeonato Pernambucano amanhã (11), contra o Cabense, não contará com o reforço Johnny, ex-Vasco. O equívoco na data de rescisão do contrato, por parte do Corinthians-AL — detentor dos direitos do jogador — adiou a sua liberação para o primeiro jogo. Por decisão da diretoria do Náutico, o jogador fica de fora da partida para evitar perdas de ponto. O gerente de futebol do clube, Vulpian Novaes, acredita na regularização até o jogo contra o Serrano, na próxima quarta-feira (14).
Entre os confirmados para a estréia, está o volante Eduardo Eré, que improvisará como lateral-direito, uma vez que nem Carlinhos Bala, nem Ângelo estão regularizados.
A novidade nos Aflitos é a volta de Roberto Fernandes ao gramado. O treinador, que foi penalizado pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), no jogo contra o Santos, ainda no Brasileirão, livrou-se dos 30 (trinta) dias de suspensão, substituídos por doações de cestas básicas.
O Cabense, adversário do jogo de amanhã, também não contará com o reforço Fabinho, que se recupera de lesão no joelho. Caso participe, só deve jogar no segundo tempo.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Minhoca X minhoca X minhoca...

Esta semana fui dormir na casa das minhas primas, Beatriz e Marina, que têm 7 e 9 anos, respectivamente. Na hora de dormir, ficamos assistindo TV e conversando sobre nossas vidas. Quem me conhece sabe que eu adoro criança, então conversei bastante com elas. Perguntei sobre a escola, sobre as matérias que elas mais gostam, etc. Marina sempre fazia a réplica e passava a pergunta de volta para que eu respondesse. Numa dessas ela perguntou-me qual a matéria que eu menos gostava na época de colégio. Assim se deu o diálogo:

- E tu, Bibi, qual é a matéria que tu menos gosta?
- Mas agora eu estou na faculdade, ai é diferente.
- E quando tu ainda tava na escola, qual que tu menos gostava?
- Humm, Química.
- Oxe. O que é isso?
- Bem, Química é uma mistura de Matemática com Ciências.
- Aff, deve ser muito difícil. Minhoca vezes minhoca vezes minhoca vezes minhoca.
- sajkdhaksjdhskajhdjksahdkjsahdkjahdkjashdnjkashk (risadas)

Juro que foi a melhor forma que encontrei, naquele momento, de explicar para duas crianças o que é Química.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Geografia, aqui me tens de regresso

No fim de semana passado, eu estava indo para Tamandaré com a família do meu namorado. Ainda no caminho, enquanto meu namorado dormia, eu olhava admirada, pela janela do carro, a paisagem e, de repente, um insight.

Durante minhas tentativas de ingressar na UFPE, estudei com o neto de Manuel Correia de Andrade e descobri que Geografia é muito mais do que outros professores fizeram-me crer. Lembro-me que, enquanto eu assistia às aulas de João Correia, sentia algo como "cara, eu estou aprendendo uma coisa maravilhosa", sensação semelhante eu sentia ao assistir às aulas de Da Mata e Alves, ambos professores de História.

Voltando ao meu insight... Parece bem bacaca, mas enquanto eu observava as diferentes colorações de barro, senti vontade de descobrir o que permitia aquela diversidade. Além de desejar entender profundamente a formação de pedras e o desenvolvimento das "montanhas".

E o melhor mesmo é saber que Geografia não é apenas isso, que ainda há o vasto campo da Geografia Humana, cujo tema interessa-me bastante. Essa semana, inclusive, comprei o livro Formação Territorial e Econômica do Brasil, de Manuel Correia de Andrade, e já estou lendo.

Viva a Geografia!


Minha digressão poética ao refletir sobre o assunto:

Descobri que para ser feliz, você, muitas vezes, precisa frustrar as expectativas mil que puseram em você.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um bom filme para as férias

Kramer vs. Kramer (1979) é um filme essencial para todos aqueles que já passaram por momentos de separação dos pais. O filme retrata as mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas, especificamente, a entrada das mulheres no mercado de trabalho, e os seus anseios de paridade com os homens. Contudo, ainda hoje, haverá quem pense que Joanna Kramer (Meryl Streep) é uma desnaturada por fazer o que fez, mas, em minha opinião, ela fez o que é comum muitos homens fazerem, e que por sua vez, é visto como normal. No entanto, isso ainda não é justificativa para seu ato.

Joanna tem sérias razões para dar cabo aos seus pensamentos. Em um relacionamento de 8 (oito) anos, vive em um ambiente onde o diálogo não é nem fundamental, nem levado a sério, e onde toda a família vive em pró de um único membro, Ted Kramer (Dustin Hoffman). Hoje em dia, o filme pode até parecer banal, visto que a sua problemática é mais aceita socialmente. Porém, nos final dos anos 70, o assunto ainda era visto como tabu, e daí talvez, advenha sua enorme repercussão no meio cinematográfico. Mas muitos não aceitam o fato dele ter tido uma grande repercussão (no Oscar de 1980, ele concorreu diretamente com o filme Apocalypse Now do Francis Ford Coppola). Kramer vs. Kramer foi premiando com 5 (cinco) oscars (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Dustin Hoffman), Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep) e Melhor Roteiro Adaptado) e 4 (quatro) globos de ouro (Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor, Melhor Ator - Drama (Dustin Hoffman) e Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep).

Deixando todas as controvérsias (que na minha opinião não existem), não tenha dúvida que você verá um ótimo filme e um show de interpretação, principalmente nas cenas finais, do Dustin Hoffman, da sensacional Meryl Streep e um show a parte do pequeno Billy Kramer (Justin Henry). Se eu pudesse dizer em uma frase algo sobre o filme, eu diria que ele mostra que nem tudo na vida é explicado, ou pode ser dito, de maneira dicotômica. Às vezes, um não, ou um sim, não são suficientes para expressar pensamentos ou responder perguntas.

*Peço desculpas por deixar em certos pontos o texto vago, mas foi uma opção para não revelar de maneira alguma o enredo do filme.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

2009

Quem pôde ler o primeiro Jornal do Commercio do ano, conferiu o editorial* (O incerto 2009) pouco otimista do presidente do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação - João Carlos Paes Mendonça. O saudosismo das promessas de 2008 foram o mote do texto, que prevê um 2009 incerto, por ocasião da crise mundial, que ele considera "talvez superior àquela que determinou a quebra da bolsa em 1929".

Vamos ver no que dá!

FELIZ ANO NOVO!

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*O incerto 2009
Publicado em 01.01.2009

Se os senhores pesquisarem a coleção do Jornal do Commercio e se depararem com a primeira página do dia 1° de janeiro do ano que findou, encontrarão lá a mensagem que tradicionalmente, a cada ano, tenho dirigido aos nossos leitores e aos pernambucanos em geral. É uma mensagem na qual eu falava que parecíamos ter expurgado definitivamente aquele clima de “depressão cava e profunda a que se referia o escritor Nelson Rodrigues” – e começávamos a viver momentos de euforia e otimismo, ditados pelos novos rumos que tomava a economia estadual, com investimentos vultosos e estruturadores, especialmente no entorno de Suape, com destaque para uma refinaria, um estaleiro e várias outras plantas industriais grandemente geradoras de empregos e de riquezas. Afinal, era este o clima que predominava ao final do ano de 2007, com grandes esperanças para o novo exercício que se iniciava. Tínhamos a inflação sob controle, reservas consideráveis em moeda forte, o real fortemente apreciado, investidores de várias nacionalidades chegando com seus recursos para novos investimentos. O mundo comprava as nossas commodities, especialmente grãos e minérios, gerando euforia nos pregões diários da nossa principal Bolsa de Valores.

Foi no início do segundo semestre que o clima mudou. Num mundo globalizado, a grave crise que se abateu sobre a economia dos Estados Unidos, que já sofria com um déficit orçamentário na casa do trilhão de dólares, caiu por gravidade sobre todos os países dos cinco continentes. O descontrole e a falta de regulação sobre o mercado, com privilégio da especulação sobre a economia real, levou a maior economia do mundo a uma crise talvez superior àquela que determinou a quebra da Bolsa em 1929, carregando sobre o mesmo tufão conglomerados bancários que pareciam inexpugnáveis, seguradoras, indústrias quase centenárias. E quando todos os países do mundo se precaviam e se resguardavam para enfrentar a crise, infelizmente, ainda acreditávamos que ela não chegaria até nós. Todos os fundamentos da macroeconomia ensinam que numa crise global não existe ninguém blindado - pois ela atinge, com maior ou menor intensidade, desde as economias mais fortes aos países emergentes, entre os quais estamos inseridos. Otimistas acham que serão necessários pelo menos 12 meses para que seja afastado o fantasma da recessão global e os países voltem a crescer. Os mais pessimistas dão um prazo de três anos. Mesmo que fiquemos com os mais otimistas, não podemos fugir dessa realidade: a crise instalou-se entre nós, embora venha sido combatida com medidas fiscais, ampliação do crédito, e outras providências pontuais, de modo a que seus impactos sejam mais atenuados.

Como já disse o poeta, “cesse tudo que a musa antiga canta quando um valor mais alto se alevanta”. Não podemos pensar em índices de crescimento do nosso PIB como aqueles projetados antes desse “tsunami” mundial. Não podemos nos dar ao luxo de gastos públicos sem controle, de imaginar que duraria para sempre uma apreciação irreal da moeda, que o viés de alta das Bolsas de Valores não teria limite. Temos de encarar nossas limitações e nossos problemas e esperar dos nossos homens públicos sabedoria e sensatez para atravessarmos esse período de instabilidade. Lembremo-nos de Franklin Delano Roosevelt, o presidente dos Estados Unidos que assumiu o governo após a grande depressão, mas que, com visão de estadista, devolveu à nação do Norte o amor próprio e o caminho da prosperidade. Tudo isso feito com os pés na realidade, com programas e projetos que reencaminharam a economia, com medidas concretas reais e factíveis – e não com discursos desprovidos de consistência e até certo ponto fora da realidade.

Não perdi a fé nem o otimismo em relação ao nosso País – pois sei do seu potencial e da capacidade que tem de se reinventar. No entanto, não posso deixar de manifestar minhas preocupações em relação ao ano que começa, uma vez que a crise já instalada vai continuar com seus efeitos perversos por tempo indeterminado. Na indústria de jornais – por exemplo – empresários do ramo já se ressentem da alta do dólar, vez que grande parte dos insumos ali utilizados não se produz no Brasil. A crise no setor automobilístico norte-americano tem ressonância nas montadoras brasileiras, assim como a restrição ao crédito afeta ao mercado como um todo. A retração no setor da construção civil adiou, por tempo indeterminado, vários projetos que se encontravam em gestação. A atividade da propaganda certamente se ressentirá. O ano de 2009 será, também, o penúltimo do segundo mandato do Presidente Lula – e logo começará a efervescência da campanha política, quando as pré-candidaturas iniciam sua gestação. São, portanto, muitos os fatores que contribuem para o quadro de incertezas que nos espera. Mas somos um povo forte e determinado.Precisamos nos conscientizar de que é possível superar mais esse obstáculo, trabalhando com determinação e com perseverança, na certeza de que são os grande problemas que requerem do homem grandes soluções. Faço votos de que tenhamos, todos nós, ao final de 2009, um quadro bem mais otimista do que temos nesse início – e que possamos continuar construindo com as nossas mãos o País da decência, da ética, do bem-estar social que queremos deixar para os nossos filhos e os nossos netos.

» João Carlos Paes Mendonça