sábado, 31 de janeiro de 2009

O caráter plástico.

Conheci Marc Chagall há alguns anos, cerca de sete, na casa de uma tia, que, apreciando suas pinceladas, ostenta o pôster de Paris Through the Window na sala de casa. O primeiro contato com o quadro foi marcado pelo estranhamento, à época eu desconhecia o movimento moderno e quase nada sabia sobre arte. Lembro-me, contudo, que, apesar de não entender o significado de pinturas modernistas, eu, diferentemente dos meus tios, não as desprezava com comentários como “qualquer criança faz isso”; ao contrário, sentia que elas podiam transmitir mais que os traços rígidos dos pintores mais clássicos.
Em 2007, enquanto eu procurava fotos de violinos, tive a oportunidade de rever Marc Chagall no querido Google. O site — ou pastor, como preferem alguns — redirecionou-me para The blue violinist, que, a partir de então, passou a ser a minha obra favorita do artista. O conhecido bordão “arte não se explica, se sente”, permite a mim — leiga e, em certa medida, amante das artes — explicar o que eu senti ao ver tal obra. As cores usadas por Chagall, sempre me agradam, sejam os tons frios ou quentes, acho que ele usa-os muito bem. Em The blue violinist prevalece a frieza, que junto à melancolia dos traços transmitem um sentimento de “quem canta seus males espanta”, ainda que não tenha sido bem esse o intuito do artista.
Tendo nascido na parte da Rússia czarista que hoje corresponde à Bielorússia, Chagall viveu num período bastante conturbado da História, fato que influenciou bastante as suas obras, que, como dizem seus estudiosos, mesclam a realidade com o mundo dos sentidos. Durante o período de entre-guerras, o artista aproximou-se ainda mais da cultura judaica, por ocasião da perseguição aos judeus, e retratou em suas telas toda a degradação daquela sociedade, à beira da sangrenta II Guerra Mundial.
Com o mundo em guerra, Marc Chagall migra, com a amada Bella, que havia conhecido durante a juventude em São Petersburgo, para os Estados Unidos a fim de escapar da política hitlerista de extermínio aos judeus. Em 1944, um ano antes do fim do conflito, a morte da esposa provoca a depressão do pintor, que parecia prever que não veria mais o rosto dela e pintara, desde 1931, Autour d'elle, concluído naquele ano. Após o fim da guerra, Chagall vai morar na França, país onde viria a falecer em 1985.
Hoje, folheando a agenda do meu irmão, que traz em suas páginas pinturas e trechos poéticos, ainda que, incoerentemente, sua capa remonte a uma temática de animais domésticos, deparei-me novamente com Marc Chagall. Desta vez, conheci The Promenade, pintado em 1917, que, sem qualquer comprovação, me parece ser autobiográfico, pesquisarei. Assim, depois de três incursões do artista na minha vida, resolvi usar esta linda tarde ensolarada de sábado para escrever este pequeno texto sobre nós três — eu, ele e suas pinturas.

4 comentários:

Dio disse...

"O Passeio" (The Promenade) é autobiográfico sim. Tanto ele, quanto 'Autour d'elle', quanto uma das mais famosas obras de Chagall, chamada O Beijo (http://i10.photobucket.com/albums/a137/ECdoesit/chagal1Birthday.jpg). Todas remontam à tal da Bella. :)

No mais, belo texto. Gostei da forma como cada parágrafo remontou a uma imagem do artista, construindo uma relação imagem-verbo muito legal. :)

Abraços,
Diogo.

Girabela disse...

Que bom que gostou! Obrigada pela atenção dedicada a este blog.

Abraços,
Gabriela.

Anônimo disse...

gabi , permitindo a opinião de uma leiga , belo texto o seu! O melhor do blog até agora ... ^^

abraço, =)

Girabela disse...

Sinto-me lisonjeada, Lolly.

Abraços,
Gabriela.