sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Um bom filme para as férias – II

Quando alguém fala sobre a luta pelos direitos civis, este alguém está pensando sobre os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei. Esses direitos fundamentais são desdobrados na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis e de não ser condenado sem processo legal regular. Enfim, estamos falando da liberdade individual.

Todavia, em muitos lugares, esse direito essencial não era garantido pelo Estado a certos segmentos da população. Nos anos de 1960, cerca de 10% da população estadunidense era composta por negros. Eles estavam concentrados, majoritariamente, nos estados do Sul e nas grandes cidades do Norte e Oeste, tais como Nova Iorque, Chicago e Los Angeles. Nesta época, em especial, eles sofriam dupla segregação, uma de ordem racial e outra social. Apenas como ilustrativo, sua renda era 58% inferior à dos brancos.

Entre 1961 e 1968, nos governos de John Kennedy e Lyndon Johnson, o governo federal dos Estados Unidos, adotou medidas contra a segregação racial com o apoio da Corte Suprema. Porém, como esperado, houve grande resistência às medidas nos estados sulistas. Nessa época, é válida a atuação de Martin Luther King, em especial, com a Marcha sobre Washington de 1963. Estas ações levaram o Estado norte-americano a sancionar o Ato dos Direitos Civis (igualdade racial de direitos) e o Ato dos Direitos do Voto (proibição de medidas que invalidassem o direito de voto dos negros).

É neste quadro histórico que o filme indicado neste post está inserido. Mississipi em Chamas (1988) é um dos marcos do cinema e um dos melhores filmes dirigidos por Alan Parker. Resumidamente, o filme conta uma história verídica do assassinato de três militantes dos direitos civis em uma pequena cidade onde a segregação divide a população em brancos e negros e a violência contra os negros é uma constante. Neste contexto, dois agentes do FBI investigam as supostas relações das mortes com a Ku Klux Klan que atua deliberadamente na cidade, inclusive com a conivência dos poderes públicos. Sobre a repercussão do filme no Oscar de 1989, ele venceu na categoria de Melhor Fotografia, tendo sido indicado nas categorias de Melhor Ator (Gene Hackman), Melhor Atriz Coadjuvante (Frances McDormand), Melhor Direção, Melhor Edição, Melhor Filme do Ano e Melhor Som.

Por fim, Mississipi em Chamas mostra na realidade, a consecução de três conceitos. Discriminação*, Preconceito** e Racismo***. Todas as cenas são muito boas, e fazem com que você reflita sobre a questão da igualdade de direitos, mas atenção ao diálogo a partir dos 89 minutos de filme transcrito abaixo:

- É feio.
- Esta coisa toda é tão feia.
- Você sabe o que é conviver com tudo isto?
- As pessoas nos vêem como fanáticos e racistas.
- O ódio não nasce com as pessoas.
- Ele é ensinado.
- No colégio, diziam que a segregação estava na Bíblia.
- Gênesis 9, versículo 27.
- Aos 7 anos você já ouviu o bastante, e passa a acreditar.
- Você acredita no ódio.
- Você vive o ódio, respira o ódio.
- Você se casa com ele.

Boa reflexão.
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*tratamento injusto de pessoas devido ao seu pertencimento a determinado grupo;
**atitude de se julgar uma pessoa com base nas características reais ou imaginárias de seu grupo;
***crença segundo a qual uma característica visível de um grupo, como por exemplo, a cor da pele, indica sua inferioridade e justifica a sua discriminação.

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