sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

2009

Quem pôde ler o primeiro Jornal do Commercio do ano, conferiu o editorial* (O incerto 2009) pouco otimista do presidente do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação - João Carlos Paes Mendonça. O saudosismo das promessas de 2008 foram o mote do texto, que prevê um 2009 incerto, por ocasião da crise mundial, que ele considera "talvez superior àquela que determinou a quebra da bolsa em 1929".

Vamos ver no que dá!

FELIZ ANO NOVO!

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*O incerto 2009
Publicado em 01.01.2009

Se os senhores pesquisarem a coleção do Jornal do Commercio e se depararem com a primeira página do dia 1° de janeiro do ano que findou, encontrarão lá a mensagem que tradicionalmente, a cada ano, tenho dirigido aos nossos leitores e aos pernambucanos em geral. É uma mensagem na qual eu falava que parecíamos ter expurgado definitivamente aquele clima de “depressão cava e profunda a que se referia o escritor Nelson Rodrigues” – e começávamos a viver momentos de euforia e otimismo, ditados pelos novos rumos que tomava a economia estadual, com investimentos vultosos e estruturadores, especialmente no entorno de Suape, com destaque para uma refinaria, um estaleiro e várias outras plantas industriais grandemente geradoras de empregos e de riquezas. Afinal, era este o clima que predominava ao final do ano de 2007, com grandes esperanças para o novo exercício que se iniciava. Tínhamos a inflação sob controle, reservas consideráveis em moeda forte, o real fortemente apreciado, investidores de várias nacionalidades chegando com seus recursos para novos investimentos. O mundo comprava as nossas commodities, especialmente grãos e minérios, gerando euforia nos pregões diários da nossa principal Bolsa de Valores.

Foi no início do segundo semestre que o clima mudou. Num mundo globalizado, a grave crise que se abateu sobre a economia dos Estados Unidos, que já sofria com um déficit orçamentário na casa do trilhão de dólares, caiu por gravidade sobre todos os países dos cinco continentes. O descontrole e a falta de regulação sobre o mercado, com privilégio da especulação sobre a economia real, levou a maior economia do mundo a uma crise talvez superior àquela que determinou a quebra da Bolsa em 1929, carregando sobre o mesmo tufão conglomerados bancários que pareciam inexpugnáveis, seguradoras, indústrias quase centenárias. E quando todos os países do mundo se precaviam e se resguardavam para enfrentar a crise, infelizmente, ainda acreditávamos que ela não chegaria até nós. Todos os fundamentos da macroeconomia ensinam que numa crise global não existe ninguém blindado - pois ela atinge, com maior ou menor intensidade, desde as economias mais fortes aos países emergentes, entre os quais estamos inseridos. Otimistas acham que serão necessários pelo menos 12 meses para que seja afastado o fantasma da recessão global e os países voltem a crescer. Os mais pessimistas dão um prazo de três anos. Mesmo que fiquemos com os mais otimistas, não podemos fugir dessa realidade: a crise instalou-se entre nós, embora venha sido combatida com medidas fiscais, ampliação do crédito, e outras providências pontuais, de modo a que seus impactos sejam mais atenuados.

Como já disse o poeta, “cesse tudo que a musa antiga canta quando um valor mais alto se alevanta”. Não podemos pensar em índices de crescimento do nosso PIB como aqueles projetados antes desse “tsunami” mundial. Não podemos nos dar ao luxo de gastos públicos sem controle, de imaginar que duraria para sempre uma apreciação irreal da moeda, que o viés de alta das Bolsas de Valores não teria limite. Temos de encarar nossas limitações e nossos problemas e esperar dos nossos homens públicos sabedoria e sensatez para atravessarmos esse período de instabilidade. Lembremo-nos de Franklin Delano Roosevelt, o presidente dos Estados Unidos que assumiu o governo após a grande depressão, mas que, com visão de estadista, devolveu à nação do Norte o amor próprio e o caminho da prosperidade. Tudo isso feito com os pés na realidade, com programas e projetos que reencaminharam a economia, com medidas concretas reais e factíveis – e não com discursos desprovidos de consistência e até certo ponto fora da realidade.

Não perdi a fé nem o otimismo em relação ao nosso País – pois sei do seu potencial e da capacidade que tem de se reinventar. No entanto, não posso deixar de manifestar minhas preocupações em relação ao ano que começa, uma vez que a crise já instalada vai continuar com seus efeitos perversos por tempo indeterminado. Na indústria de jornais – por exemplo – empresários do ramo já se ressentem da alta do dólar, vez que grande parte dos insumos ali utilizados não se produz no Brasil. A crise no setor automobilístico norte-americano tem ressonância nas montadoras brasileiras, assim como a restrição ao crédito afeta ao mercado como um todo. A retração no setor da construção civil adiou, por tempo indeterminado, vários projetos que se encontravam em gestação. A atividade da propaganda certamente se ressentirá. O ano de 2009 será, também, o penúltimo do segundo mandato do Presidente Lula – e logo começará a efervescência da campanha política, quando as pré-candidaturas iniciam sua gestação. São, portanto, muitos os fatores que contribuem para o quadro de incertezas que nos espera. Mas somos um povo forte e determinado.Precisamos nos conscientizar de que é possível superar mais esse obstáculo, trabalhando com determinação e com perseverança, na certeza de que são os grande problemas que requerem do homem grandes soluções. Faço votos de que tenhamos, todos nós, ao final de 2009, um quadro bem mais otimista do que temos nesse início – e que possamos continuar construindo com as nossas mãos o País da decência, da ética, do bem-estar social que queremos deixar para os nossos filhos e os nossos netos.

» João Carlos Paes Mendonça

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