terça-feira, 30 de setembro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Banco Imobiliário


É (quase) impossível alguém que teve a infância entre os anos 1980 e 1990 não conhecer o Banco Imobiliário, jogo que era obrigatório em toda prateleira de quarto de criança daquela época. Ao jogar, sempre havia os que iam à falência logo no início da partida, por comprar demais, e os que enriqueciam com tantos imóveis. Havia, ainda, quem "roubasse", infringisse as regras ou até mesmo inventasse novas formas de brincar com tal jogo. A compra dos hotéis mesmo até hoje é um mistério para mim, pois cada grupo de amigos jogava de uma forma diferente.
Uma boa estratégia imobiliária era investir nas Companhias, que sempre rendiam grandes lucros, a depender dos números dos dados do adversário que caíam, pois seguia a regra do "pontos dos dados multiplicados por X" (quociente a depender da Companhia).
A parte mais badalada do tabuleiro era a que continha Morumbi, Interlagos, rua Augusta e avenidas Pacaembu e Europa; sendo mais excluída a parte que continha o famoso bairro do Leblon, tão filmado nas novelas de Manuel Carlos. O preço do imóvel era tão irrisório (R$ 100, com aluguel custando R$ 6) que me fazia crer que se tratava de uma favela.
Quem nunca pensou que a nota de quinhentos reais realmente existia que atire a primeira pedra, pois eu acreditava piamente. Apesar de algumas incoerências absorvidas depois de tanto jogar, tenho certeza que aprendi algumas coisas, mas como era difícil vencer o jogo, resolvi não me aventurar pela área de administração.
Alguns motivos levavam os participantes a serem presos. A prisão dos adversários sempre era bem-vinda, mas não muito duradoura, pois talvez alguém tivesse a carta de liberação, adquirida no "sorte ou revés"; quando não, a fiança de R$ 50 resolvia o problema, mas só após três rodadas sem jogar; havia, ainda, a chance de apelar para sorte, tendo que tirar números iguais nos dois dados para se livrar do xadrez. Regalias como o "salário" (R$ 200), recebido a cada rodada no tabuleiro, ajudava a recompor a "fortuna" dos jogadores depois de vários percalços na rodada anterior.
Lá pelo fim do jogo, os números dos dados faziam toda a diferença, um número a mais ou a menos rendia grande perda de dinheiro para os que caiam nos hotéis do adversário. Os “acordinhos” sempre aconteciam nessa fase, a camaradagem do "eu não pago agora e você não paga quando cair no meu hotel" eram freqüentes. Valia tudo para não sair do jogo, lembro que até "emprego" era oferecido, algo como "se andares por mim no tabuleiro, te pago R$ X a cada rodada”. Confesso que já me "humilhei" para receber esse rico dinheirinho, que não fazia ninguém recuperar-se, mas ajudava a manter a brincadeira por mais tempo.

Escrevi sobre o jogo, que me rendeu grandes alegrias e algumas brigas por ultimamente estar sonhando bastante com ele. Os sonhos são os mais absurdos, num, a caixa do Banco Imobiliário ocupava a vaga da minha garagem no prédio que eu morava anteriormente; e em um outro sonho, a caixa estava sob o chão na posição mais difícil de equilíbrio, em pé. A mensagem onírica ainda não foi captada, mas algo me diz que preciso matar a saudade do jogo, quem se candidata a uma partida?

Foto em: gardenal.org

*Um beijinho pro meu amor. :*

domingo, 21 de setembro de 2008

C G Am F

Este texto é regido por quatro acordes infalíveis: C G Am e F. Não, não, esqueçam, na verdade eles só fazem a música de fundo, os verdadeiros quatro regentes são outros, ainda a serem inseridos. Antes de sair de casa, escutei a jovem - até demais - Mallu Magalhães tocar You ain't nothing but a hound dog, do Rei Presley, e Folsom Prision Blues, do Men in Black, Johnny Cash. Músicas das quais gosto bastante. A primeira música teve uma boa leitura, já a segunda... Já no clima, e depois de uma rodada de C G Am F (quase que não toco, mas Danilo me salvou a tempo), segui rumo ao ponto de encontro: Cuba do Capibaribe. Lá, apresentaria-se a banda Caravana do Delírio, composto pelo tal quarteto já mencionado, mas ainda não nomeado. Então, aqui vai: Matheus (baixo e vocal), Danilo (guitarra, vocal e trajes loucos), Baracho (Paraíba, Minas Gerais e mais outros estados, além do teclado) e Eduardo (cadeira, baquetas e... bateria?). E foi mais ou menos assim:

Não é todo mundo que abre um show fazendo alusões à masturbação e fecha com Imagine, de John Lennon. Aliás, também não é todo mundo que consegue uma série de, pelo menos, uns cinco "Mais um, mais um", dobrando o tempo original do show. Não, não qualquer um. Trazer Mutantes, Bob Dylan, Elvis Presley; atender (vejam bem!) a um "Toca Raul"! E, mesmo assim, o que marcar é o deles, o que marcar é um Valha-me Deus, Sistema Nervoso, Todos os Homens São Lendas. E são mesmo. Lendária é uma banda que toca rock, sem bateria, e consegue impressionar um músico de mais de uma década de experiência. Que tem a "cara-de-pau" de traduzir — e com um humor refinado — instantaneamente (parecia, no show) uma música do Rei do rock, e arrancar risadas e aplausos dos presentes.

O show da Caravana do Delírio, no Cuba do Capibaribe, Paço Alfândega, Recife, PE (ufa!), foi difícil de acontecer. A bateria, anunciada aos músicos como completa, nem pratos tinha; o teclado teve que ser ligado direto num microfone. Mas tudo bem, lá foram eles, subiram os três: Matheus, Danilo e Baracho. Eduardo, infelizmente, ficou na cadeira, assistindo. O show inicia-se com Mãonogamia, a mais nova música da banda, sobre a história de um sujeito que não troca sua parceira inseparável — a mão — por mulher nenhuma. Nem animal, nem homem, nem nada, só a mão, o que justifica o trocadilho no título. Após algumas canções próprias, trazem Baby, música de Caetano Veloso, conhecida na voz de Rita Lee, na época dos Mutantes. Mais um pouco, e Elvis chega, com You ain't nothin but a hound dog, cover melhor do que o de Mallu, e ainda seguido de sua "adaptação", feita pelo próprio Matheus. Mais um pouco, e o momento mais "reflexivo" do show. Sentado, só com guitarra e teclado, Matheus canta Quem se importa?, melodia e letra tocantes. Quase ao fim do show, o grande momento para os fãs, Sistema Nervoso, que vai se tornando o grande sucesso da banda, arranca gritos e aplausos, e é seguida pela última música: Descanse em Paz.

Ao menos era esse o plano. Mas a platéia pediu mais, e veio um Mahteus Dylan inspirado. Pediu mais e mais e mais. E seguiu-se praticamente tudo o que a banda já compora (até pagode com guitarra rolou!). "Não sei mais o que tocar", disse Matheus à banda. Mas não eram músicas novas que os ouvintes queriam, eram eles, era a banda ali em cima, tocando, seja lá o que fosse. Mas a casa tinha que fechar e então, vaiado, um funcionário — que não era um dos garçons, loucos por mais músicas — solicitou o fim do show. Matheus finalizou com a bela mensagem do beatle Lennon ao mundo: Imagine. Agradeceu muito a todos, emocionado, e convidou ao próximo show, dia 3 de outubro, no Sabor Pernambuco.

O sucesso da banda Mamonas Assassinas é inexplicável. De covers de canções de rock conhecidas na época, os garotos passaram a fazer uma música irreverente, escrachada, crítica (em certo ponto) e estouraram. Pouco mais de um ano depois, a banda sofreu um acidente quando voltava do último show da turnê no Brasil, e nenhum deles sobreviveu. Marcaram história. Bandas tornam-se estouros por suas letras, suas melodias, seus contatos, seu carisma, sua perseverança? Acredito que não. Bandas, na minha opinião, estouram porque estouram, é tautológico mesmo. A Caravana do Delírio ainda não estourou, mas caminha para isso. Letras, melodias, contatos, carisma e perseverança eles têm, e está sendo aperfeiçoado aos poucos. Porém, acima de tudo, eles têm o que precisam para estourar. O tal do feeling. Talvez seja um sobretudo do Willy Wonka ou um "Mãe, olha" nada roqueiro.

Abraços,
Diogo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Delirando

Certo dia, conheci, na livraria Cultura, um menino, que, provavelmente vestia uma camisa do Bob Dylan, levando seu característico olhar distante no rosto. Durante alguns dedos de prosa, percebi que estava diante de uma criatura realmente intrigante, um artista? O momento não era o mais propício para conversas sem tanto nexo, afinal, estávamos sendo "testados" pelos nossos futuros colegas de turma.
Alguns dias depois, as aulas começaram e a convivência diária foi revelando, aos poucos, cada um de nós. O garoto quase sempre chegava atrasado na faculdade, quando ia, porque as ausências, por motivos laringológicos, eram bastante freqüentes. Sem negar nenhuma aventura proposta por um colega ainda mais ousado, fomos umas duas vezes, depois da aula, para praia conversar um pouco e até jogar uma bolinha. No meio da conversa, nos “declaramos”, falando algo como “eu gosto de você, mesmo sem parecer”, acho que nos sentíamos meio estranhos por não demonstrar qualquer afeto um pelo outro. Nessa noite conversamos sobre algumas coisas de âmbito pessoal, ele deu-me alguns conselhos amorosos, depois tomamos uma água de coco e fomos todos para suas respectivas casas.
Lembro-me de outro dia, em que voltamos juntos para casa depois da aula, começamos a conversar e, entre as freadas bruscas do ônibus, o garoto novamente tentou ajudar-me com outros conselhos. Talvez, até hoje, ele nem imagine, mas as poucas palavras que trocamos naquele dia foram de muita importância para mim, foi mesmo um ombro amigo.
Com o passar do tempo, a turma foi percebendo a irreverência e a criatividade existente naquele garoto, que fazia músicas para a turma e brincava de cantar. Naquela época, não tão distante de hoje, ninguém colocava muita fé quando ele afirmava ter uma banda, e julgavam ser apenas uma brincadeira, tal qual a Imparciais do Samba. Eis que algumas músicas começaram a ser postas na internet, ficando notoriamente conhecidas pela turma, que, aos poucos, foi mudando de opinião em relação às brincadeiras que aquele garoto seria capaz.
Dia 30 de agosto seria a prova de fogo, apresentar para a turma a tal Caravana do Delírio. O show ocorreu da melhor forma e foi, realmente, um sucesso. Entre músicas e tietagens, a banda foi anunciando morder a vida com os dentes. Com muita irreverência, que não poderia faltar, os garotos da Caravana ajudaram a divulgar o trabalho do colega em início de carreira, o Bob Dylan.
Confessando que, antes, eu era uma das que não colocava muita fé no gogó do garoto, ouvi “a seco” o som muito instigante, eu diria até delirante, da banda e transformei-me numa grande tiete da Caravana do Delírio. E, como já era, fiquei ainda mais fã de Matheus de Jesus.

Conheça você também: http://www.myspace.com/acaravanadodelirio

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Um tanto Frida

Ando cabisbaixa com algumas coisas que andam acontecendo há algum tempo, mas para não afogar as minhas lágrimas na web 2.0 (já estou treinando para os futuros estudos), expressarei-me apenas com um desenho. Como os famosos quadros de Frida, a minha "arte" não tem sentido para as outras pessoas, apenas para mim, que a fiz, então não ensejem entender meu âmago através dele.

Para completar o clima nostálgico, estava curtindo minha "circuntristeza", aqui cabe muito bem esse neologismo do grande Guimarães Rosa, ao som da banda Los Hermanos (O velho e o moço).
Sei do incômodo e ele* tem razão
Quando vem dizer que eu preciso sim
De todo o cuidado.

*adaptado
Ânimo para mim.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Um breve debate sobre Partidos Políticos e Eleitores no Brasil: Como se dá essa interação?

Esse texto originou-se de alguns textos que andei lendo. Acho que é sempre válido discutir esses temas, mostrando evidências empíricas, e numa linguagem mais cuidadosa e metodologicamente precisa. Assim, vamos refletir um pouco sobre a relação “partido político” e “eleitor” no Brasil.
Uma preocupação da Ciência Política brasileira é examinar o impacto (sobre os eleitores) das estratégias eleitorais (Kinzo, 2005). Segundo a autora é certo que os partidos políticos têm servido como aglutinadores de interesses da elite política, porém não se sabe qual seu papel na orientação da decisão do eleitor. O objetivo de Kinzo (2005) é focalizar os partidos na arena eleitoral e verificar se eles são capazes de servir como atalhos ao eleitor no ato de votar.
Para a autora, os eleitores brasileiros estão expostos a candidaturas individuais, o que geraria laços fracos entre partidos e eleitores. O principal inibidor dessa relação é a situação de informação limitada sobre os partidos. Os eleitores brasileiros não diferenciam os partidos que compõe o sistema partidário brasileiro. Segundo a autora, algo esperado em um cenário que combina baixo nível educacional e alta complexidade da competição eleitoral. Ela elege dois fatores que explicariam esse cenário. O primeiro é resultado de uma estrutura de incentivos que constrange os políticos e os partidos na arena eleitoral, e o segundo refere-se aos recursos organizacionais dos partidos.
Veja a seguir duas tabelas. A primeira mostra o percentual de pessoas que conhecem, já ouviu falar, ou já fez menção a algum partido. A segunda, refere-se a porcentagem de indivíduos que conseguem associar os nomes dos principais líderes partidários à sigla que fazem parte. (Os dados apresentados são Resultantes de uma pesquisa por amostragem realizada na região metropolitana de São Paulo e de dados secundários sobre preferência partidária das pesquisas nacionais do Data Folha, entre 1989 e 2002.)

In: Kinzo, 2005, pág. 71


In: Kinzo, 2005, pág. 72 (Para visualizar melhor, olhar tabela no texto original)

Perguntados sobre quais os partidos que conhecem ou ouviram falar, a resposta dos entrevistados mostra que o nível de fixidez dos partidos é extremamente baixo.
Sobre a Tabela 3: “Com a exceção do PT e do PMDB, que foram citados, respectivamente, por 80% e 59% dos entrevistados, mais da metade dos eleitores da RMSP (Região Metropolitana de São Paulo) não mencionou os outros partidos importantes (como PSDB, PFL, PPB, PTB e PDT) que formam o sistema partidário brasileiro.” (Kinzo, 2005, pág. 71)
“Ainda mais surpreendente é o fato de uma parcela considerável dos entrevistados não saber a que partido eram filiados os principais líderes políticos do país, como mostra a Tabela 4.” (Kinzo, 2005, pág. 71) É valido salientar que no período da pesquisa, Fernando Henrique Cardoso era o Presidente da República, e mesmo assim, apenas 29% dos respondentes sabiam a qual partido ele era filiado.
Assim, em que medida o contexto democrático em vigor desde 1985 tem contribuído para a consolidação dos partidos, do sistema partidário e da democracia?
Segundo Kinzo (2004) a concentração eleitoral ou a distritalização do voto está longe de ser o padrão dominante da competição política. Em sua perspectiva há uma tendência à dispersão e fracionamento do apoio eleitoral do que redutos perceptíveis. Assim, o fato dos eleitores não se lembrarem de quem é o seu deputado ou em quem votou nas últimas eleições legislativas é um bom indicador da inexistência de redutos eleitorais e de uma desvinculação entre parlamentares e eleitores.
A fragmentação do sistema partidário não seria problema para o funcionamento da democracia, claro se ela não afetasse o discernimento do processo eleitoral.
A conclusão de Kinzo (2004) é que a via eleitoral e a saída constitucional se afirmaram como caminhos seguros para a resolução dos impasses políticos. No entanto, alerta que o cenário partidário brasileiro é marcado por intensa fragmentação, fragilidade partidária, baixa inteligibilidade da disputa eleitoral e elevada volatilidade eleitoral (essas questões apontadas pela autora levariam a outro debate).
Por fim, a questão da identificação partidária no Brasil não tem sido observada de maneira detida, principalmente, no que tange ao comportamento eleitoral. Para os autores, não se registra na recente experiência democrática um crescimento significativo dos índices de partidarismo. A identificação partidária resultaria do julgamento que os eleitores fazem do desempenho dos partidos no conjunto de sua atuação. Porém, o jogo partidário-eleitoral brasileiro é pouco propício à formação de identidades.

Referências Bibliográficas:

KINZO, Maria D'Alva G.. Partidos, eleições e democracia no Brasil pós-1985. Rev. bras. Ci. Soc. , São Paulo, v. 19, n. 54, 2004 .

KINZO, Maria D'Alva. Os partidos no eleitorado: percepções públicas e laços partidários no Brasil. Rev. bras. Ci. Soc. , São Paulo, v. 20, n. 57, 2005 .
Obs.: Os textos referenciados estão disponíveis na internet.

O Político - Chico Buarque



O álbum O Político foi lançado no ano de 1991, pela Universal Music, como parte da coleção Chico 50 anos, a qual compunha ainda os seguintes títulos: O Malandro (1991), O Trovador (1991), O Cronista (1999) e O Amante (2000).

Congregando as principais músicas de protesto feitas por Chico Buarque, o álbum traz grande alusão aos momentos da ditadura militar brasileira, visivelmente perceptível na música Meu Caro Amigo, que consistia numa carta ao seu amigo exilado, Augusto Boal, além de exprimir o desabafo do povo, notório em Deus Lhe Pague, ambas alusões atemporais, conforme comenta o crítico Tárik de Souza no próprio encarte do cd:
"Toureou a Censura através de metáforas e imprimiu uma linguagem cifrada que não tirou a beleza de suas músicas nem reduziu seu trabalho à mera fabricação de panfletos de vida curta."
Canções aparentemente passionais, na visão de um olhar ingênuo, ganham caráter de protesto para quem sofria com as arbitrariedades dos "Anos de Chumbo". O sofrimento de Zuzu Angel à procura do corpo do seu filho, seria tema da música Angélica, denotando a angústia de tantas outras mães daquele Brasil.

As músicas relembram uma época que a Anistia Geral e Irrestrita tentou esconder; ainda hoje, entretanto, tal contexto histórico continua latente na lembrança de quem viveu e na atualidade de quem ouve as imortais canções de O Político, trazendo à tona um passado que queremos, porém não devemos esquecer.


*Créditos a Diogo, que me presenteou com o CD.

domingo, 7 de setembro de 2008

Ensinamentos de Cartier-Bresson

Algumas vezes, a gente tem a impressão de que tirou a fotografia mais forte e, contudo, continua a fotografar, sem poder prever com certeza como o evento continuará a desenvolver-se. Será preciso evitar metralhar, fotografar rápido e maquinalmente, sobrecarregar-se assim de esboços inúteis, que entulharão a memória e perturbarão a nitidez do conjunto.

A memória é muito importante, memória de cada foto feita ao galope, na mesma velocidade que o evento; é preciso ter certeza, durante o trabalho, de que não se deixou buraco, que tudo se exprimiu, pois depois será tarde demais, não será possível retornar o acontecimento às avessas.

CARTIER-BRESSON, Henri. O Imaginário Segundo a Natureza. 1. ed. São Paulo: Editorial Gustavo Gili, SA, 2004. p. 18.

Lendo tal trecho, consigo entender o quanto a leitura de A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen influenciou o entendimento de Henri Cartier-Bresson acerca da fotografia, serviu como um verdadeiro manual, conforme ele mesmo afirmou.

Na sutileza de suas frases, percebo ainda uma prévia crítica ao que viria a ser, anos depois, a fotografia digital, quando a banalidade das fotos perpassou a observação do objeto focado, aumentando a produção fotográfica em detrimento da acuidade do olhar, essência da arte fotográfica.

É evidente que tal versão do fato seria bastante semelhante à opinião um tanto radical, e certamente refutada pelo próprio fotógrafo, de Baudelaire, ao afirmar não ser a fotografia uma expressão artística.

Creio, no entanto, que tal discussão é bastante relevante para a sociedade digital em pleno desenvolvimento, além de resgatar um pouco do debate de Walter Benjamin, na questão da aura, em A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica.

sábado, 6 de setembro de 2008

Eleições

FONTE: JC (06/09/2008)

Na eleição passada (2006), para Governador (na qual Jarbas Vasconcelos apoiava Mendonça Filho), recebi um cordel (As três quedas de Jarbas e o Governo 232 - Marcelo Mário de Melo), que além de bem escrito, continha uma estrofe bastante profética:
Jarbas Gigante de Barro
é o que se deve dizer.
Em matéria de eleição
é um desmancha-prazer:
quando apóia um candidato
o pobre só faz perder.
O trecho remetia à derrota de Roberto Magalhães, na reeleição, e à tentativa frustrada de José Serra de chegar à presidência, dando a deixa para a possível e, posteriormente, confirmada derrota de Mendoncinha na disputa majoritária no Estado.
Na eleição deste ano, as pesquisas indicam que não será diferente, o estranho fenômeno tende a repetir-se para a infelicidade do simpático Raul Henry, que inexplicavelmente continua perdendo para Cadoca.
Candidatos, pensem muito antes de pedir o apoio de Jarbas!

*A edição do Diário de Pernambuco de amanhã, nas bancas desde hoje à tarde, divulgará que João da Costa já acumula 54% das intenções de voto.
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Memórias a Pelópidas da Silveira, prefeito da cidade do Recife em três ocasiões, sendo cassado em 1964, durante seu terceito mandato, por ordem dos militares.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sobre a Construção do Sentido

Estou lendo e ficando cada vez mais apaixonada pelo livro Sobre a Construção do Sentido: O Pensar e o Agir entre a Vida e a Filosofia. Reproduzi abaixo outro trecho que me emocionou.
"A constatação da privação, e a luta pela sua superação: eis o mote maior da luta pela vida. O cacto que armazena a parca quantidade de água no deserto, a pequena tartaruga que corre na esperança de atingir o mar antes que os predadores a alcance, o caranguejo-eremita à procura de uma concha vazia onde proteger seu frágil ventre, a salamandra que sacrifica um membro pela vida, o peixe que desenvolve alternativas de respiração aérea que lhe permitem viver até mesmo em águas podres, o outro peixe que coloca ovos no charco raso que logo secará, morrendo em seguida - mas os ovos reviverão na próxima cheia - o que há em comum entre eles? Exatamente isso: fazem privação - de alimento, de segurança, etc. - impulsos para sua própria sobrevivência, sua e da espécie. [...]
Evidentemente, estamos falando aqui não de atitudes conscientes, mas de algo que se aproxima da noção de 'instinto', tal como é normalmente compreendida. Mesmo a criança que nasceu seriamente doente ou com lesões graves optará sempre, dentro de todas as suas possibilidades, pela vida. [...]
Uma das melhores expressões dessa corajosa atitude de enfrentamento das múltiplas facetas da realidade é a conhecida 'fase dos porquês', pela qual toda criança passa. O truncamento, a banalização ou o desencorajamento do sentido objetivo dessa fase, por parte dos adultos - que têm, muitas vezes, a capacidade de, em poucas palavras, esterilizar a sadia curiosidade infantil - conduz geralmente aquilo que chamamos 'a primeira possível morte da filosofia' [...]."
SOUZA, Ricardo Timm. Sobre a Construção do Sentido: O Pensar e o Agir entre a Vida e a Filosofia. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. p. 31-34.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Saudade da boneca Soninho

Soninho era o nome de uma boneca muito querida que eu tive na minha infância, quando tinha cerca de cinco anos de idade. Certo dia, Soninho ficou velha(?) e feia(?), eis que minha mãe decidiu "seqüestrá-la". Os dias passaram, a ausência de Soninho foi sendo percebida, mas ao perguntar sobre o paradeiro da boneca, só ouvia "não sei" como resposta. Meio que já desconfiada que minha mãe faria isso a qualquer momento, não prolonguei as buscas e pus-me a chorar bastante, de saudade e de tristeza, pois nunca mais tornaria a vê-la. E assim os anos se passaram, mas o dia do sumiço da querida Soninho, ainda hoje, permeia a minha memória e com freqüência reaparece em meus pensamentos, pois nunca gostei de nenhuma outra boneca quanto gostei dela.

Hoje, lendo um texto, que versava sobre a Pluralidade de Perspectiva, para a cadeira de Introdução à Filosofia, encontrei algo que minha mãe deveria ter lido antes de tomar a decisão de jogar Soninho no lixo ou tê-la dado a alguma outra criança. Ao ler, senti uma saudade grande da minha companheira de outrora.
"Um velho brinquedo de pelúcia de uma criança que, segundo sua mãe, merece ir para o lixo, pode ter para quem o possui um sentido infinitamente mais rico, em relação ao qual a simples idéia de descartá-lo significa uma agressão."
SOUZA, Ricardo Timm. Sobre a Construção do Sentido: O Pensar e o Agir entre a Vida e a Filosofia. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. p. 17.

Arnaldo 2

Só depois de anos, realmente conheci o tal Arnaldo Antunes, com sua voz grave, cantando ao lado da sublime Marisa Monte e do polêmico Carlinhos Brown. A grande aceitação das músicas "Já sei Namorar" e "Velha Infância" propiciou o sucesso da banda de um disco só, Tribalistas, despertando a minha curiosidade.
De fato, as duas músicas supracitadas são bem comerciais; o melhor da trio, no entanto, só pôde ser conhecido por quem foi atrás das outras canções. Lembro-me de um almoço na casa da minha tia, que não era a noiva (do post anterior), onde assistimos ao DVD dos Tribalistas, em que algumas músicas e expressão chamaram a minha atenção. Posteriormente, assistindo ao DVD em casa, com mais calma, apaixonei-me pela acuidade com a qual eles trabalharam o som e pelo companheirismo, sem preocupações mercadológicas, usado nas composições.
Alguma outra coisa, que até então eu não sabia explicar, continuava chamando-me para aquelas imagens. Eis que cheguei a resposta, a figura de Arnaldo Antunes intrigava-me de alguma maneira, a princípio, nem para o bem, nem para o mal. O semblante do cantor chamou a minha atenção por ser um homem e portar-se como garoto. Ainda hoje não sei explicar ao certo o que me fez despertar para ele, mas a sua voz de homem em contraste com o seu jeito de moleque resulta num charme indescritível e único.
Após perceber o motivo de tamanho êxtase sentido ao ver o DVD, liguei para Amanda, grande amiga, e, mesmo temendo as críticas já esperadas, falei na lata: Arnaldo Antunes é lindo! Ela, quase que sem acreditar, apesar de sempre dizer que tenho um gosto estranho, perguntou se ele era quem ela pensava que era. Quando tudo foi confirmado, fui chamada de louca, conforme previ, mas, ainda assim, não desisto de gritar que ele é lindo.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Arnaldo

Sem nostalgia, começarei esse texto contando algumas memórias. Há mais de oito anos, meu tio preparava-se para o dia que mudaria radicalmente a sua vida, depois do Pedido de Casamento, era a hora de oficializar os laços matrimoniais.
Lembro que na véspera do grande dia, contrariando a idéia que as crianças são levadas a ter, através das novelas da Globo, sobre "despedida de solteiro", meu tio passou o dia em casa. Pode-se dizer que a tal festa ocorreu, mas de forma bem diversa da "tradicional". Nós, sobrinhos, fizemos companhia ao noivo durante toda a tarde, ao som de Titãs, quando era a anárquica banda de outrora, claro.
Recordo de ter ouvido e cantado, ainda que não soubesse as letras, as várias músicas do vinil Cabeça Dinossauro. Na época, sem qualquer dicernimento, não entendemos as entrelinhas das canções, como "homem primata, capitalismo selvagem, ô ô ô", mas o som garantia os nossos pulos na cama. Uma das tarde mais vivas na minha memória, o dia em que fui apresentada à rebeldia daqueles jovens e, indiretamente, a Arnaldo Antunes.

*Hoje é aniversário de Arnaldo Antunes.