quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sobre a Construção do Sentido

Estou lendo e ficando cada vez mais apaixonada pelo livro Sobre a Construção do Sentido: O Pensar e o Agir entre a Vida e a Filosofia. Reproduzi abaixo outro trecho que me emocionou.
"A constatação da privação, e a luta pela sua superação: eis o mote maior da luta pela vida. O cacto que armazena a parca quantidade de água no deserto, a pequena tartaruga que corre na esperança de atingir o mar antes que os predadores a alcance, o caranguejo-eremita à procura de uma concha vazia onde proteger seu frágil ventre, a salamandra que sacrifica um membro pela vida, o peixe que desenvolve alternativas de respiração aérea que lhe permitem viver até mesmo em águas podres, o outro peixe que coloca ovos no charco raso que logo secará, morrendo em seguida - mas os ovos reviverão na próxima cheia - o que há em comum entre eles? Exatamente isso: fazem privação - de alimento, de segurança, etc. - impulsos para sua própria sobrevivência, sua e da espécie. [...]
Evidentemente, estamos falando aqui não de atitudes conscientes, mas de algo que se aproxima da noção de 'instinto', tal como é normalmente compreendida. Mesmo a criança que nasceu seriamente doente ou com lesões graves optará sempre, dentro de todas as suas possibilidades, pela vida. [...]
Uma das melhores expressões dessa corajosa atitude de enfrentamento das múltiplas facetas da realidade é a conhecida 'fase dos porquês', pela qual toda criança passa. O truncamento, a banalização ou o desencorajamento do sentido objetivo dessa fase, por parte dos adultos - que têm, muitas vezes, a capacidade de, em poucas palavras, esterilizar a sadia curiosidade infantil - conduz geralmente aquilo que chamamos 'a primeira possível morte da filosofia' [...]."
SOUZA, Ricardo Timm. Sobre a Construção do Sentido: O Pensar e o Agir entre a Vida e a Filosofia. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. p. 31-34.

19 comentários:

Peterson Uchoa Mayrinck disse...

Acho que esse professor vai me ajudar a construir um sentido para o curso de Jornalismo.

:D

Girabela disse...

Também estou pensando isso, porque a cada página, sinto-me mais animada. Espero que assim permaneça. Sabe, às vezes acho que ele assemelha-se ao professor que Robin Williams interpreta em Sociedade dos Poetas Mortos. haha.

Santiago. disse...

n entendi bem isso. n dá p comparar atitudes humanas (produtores de símbolos culturais) com outros seres vivos (q apenas repetem atitudes, atitudes n reflexivas). Darwin já atentava para o fato de q a competição não enfocava o sucesso individual, mas sim, o sucesso reprodutivo da espécie. Pensamento inclusive q deve muito a Lamarck e Herbert Spencer.

"Mesmo a criança que nasceu seriamente doente ou com lesões graves optará sempre, dentro de todas as suas possibilidades, pela vida. [...]"

há controvérsias em relação a isso. basta estar atento aos debates sobre a eutanásia. para mim ele qr comparar atitudes de um caranguejo-eremita ao de um ser humano!

tirando a última análise, q refere-se ao momento de socialização mais importante, o resto parece mais auto-ajuda. algo mais sistemático parece ser aqle desenvolvido por Freud, Mead, Piaget e Erikson que vão falar sobre processos de internalização de regras.

abraço.

asadebaratatorta disse...

Em filosofia, ou pelo menos naquelas sérias, há uma série de regras entre os dois métodos clássicos para aquisição de conhecimento válido: a) a dialética, que consiste no método mais difundido de investigação do conhecimento; b) a lógica, ou analítica(para aristóteles), representa a averiguação das condições de validade e veracidade do conhecimento obtido pela investigação dialética.
No caso de ciências empíricas, também os dados representariam tal papel probatório.

Schopenhauer, o tão adorado entre as mulheres, divagando sobre técnicas de debate entre intelectuais, critica uma forma básica de retórica a qual ele mesmo confunde com a dialética: a erística, ou a arte de fazer passar qualquer tipo de idéia como a verdade.
Uma das características da erística é o paradoxo entre a generalização extrema e a evocação de uma realidade apenas apreensível em seu singular contexto.

Enfim, construir os significados do mundo a partir de uma simples categoria como privação possui um alto valor poético, e são realmente muito bonitas as palavras do autor. Porém, isso não é a verdade. Isso poderia ser, até mesmo, um aspecto observável da mesma.

Algumas teorias, seja no âmbito sociológico ou em outros, como é o caso da psicanálise, apenas se aproveitam de realidades observáveis para uam generalização de cunho meramente explicativo. "Explicam tudo", mas, no fundo, são vazias de um entendimento crítico ou de compreensão. Existe toda uma técnica que liga, por exemplo, teorias ao que se convenciona de realidade empírica. Não é um troço fácil e nem todo mundo chega realmente lá.

Bom, também não posso simplesmente criticar um livro inteiro por causa de um simples trecho. É isso. =P

Girabela disse...

Já estava prevendo crítica ao livro com esse tom de "nossa, parece auto-ajuda" ou até mesmo "é erística", haha. No mais, continuo gostando ainda assim.

Rodrigo, quando Ricardo "compara" as atitudes dos seres vivos (latu sensu), ele deixa claro que se trata da noção de instinto e não de um ato consciente por parte desses seres.
"Evidentemente, estamos falando aqui não de atitudes conscientes, mas de algo que se aproxima da noção de 'instinto', tal como é normalmente compreendida."

Obrigada, garotos, pela preocupação em alertar-me.

Santiago. disse...

eu tb li isso gabriela. agora veja, o cara faz uma série de analogias entre outros seres vivos em relação à vida. ok. e imediatamente após fala: "Mesmo a criança que nasceu seriamente doente ou com lesões graves optará sempre, dentro de todas as suas possibilidades, pela vida." veja a seqüência do raciocínio dele. Ele diz q são atos irracionais, mas depois utiliza um argumento (exemplo) cm se os humanos agissem da msma maneira.

no mais, devo fazr uma ressalva. Tb devo dizr q n posso classificar um livro apenas por um trecho dele.

abs.

asadebaratatorta disse...

mas que ese trecho é suspeito, ah, se é. =P Se é eristica ou não, acho complicado inferir isso a partir do que eu disse. =P hahaha ^^'
Mas, as palavras também são feitas para emocionar. No bom sentido, claro. =P
Longe de mim querer "tirar o doce da criança" ou qualquer coisa assim.
Até deve ter sua verdade a fala do autor. Não sei o que rodrigo pensa sobre esse tal de 'instinto'. Algumas pessoas diriam que ele muda de acordo com a cultura. =P
Mas, brincando com as palavras, vamos brincar de dialética: a cada impulso em busca pela vida, o ser humano procura, inconscientemente(nossa, eu adoro isso =P), a própria morte. O oxigênio nos dá a vida e também a morte. =P


hahahaha =P E aí?:p

Girabela disse...

Rafael, a Dialética não seria apenas uma das várias formas de entender o mundo? Então acho que mesmo que não siga a Dialética (confesso que ainda não sei bem o que ela significa), o texto não necessariamente deixa de ser Filosofia.

asadebaratatorta disse...

a outra fomr a de conhecimento é a lógica, ou analítica. ela disseca a dialética em sua scondições de possibilidade. Dialética é um método investigadtivo que compreende 3 movimentos: tese, antítese e sintese. Aplica-se uma proposição como verdadeira e empiricamente verificável. Aplica-se em seguida, uma coisa oposta e também empiricamente verificável. No final, no resultado, uma síntese, uam espécie de "nem um nem outro mas um pouco dos dois". O que estamos fazendo, de certa forma, é um movimento dialético. E o livro pode ser considerado filosofia sim, no sentido amplo do termo.

Mas, falando mais como cientista social e menos cmo filósofo, pra mim, o trecho não passa de uma ideologia reducionista de mundo. =P

asadebaratatorta disse...

Vale ressaltar que, para os grande s filósofos, tipo platão, Sócrates, Aristóteles etc, a forma mais pura e perfeita de dialética é aquela que se aplica a si mesmo: uma espécie de reflexividade. Isso é o que diferencia quem simplesmente que r passar uma idéia ou acredita nela, ou quem simplesmente quer "vencer" um debate e provar seu ponto de vista superior ou procura no seu intimo algo que se aproxime de uma verdade digna. =P

Santiago. disse...

qm faz esse processo muito bem é o Marx em "O Capital". Lá vc vê o processo de análise, (tese x antítese)- síntese, confluindo na sua dialética.

Estamos discutindo METODOLOGIA aqui... Isso é bom!

Pena q nem todos os campos do saber levam isso tão a sério!

Girabela disse...

"Pena q nem todos os campos do saber levam isso tão a sério!"


Já tás xingando meus amigos jornalistas, é? Aff.

Santiago. disse...

n gabriela, n me leve a mal, mas eu estou falando de Ciência, então n estava nem pensando em
jornalismo. até pq vc já sabe o que eu penso a respeito do jornalismo, e é engraçado q alguns estudantes de jornalismo (os lúcidos) tb pensem igual a mim.

no mais, até disciplinas q visam a análise empírica e generalização (teoria) tem problemas com metodologia, justamente por ter preocupações de caráter explicativo, e não apenas descritivo. por isso, é um tema tão freqüente em debates de cunho acadêmico.

esse texto tá rendendo hein?!

té breve!

Girabela disse...

Ah bom. Então é hora de mangar da nossa amiga de odonto, hihihi :X

Brincadeira.

André Raboni disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
André Raboni disse...

Achei por acaso esse blog, em orkut's alheios, e até aqui, posso dizer que gostei do blog. Virei aqui outras vezes para confirmar depois se gostei mesmo ou não... Por enquanto, só ipressionismo vago.

Tenho uma ressalva pra tudo isso que vocÊs estão discutindo: onde está a ausência? Onde está a falta? Em uma palavra: cadê o nonsense?

Recomendo um dia buscar um pouco de abalo sísmico, balançar de estruturas, e procurar o livro "A Lógica do Sentido" (Guilles Deleuze).

Desde jé alerto: é perigoso...

Girabela disse...

André, o livro que você recomendou concorda ou discorda com o que Ricardo Timm expressa? Não ficou clara a sua opinião.
No mais, seja bem-vindo!

Dio disse...

A Lógica do Sentido, que não existe no seu post.

Abraços,
Diogo.

Mai Melo disse...

depois de tudo que foi comentado nesse post, me sinto uma pessoa muito rasa diante do que vou falar, mas é impossível conter:

a fase das perguntas é a mais maçante pra mim, entretanto me via na obrigação de esclarecer as dúvidas da criança. agora posso sem peso nenhum dizer:

"pensa e descobre, menino. não mata a filosofia!"