sexta-feira, 29 de maio de 2009

"Bette Davis Eyes"

Dentre as grandes estrelas do cinema norte-americano, uma possui luz própria. Bette Davis foi modelo para seus colegas na arte da interpretação, e é referência para os amantes do cinema clássico americano. Na vida, era geniosa e temperamental. Criou várias inimizades com os colegas de trabalho. Mas sua personalidade sempre esteve associada a de uma mulher forte, sabedora de suas qualidades, que apostava no seu talento e que não admitia ser tratada como objeto pelos executivos dos estúdios. Para seu tempo, ela conseguiu algo praticamente impensável: ser o símbolo do mais puro feminismo quando nem mesmo o movimento estava consolidado.

Ela ganhou dois Oscars de melhor atriz pelos filmes "Dangerous"(1935) e "Jezebel" (1938), mas para além dos prêmios recebidos, sem dúvida, assistir um filme seu, é proporcionar uma festa para os olhos. Para começo, indico "All About Eve"(1950) e "What Ever Happened to Baby Jane?" (1962).

Tornou-se conhecida do público mais jovem quando, em 1981, a cantora Kim Carnes lançou a canção "Bette Davis Eyes" (não à toa, título do post) que se tornou um sucesso pelo mundo à fora. Nos EUA, ela permaneceu como a mais tocada nas rádios durante dois meses. No vídeo abaixo, você pode conferir o hit. As cenas iniciais são do filme "What Ever Happened to Baby Jane?". E a atriz que aparece é Joan Crawford, umas das atrizes da época que não se dava bem com Bette Davis. Daí a brincadeira de quem fez o vídeo, nas passagens em que Davis aparece, Crawford parece surtar e demonstrar enorme ódio. Aos 33 segundos, é passada uma cena clássica de "All About Eve", na qual a atriz dá um show de interpretação, e diz com todo seu charme e elegância: "Apertem os cintos de segurança. Vai ser uma noite turbulenta."

Além da referência da música de Kim Carnes, outras homenagens estão nas músicas de Madonna - "Vogue", e do Bob Dylan - "Desolation Row". No próprio cinema, em "Todo sobre mi madre", do Almodóvar, é feita uma homenagem ao filme "All About Eve", e claro, à Bette Davis.

Há algum tempo, Bette Davis nos deixou (06/10/1989). No entanto, para os apreciadores do bom cinema, a impressão é que ela está viva, acessível através de seus filmes que nunca deixaram de ser exibidos na televisão, nas coleções de DVD, e nas biografias escritas a seu respeito. Esse culto em torno do nome de um artista é reservado apenas àqueles que aqui pisaram e conseguiram deixar sua marca. E é claro, Bette Davis é um desses mitos da sétima arte. Suas interpretações são altamente recomendadas. Não sem razão, Kim Carnes canta a beleza e expressividade do seu olhar. Pode conferir!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

"Estou chegando quase"

Ontem assisti a Budapeste, adaptação cinematográfica do aclamado (terceiro lugar no Prêmio Jabuti de 2004) e debochado livro homônimo de Chico Buarque, que dispensa qualquer apresentação. Deixando de lado qualquer juízo de valor sobre a literatura e sobre o filme, dirigido por Walter Carvalho, comentarei alguns detalhes bobos com os quais me identifiquei. José Costa, brasileiro boêmio e escritor anônimo, desviado da rota de sua viagem — assim como Cabral, tal qual a historiografia oficial faz-nos crer — foi parar em outro lugar: Budapeste, capital húngara. Às margens do rio Danúbio, o escritor, que a essa altura do romance já é Kósta Zsoze (seu nome em húngaro), aprende o único idioma que o diabo respeita com uma interessante budapestina, Kriska. A árdua tarefa de aprendizagem do húngaro pela qual o protagonista passa, lembrou-me a minha dificuldade com a língua inglesa. Senti-me José Costa (!) por alguns instantes. Algumas situações engraçadas e até gafes cometidas por ele assemelharam-se às grandes bobagens que escrevo ou aventuro-me a falar no idioma britânico. Claro que ele tem como desculpa a imensa diferença entre o húngaro e o português, mas, para o meu próprio bem, não posso deixar de concordar com a sua lição: Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

As frutas lá de casa

Durante grande parte da minha infância, morei com os meus avôs em uma casa de quintal grande e repleta de árvores e plantas frutíferas, que sempre me chamaram atenção. No jardim da casa, junto ao muro que dava para a rua e na beira de um pequeno espelho d'água, havia — na verdade, ainda há — uma robusta mangueira que produzia deliciosas mangas rosas.

Em épocas de safras de manga, "sofríamos" com os vizinhos e desconhecidos que, invariavelmente, tocavam a nossa campainha para pedir alguns daqueles frutos. Certa vez, inclusive, acordei com o barulho de uma pedrada na janela do quarto jogada por garotos que tentavam acertar as mangas e levá-las. Em geral, tirávamos as frutas da árvore antes mesmo delas ficarem completamente maduras para evitar situações como esta e, principalmente, para não deixar que elas caíssem no laguinho, pois se isso acontecesse iríamos perdê-las.

Eu e meu irmão, às vezes, escalávamos o tronco daquela árvore para ver o que acontecia por trás daquele imenso muro. Lembro-me do dia em que nós estávamos pendurados nos galhos da mangueira, observando o movimento da rua, e fomos surpreendidos pela sirene da polícia que passava naquele momento. Assustada com o barulho e imaginando muitas bobagens, comecei a chorar e, num (raro) gesto de fraternidade, meu irmão prontificou-se a me defender de qualquer mal que pudesse ocorrer.

Muito tempo depois — quando eu já nem era mais uma criança e estava prestes a me mudar daquela casa —, resolvi, mesmo contrariando vovó, relembrar como era subir na mangueira. Já em cima da árvore, observando as pessoas passarem na rua, ouvi a voz da minha avó, temendo receber uma reclamação, desci e tentei correr para dentro da casa, mas caí no laguinho. Ensopada de água, foi difícil esconder de vovó que a desobedeci, levei uma bronca, mas a aventura valeu a pena, foi a última vez que subi naquela árvore.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Que livro você é?

Esses dias, fiz o teste Que livro você é? e descobri que sou Antologia Poética, de Carlos Drummond de Andrade. O resultado completo dizia:
"O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua". Estes versos tocam você, pois você também observa a vida poeticamente. E não são só os sentimentos que te inspiram. Pequenas experiências do cotidiano – aquela moça que passa correndo com o buquê de flores, o vizinho que cantarola ao buscar o jornal na porta – emocionam você. Seu olhar é doce, mas também perspicaz.
"Antologia poética" (1962), de Drummond, um dos nossos grandes poetas, também reúne essas qualidades. Seus poemas são singelos e sagazes ao mesmo tempo, provando que não é preciso ser duro para entender as sutilezas do cotidiano.
De fato, não sei se concordo com o que diz o resultado, mas ele bem que se assemelha à minha pessoa, sentimental.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

"Até o fim um amador"

Certa vez, eu vi um amigo queimar-se com cigarro para não esquecer a lição que aprendeu com aquela cicatriz. Hoje eu escrevo com o mesmo intuito.

Esses dias estive pensando algo bastante óbvio: Na vida só se aprende vivendo! Conselhos são realmente valorosos, mas são ineficazes enquanto não se acredita que eles são possíveis, enquanto não se aprende que eles são certos. Antes disso, infelizmente, eles entram por um ouvido e saem pelo outro. Pensei também outra coisa bastante óbvia, mas que, quando estamos do outro lado da moeda, esquecemos e/ou ignoramos: Cada pessoa aprende em um espaço de tempo diferente e é necessário paciência para entendê-las. E ainda que o mundo gire cada vez mais veloz, como diz Lenine, é preciso ter paciência. Os "aprendizes", contudo, também não podem esquecer e/ou ignorar o outro verso da mesma música, "A vida é tão rara", e deixar para amanhã o que podem e devem resolver hoje.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Um bom motivo para dar adeus ao amigo trema

As alterações advindas da “reforma” já foram alardeadas aos quatro cantos, mas pouco se disse sobre o motivo político que torna essas mudanças relevantes.

Antes, é preciso esclarecer o equívoco de que se trata de uma reforma, quando, na verdade, o que se pretende é um acordo. Ao contrário de alterações substanciais na ortografia, tal acordo tem como conseqüência a mudança de somente — segundo o professor da UNB, Marcos Bagno — 0,5% das palavras escritas em “português brasileiro”.

Durante anos, Portugal transformou a duplicidade de ortografias em embargo às nossas pretensões internacionais. Sob tal pretexto, por exemplo, a nossa emissão de certificados de proficiência em português não é ratificada em Portugal e a livre circulação dos nossos livros é impedida em países lusófonos.

Como disse Alberto Faraco, professor da USP, por motivos econômicos, sociais e, sobretudo, educacionais, a ortografia de um idioma deve manter-se o mais estática possível. No contexto atual, entretanto, defender a validade do acordo é de grande relevância para firmar o nosso papel no cenário mundial e, principalmente, para unificar o idioma português — e não a língua portuguesa.

Referências:
Não é reforma, minha gente, é só um acordo! - Marcos Bagno
Uma mudança necessária - Alberto Faraco
E agora, Portugal? - José Luiz Fiorin

domingo, 3 de maio de 2009

Em tempos de gripe suína...

Várias são as histórias feitas a partir de releituras dos clássicos infantis, um exemplo é a evidente versão de Chapeuzinho Vermelho produzida por Chico Buarque, em 1997, sob o título de Chapeuzinho Amarelo. Ontem, foi a vez do chargista Miguel dar um novo rumo à história dos Três Porquinhos com uma charge cômica, embora trágica.

FONTE: Jornal do Commercio (02 de maio de 2009).

sábado, 2 de maio de 2009

Adeus, Boal

Coincidentemente, depois de voltar de uma peça, recebi, de uma amiga, a triste notícia da morte do embaixador mundial do teatro. Na madrugada de hoje (02/05), Augusto Boal, que sofria de leucemia, foi internado, em hospital no Rio de Janeiro, com quadro de infecção respiratória e não resistiu, falecendo aos 78 anos. Como legado, Boal deixa toda a sua trajetória teatral e uma grande lição:
Todos os seres humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos "espect-atores" .

Outras referências do blog ao dramaturgo:
1976--Chico Buarque e Augusto Boal
O Caráter Cênico VI: Sobre Augusto Boal

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Pra comemorar!

Ontem, o Secretário Executivo do Ministério da Cultura (MinC) e a secretária de Articulação Institucional do MinC vieram a Pernambuco entregar o primeiro kit da iniciativa Ponto de Leitura.

Criado por iniciativa do Ministério da Cultura, em 2008, o Ponto de Leitura é uma ação que tem como objetivo apoiar projetos de leitura desenvolvidos por pessoas físicas e jurídicas, sem fins lucrativos, em todo o Brasil. Visando melhorar a infra-estrutura de bibliotecas já existentes, o Ministério da Cultura disponibilizou, no fim do ano passado, edital (I Concurso Pontos de Leitura 2008) para, através das ações do Ponto de Leitura, beneficiar tais projetos com kits compostos de livros, computador, mobiliário, além de gibis.

A Livroteca Brincante, antiga "Os Guardiões", na Comunidade do Bode, no bairro do Pina, foi o primeiro projeto contemplado pela iniciativa e além do kit, conta agora com nova sede - uma casa de verdade -, custeada pela Prefeitura da Cidade do Recife. Idealizada por Ricardo Gomes Ferraz, mais conhecido como Kcal Gomes, a Livroteca existe há mais de um ano e é motivo de orgulho para a comunidade, que só aparecia nos noticiários “policialescos”.

Ao todo, mais 513 projetos, de todo o país, serão beneficiados, sendo 30 deles (incluindo a Livroteca Brincante) localizados no Estado de Pernambuco. Além do Ponto de Leitura, o MinC está investindo na campanha "Cada Município, Uma Biblioteca”, que tem como objetivo zerar, até metade deste ano, o número de municípios, de todo o país, desprovidos de biblioteca.


" Todos nós estamos sentados na lama,
mas alguns de nós estão olhando as estrelas. "
Kcal Gomes