segunda-feira, 21 de julho de 2008

1976 -- Chico Buarque e Augusto Boal


Chico Buarque compôs MULHERES DE ATENAS para peça homônima de Augusto Boal, sugerindo a metáfora da submissão feminina, não só no mundo grego, mas no próprio Ocidente.
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas

Quando amadas se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem imploram
Mais duras penas, cadenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Guardam-se pros seus maridos
Poder e força de Atenas

Quando eles embarcam soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam, sedentos
Querem arrancar, violentos
Carícias plenas, obscenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos
Bravos guerreiros de Atenas

Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar um carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas, Helenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos
Os novos filhos de Atenas

Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas, morenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos
Heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas, não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
As suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos
Orgulho e raça de Atenas


Chico Buarque musicou, com
Francis Hime, a carta destinada ao dramaturgo Augusto Boal, exilado em Lisboa, sob o título de MEU CARO AMIGO.
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita

Aqui na terra tão jogando futebol

Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando e também sem a cachaça

Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol


Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol


Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho

Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças

O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus

9 comentários:

Mai Melo disse...

Estudei Boal quando pesquisava sobre teatro experimental para o trabalho de Bigi. Integrando o Teatro de Arena, é, sem dúvida, um dos principais nomes da arte cênica no Brasil. Boal é responsável pelo Teatro do Oprimido, que sofre influências de Gilberto Freyre e é uma das modalidades mais aplicadas no mundo. Por conta desse modelo, Augusto Boal é um dos indicados para o Nobel da Paz deste ano. Interessante você ter explorado a ligação dele com Chico, Gabi. A música Meu Caro Amigo é o primeiro contato de muitos com Augusto Boal, o meu inclusive. Quanto ao Buarque, sou fã frenética de seu uso da palavra. Duas grandes personalidades e um blog cabeça de uma garota pé.

Dio disse...

Nunca li nada de Boal, só sabia quem era ele, não por Meu Caro Amigo, mas por ouvir seu nome várias vezes em textos sobre teatro e tal. Interessante a música de Chico "Mulheres de Atena", pois acredito que todos que escutem fiquem com cara de bunda, sem saber de onde diabos ele tirou aquilo. Muito bom saber a origem, e saber que é do caro amigo dele, Boal. E, por sinal, se eu fosse este, nunca voltaria do exílio, só pra ficar recebendo cartas como essa. hahahahahha

É isso.

Mai, morgou os trocadilhos com o nome do blog. Vê se apruma essa mão na hora de escrever pra eu não ficar no seu pé depois.

Abraços,
Diogo.

Mai Melo disse...

haushsushaushahu...
eu sou viciada nessa coisa, dio!
e o outro trocadilho nem fui eu, tinha que deixar o meu por aqui.
=)

Mai Melo disse...

sim...
mas prometo que paro depois desse pé na bunda.
;)

Dio disse...

hzuuuasheauhs

Girabela disse...

Antes o pé que a mão na bunda, pensem nisso!
Quanto a Boal, não sabia dessa influência de Gilberto Freyre, só sabia da do outro Freire (com i mesmo), o Paulo.
Pesquisei sobre o Nobel da Paz e não achei os outros indicados desse ano, será que Boal ganha?
AAh, fiquem sabendo que estou a preparar um textinho sobre o Caro Amigo Augusto Boal.

Abraços,
Gabriela.

Mai Melo disse...

Gabi, você está certa, é o Paulo. Não pesquisei antes de comentar, fiz pelo que eu lembrava e confundi os dois. Hilário esse erro após o último assunto abordado no blog. Bela aprendiz de jornalista eu! Tou seguindo a risca os moldes atuais. x)

Girabela disse...

asdjkhsakjdhsakd
Mai, deixa disso, quero te conhecer ♫

Mai Melo disse...

haushsushsahhahu
gabi,
vem ni mim, vem ni mim... ♫