terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Meu pé de maracujá

Quando eu era criança e meus pais ainda estavam casados, morávamos numa casa pequena, que eu odiava. O meu ódio pela casa não era por causa do seu tamanho, claro, mas pelo que ela representava para mim: as brigas conjugais dos meus pais. Eu tinha pesadelos todas as noites com aquele lugar e vivia chorando sem algum motivo aparente, hoje até desconfio que tive depressão.

A vizinhança também não era das melhores. Seu Calixto, vizinho que morava na casa do lado direito da nossa, criava vários animais, como porcos, galinhas e cachorros e cultivava várias frutas, se achava o granjeiro, mas a casa tava mais para chiqueiro. Eu e meu irmão não gostávamos dele, pois todo o cheiro dos estercos desses bichos iam para a nossa casa; meus pais, entretanto, eram bastantes amigos do velho, a que, inclusive, chamávamos secretamente de Arraes, por parecer com o político. Do lado esquerdo, havia uma casa verde-escura na qual morava uma mulher de meia-idade muito mal-humorada que não gostava de mim por volta e meia eu roubar uma rosa da sua roseira para presentear a minha avó materna. Nessa época, eu era bastante apegada a ela.

Alguns dias, contudo, eram felizes nesse lugar. Um que recordo bem foi quando um grande maracujá — cujo pé ficava no muro entre a minha casa e a de seu Calixto — caiu no meu quintal. Eu e meu irmão estávamos “paquerando” aquele maracujá há alguns dias, mas nossa mãe impedia-nos de pegá-lo, pois o vizinho poderia perceber e ficar chateado. Até que um dia, sem que tivéssemos nos esforçado para isso, o maracujá, que já estava pendendo para o nosso lado, caiu no chão no momento em que eu brincava no quintal com o meu irmão. Corremos, então, felizes ao seu encontro e entregamos a fruta a Mainha para que fizesse um bom suco de maracujá, do qual ela já havia falado muito bem.

Foi o meu primeiro suco de maracujá. E estava delicioso.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

De Joann Sfar para Saint-Exupéry


Antoine de Saint-Exupéry dispensa qualquer apresentação. O autor de O Pequeno Príncipe já teve todo o reconhecimento possível através da sua grande obra, traduzida da língua francesa para mais de 160 idiomas e dialetos, sendo o livro francês mais lido no mundo.

Publicado há mais de sessenta anos, nos Estados Unidos — por ocasião da lastimável Segunda Guerra Mundial — O Pequeno Príncipe ainda provoca emoção nos jovens e adultos que o lêem.

Tendo aprendido com o livro do aviador coisas sobre a morte e a aquarela, Joann Sfar — considerado um dos mais talentosos quadrinistas da nova geração franco-belga — publicou, no último dia 15, no Brasil, uma adaptação em quadrinhos do livro que já vendeu mais de 80 milhões de exemplares em todo o mundo.

Segundo a crítica, não se trata de uma versão fiel ao clássico infantil e é exatamente nisso que consiste sua beleza. O livro de Sfar já foi eleito pela revista francesa Lire a melhor História em Quadrinhos do ano. Um grande presente a Saint-Exupéry no 65º aniversário de publicação de O Pequeno Príncipe.

Nesse último Natal, eu que tive a honra de ser presenteada com toda a singeleza deste clássico que não canso de ler. A adaptação em quadrinhos, pelo que já pude conferir, foi detalhadamente produzida e o resultado parece muito bom. Certificarei-me disso depois da agradável leitura que farei assim que puder.

Obrigada, Papai Noel.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sobre maracatus e carnavais

Quando eu era criança, minha família (meus avôs, minha mãe e meu irmão) costumava fugir do barulho das troças do carnaval recifense indo para a Zona da Mata do Estado, aproveitando a ocasião para visitar minha tia-avó. A viagem não me agradava muito, mas não adiantava reclamar.

Minha tia-avó, que também era minha madrinha, chamava-se Antônia, carinhosamente chamada de tia Nita, morava em Carpina, cidade natal da família da minha avó materna. A casa, que era bem grande e bem antiga, lembrava as casas descritas em romances do século XIX. Naquela época, as cidades interioranas seguiam o padrão "tudo acontece ao redor da pracinha", ainda que estivessem saindo dessa fase para uma mais comercial.

Tradicionalmente comum na Zona da Mata, o Maracatu de Baque Solto, também conhecido como Maracatu Rural, garantia a alegria de Carpina durante o feriado carnavalesco. Eu, entretanto, não me alegrava muito com ele. Os caboclos de lança - talvez pela iminência do duelo, ainda que fictício - davam-me medo. Meu avô, serelepe que só ele, ficava chamando os caboclos para perto de mim, obrigando-me a correr para os braços da minha mãe.

As tardes em Carpina eram bem pacatas. Os mais velhos, sentados em cadeiras de balanço, conversavam embaixo das árvores, enquanto eu e meu irmão, por não estarmos muito adaptados ao clima do interior, ficávamos escutando atentamente tais conversas. Eles falavam sobre, além de reminiscências, o "endiabramento" carnavalesco. Assim, cresci achando, graças aos meus progenitores, que carnaval era coisa do cão.

Nessa mesma época, o carnaval de Recife era um pouco diferente de como é hoje, ao menos é assim que o percebo. As troças, em geral, tocavam ritmos baianos, pois o axé estava na moda. Foi o auge da Banda Pingüim, com a música A vida inteira te amar, de André Rio tocando O bicho vai pegar, e de blocos como o Parceria, famoso por trazer bandas como "É o tchan" para a praia de Boa Viagem. Realidade transformada (ainda bem!) a partir dos governos de João Paulo e Luciana Santos, que instituiram a valorização das raízes pernambucanas no carnaval das cidades de Recife e Olinda, respectivamente.

O Maracatu de Baque Virado - diferentemente do Maracatu Rural, que é oriundo da cultura de Pernambuco - nasceu da tradição africana do Rei do Congo, que foi trazida para o Brasil através da colonização portuguesa. Caracterizado por um forte batuque, que energiza multidões durante o cortejo, o som deste maracatu pode, sem erro, ser verificado aos domingos nas ruas do Recife Antigo, sem hora nem lugar exato, sendo sempre uma surpresa boa encontrá-lo.

O meu primeiro contato com o Maracatu de Baque Virado, também chamado de Maracatu Nação, foi quando eu cursava a quinta série ginasial, durante os ensaios para a abertura dos jogos. O tema que o meu grupo (o vermelho) ficou responsável para retratar no evento esportivo foi A cultura pernambucana. Sinceramente, não lembro dos temas dos demais grupos (verde - eterno rival, azul e amarelo), mas me recordo bem dos ensaios e, principalmente, da apresentação final do grupo vermelho, que além de vários outros ritmos pernambucanos, mostrou um Rei Momo de dar inveja.

Durante alguns anos, enquanto eu migrava da minha infância para a adolescência, só pude curtir as festividades carnavalescas pela televisão, que, naquela época, dava total primazia ao carnaval carioca, mostrando as apresentações das escolas de samba à noite e reprisando-as à tarde. Ao completar meus quinze anos, consegui maior liberdade, podendo freqüentar o carnaval do Recife Antigo com amigos. Se na televisão já era emocionante, estar no Marco Zero, pulando ao som de Alceu Valença era algo impagável; cruzar com o batuque do maracatu nas ruas velhas do Recife também. E assim foi o meu carnaval até a minha fase "vestibulesca" (que durou muito) chegar e impedir tamanha folia.

Agora, livre do estresse do vestibular e com saudade do meu Recife em época carnavalesca, pretendo voltar às ruas, no próximo ano, para frevar. E enquanto o carnaval não chega (?), vou matando a saudade, ouvindo frevos-canção e pensando numa fantasia.


*Créditos às amigas Suzy e Mayra Luna, que me acompanharam aos carnavais no Recife Antigo.

Para sempre?

Dando continuidade ao tema da postagem passada, amor, compartilho aqui um poema de Ernesto Cardenal, poeta nicaragüense. Eu sou bastante leiga (e um tanto desinteressada) no âmbito poético - tanto que "conheci" Cardenal através de um bloquinho de notas de uma tia há algum tempo (anos!) - mas gostei dos versos, ainda que contenha um tom pedante de "meu amor é o melhor", por eles encaixarem-se bem na minha fase de "João amava Teresa que amava Raimundo..." Posto-os agora sem algum motivo especial, apenas por ter lembrado do poema esses dias e por ele aludir a um amor fracassado, tônica da postagem anterior, a qual me reporto.

Epigramas
Ernesto Cardenal

Ao perder-te eu a ti, tu e eu perdemos:
Eu, porque tu eras o que eu mais amava
e tu porque eu era o que te amava mais.
Mas de nós dois tu perdes mais que eu:
porque eu poderei amar a outras como te amava a ti,
mas a ti não te amarão como te amava eu.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Sabe aquele casal que você imagina feliz para sempre?


Na minha época de colégio, comecei a "acompanhar" um casal, que eu achava bem feliz, de uma série a mais. Eu não conhecia nenhum deles, mas ficava sempre torcendo pela felicidade dos dois. Com a interatividade digital, criada a partir do orkut, consegui saber mais sobre o casal e volta e meia "dar aquela espiadinha" para conferir se eles estavam juntos. Lembro de uma vez que vi um vídeo bem legal que a menina fez para comemorar o aniversário de namoro deles. Enfim.
Eis que, ontem, fui nos orkuts deles conferir se eles continuavam felizes, mas percebi que não só não estavam mais juntos, como cada um já está num outro relacionamento, coincidentemente o novo namorado da menina é um primo de segundo grau da minha mãe (Êta mundo pequeno). Um texto* bem cético em relação ao amor, no perfil da menina, chamou a minha atenção e deixou-me duplamente desapontada.
Sabe aquele casal que você imagina feliz para sempre? Era assim que eu via esse casal e, por isso tudo, fiquei desapontada em relação ao sentimento tão forte que é o amor.
No mais, vou cuidando para o meu amor ser igual ao de Amelie e durar para sempre. ♥

*O texto era o seguinte:

Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:
- 'Ah, terminei o namoro... '
- 'Nossa, quanto tempo?'
- 'Cinco anos... Mas não deu certo... Acabou'
- É não deu...?
Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.
Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos esta coisa completa.
Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.
Tudo nós não temos.
Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.
E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante... E se o beijo bate... Se joga... Se não bate... Mais um Martini, por favor... E vá dar uma volta.
Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.
O outro tem o direito de não te querer.
Não lute, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa ta com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.
Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.
Continuando ...
Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família?
O legal é alguém que está com você por você.
E vice versa.
Não fique com alguém por dó também.
Ou por medo da solidão.
Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.
Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?
Gostar dói.
Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.
Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo.
E nem sempre as coisas saem como você quer...
A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.
Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta.
Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.
E nem todo sexo bom é para namorar.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
Nem todo beijo é para romancear.
Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar.
Enfim... Quem disse que ser adulto é fácil?

Arnaldo Jabor (Relacionamentos)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Só no sapatinho


Sentiu inveja do jornalista iraquiano (informe-se aqui)?
"Seus problemas acabaram!" Jogue o sapato você também!
Neste link, você mesmo pode arremeçar sapatos em Bush. Divirtam-se!

*Créditos a Diogo Madruga, que me passou o link.

sábado, 13 de dezembro de 2008

A cortina de ferro à moda brasileira

Em 13 de dezembro de 1968, ou seja, há exatamente quarenta anos, era promulgado o Ato Institucional número cinco, o famoso, AI-5. Neste ano, voltaram a ocorrer mobilizações contra o governo militar, sobretudo, entre operários e estudantes. Duas greves marcaram as manifestações operárias e os estudantes também saíram em marchas pela redemocratização. Numa dessas, o estudante Edson Luís fora morto.

Para conter as manifestações de oposição, o general Costa e Silva decretou o AI-5, que dava poderes ao presidente para fechar o Congresso, as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais. Além de poder cassar mandatos de parlamentares, suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer pessoa, demitir funcionários públicos, decretar estado de sítio, e suspender garantias judiciais, como o habeas corpus, nos casos de crime contra a “segurança nacional”.

Desta maneira, o regime fechava todas as chances de expressão e oposição popular ao governo. Assim, a cortina de ferro à moda brasileira se constituía, estabelecendo um episódio de isolamento e extrema repressão, com relação a participação e mobilização política e cívica. Com o AI-5, a ditadura entrou em sua fase mais cruel, com perseguições, prisões, tortura e morte de opositores.

Após quarenta anos, esse é um tema que sempre deve emergir do imaginário social. Este é um dos papéis da História, fazer surgir questões que não devem ser repetidas, além de contribuir para uma reflexão crítica. Mesmo vivendo em um Estado democrático de direito, ainda que formalmente, é fundamental que esta data, e o que ela significou para uma geração, seja sempre lembrada, e o seu significado debatido.

*A imagem é uma adaptação minha, de uma famosa litografia do escultor estadunidense, Richard Serra. O original faz menção ao governo Bush, e ao invés de AI-5, tem escrito STOP BUSH.

**A parte histórica do texto foi construída a partir do Livro – Cidadania no Brasil, o longo amanhecer – do autor – José Murilo de Carvalho.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"Use Good Bril"

Hoje, no cabeleireiro, folheando uma Revista Caras, ri bastante com essa peça publicitária.

(Clique na imagem para vê-la com detalhes)

agência: W/Brasil
criação: Fabio Meneghini, Gastão Moreira
direção de criação: Rui Branquinho

Foto de Propagando Propaganda.