quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Varal

Desde criança, sinto uma certa liberdade diante de varais de quintal, com longos fios; um dia desses resolvi analisar essa fixação sem nexo. Sempre gostei de desenhar um varal com algumas roupas penduradas, roupas sempre coloridas, talvez representando que os donos das roupas eram felizes. Não fazia o desenho com o intuito de dizer que o varal pertencia a mim ou que as roupas do varal eram minhas, havia, inclusive, roupas masculinas e até femininas as quais eu nunca usei e talvez nunca usarei. Eu olhava atentamente cada traço do desenho, tentando fazê-lo parecer mais feliz possível, mesmo que não tivesse perfeito. Enfim, desenhava sempre um vestido, uma calça e uma camisa, acho que era uma forma de representar um casal feliz. Muitas vezes as roupas eram estravagantes, com cores berrantes. Nesses dias, porém, comecei a pensar sobre isso e conclui que talvez o varal não representasse essa liberdade, posto que as roupas balançam, mas não voam, não são livres para voar, estão presas. Assim, percebi que o varal não representa tanto essa liberdade na qual eu acreditava, talvez fosse até ingenuidade minha pensar desta forma. Enfim, ai comecei a voltar às minhas analogias e pensei que se as roupas representam as tais pessoas felizes, essas pessoas estavam presas. Aprofundei o raciocínio, de certo não muito elevado, e conclui que as pessoas, donas daquelas roupas aparentemente livres, não são livres, são prisioneiras. Não me referi a grades e presídios, mas a uma prisão mental. Depois conclui que não era apenas uma prisão mental, posto que elas estavam ali por imposição das mesmas pessoas felizes que as colocaram no varal. Lembrei que dependendo do vento, do "vento revolucionário", elas se soltam, mas em geral ficam presas mesmo. Não sei, mas de repente fiz uma analogia com a sociedade, que finge ou é enganada pela relativa autonomia, porém vive sempre presa no varal dos "bons costumes".

5 comentários:

Leafar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Enganada não acredito que seja, Mas fingimento sim!
adorei o textinho bibi!
8)

Altiere Freitas disse...

nossa!!.........uma análise da sociedade a partir de um varal...que imaginação sociologica senhorita...heheh

:)...

By

bjs

Mendes disse...

Fui arremessado ao passado com este conto filosófico.

Lá no Ceará o clima é muito quente e eu ficava encostando o rosto nos tecidos gelados.

Mas naquela época não vinculava nada acerca da sociedade e suas prisões. Mas agora lendo isso os meus varais nunca serão mais mesmos.

bbjjss

asadebaratatorta disse...

Muito interessante a sensibilidade de associar a sociedade aos varais. ^^