sábado, 20 de outubro de 2007

Maconha por Gabeira


"Se a Cannabis sativa fosse uma família, teria dois filhos. São irmãos de sangue, com a diferença de que num deles os exames detectam níveis mais altos de THC --o tetraidrocanabinol. O cânhamo, que entra na produção de 20 mil produtos importantes para a humanidade, tem um nível de THC inferior a 3%. A partir daí, entra em cena sua irmã, a maconha, que produz toneladas de bons e maus sonhos, com um teor de THC em torno de 6%. Na maioria dos países, a plantação de cânhamo e de maconha é igualmente proibida, um irmão pagando pelo outro, o cordeiro pelo lobo.
Pensar que é ilegal plantar cânhamo nos Estados Unidos e que a Constituição dos Estados Unidos foi escrita em papel de cânhamo ajuda pelo menos a entender as grandes fogueiras que se fazem periodicamente para destruir a canábis. Já foi assim com os livros, com a diferença de que naquela época se queria matar a cultura e na nossa querem matar uma planta --sem perceber que se trata, também, de uma cultura, e não só de uma espécie vegetal que se possa levar à extinção. [...]
A ascensão social da maconha implicou numa guinada, pois era descrita como uma droga que impulsiona o crime e agora se tornava um fator de apatia e desmotivação. Grandes dirigentes mundiais, como Bill Clinton (que "não tragou") e Fernando Henrique (que não gostou), confessaram ter experimentado a planta. As atenuantes que apresentam servem para mostrar como se toleram os excessos de uma época, desde que desvencilhados deles para cumprir as funções sociais. [...]
Não confiar cegamente em pesquisas vale tanto para as que são contra quanto para as que são a favor. Resta a observação pessoal como um ponto de referência. Os efeitos mais comuns --relaxamento, alteração do humor, redução da agressividade-- nos autorizam a afirmar que a maconha leva a um estado contemplativo. Independentemente da presença de espiritualidade, é uma experiência humana para muitos indispensável.
Há gente, no entanto, que fuma o mesmo baseado diante do mesmo pôr-do-sol e reclama que nada de novo acontece. A maconha em si não é a resposta para isso. Ela tem de ser procurada no cotidiano da pessoa, em como enfrenta seus desafios, como capitula ou avança em suas decisões íntimas.É compreensível que se tome a maconha como um sujeito com responsabilidade própria, capaz de ser julgado por seus atos ou contra quem devemos fazer uma guerra. A maconha tem mil e uma utilidades. A milésima primeira é, precisamente, servir de bode expiatório para nossas dificuldades de encarar o real." [...]
*Trechos do primeiro capítulo do livro A Maconha de Fernando Gabeira
*O primeiro capítulo completo pode ser lido em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4313.shtml

Um comentário:

Anônimo disse...

você é um fanfarrão senhor 06