domingo, 14 de junho de 2009

Futebol: dos primórdios até hoje em dia

Quando eu era criança, só havia uma televisão na minha casa, assim, por várias vezes, fui "aconselhada" pelo meu pai a trocar os desenhos por jogos de futebol. A princípio, eu ficava realmente irritada, achava tudo aquilo bastante sem graça. Depois, ao perceber que não adiantaria reclamar, entrava no espírito do jogo e ficava aperreando meu pai e meu irmão, falando que estava torcendo para o time dos jogadores de preto (o trio de arbitragem). Eu sabia que eles não eram jogadores, falava brincando, e achava graça quando explicavam o meu equívoco.

Meu primeiro contato (relativamente) consciente com o futebol ocorreu na Copa de 1994, da qual lembro muita coisa, ainda que só tivesse cinco anos. Recordo-me dos jogos do Brasil contra Camarões, Holanda... Contudo, a partida que realmente está mais marcada na minha memória é, naturalmente, a final. Naquele dia, minha casa foi o local de encontro de muita gente para assistir a aquele jogo emocionante e bastante tenso. Eu estava cercada de adultos e tinha vergonha de manifestar minha ansiedade e gritar com os gols, mas permanecer calada com o chute mais lembrado (?) da história do futebol mundial, desde que eu me entendo por gente, foi impossível. Gritei mesmo sem saber o que aquela vitória significava, gritei contagiada por aquela alegria de quem não via o Brasil ser campeão do mundo há vinte e quatro anos.

Na Copa seguinte, eu estava mal acostumada com a histeria de Galvão Bueno em 1994 e achava que o Brasil sempre seria campeão. Confesso que lembro bem menos da Copa de 1998, acho que o inconsciente me fez esquecer daquele jogo terrível contra a França. Naquele dia, meu mundo caiu, pensei que a seleção era invencível e ela me decepcionou, não agiu. Eu assisti a aquele jogo sem acreditar que aquilo estava acontecendo e esperei até o último minuto pelo empate e pela virada, que não vieram.

Aos dez anos, conheci um estádio de futebol. Por influência do meu tio — alvirrubro doente, por influência do meu avô — fui ao (Estádio) Eládio de Barros Carvalho, mais conhecido como Estádio dos Aflitos, assistir a um jogo do Náutico. Certamente, não deve ser a mesma emoção de conhecer o Maracanã, mas fiquei bastante emocionada com o tamanho daquele gramado que eu só via pela televisão. O grito da torcida também é bem mais emocionante quando se está lá, gritando com ela. É incrível ver os gols ao vivo e presencialmente, a única desvantagem é não ter direito ao replay.

Acordar de madrugada para ver o Brasil jogar na Copa de 2002 me fez chegar a uma conclusão um tanto contrariada. Assistir a jogos de futebol só vale a pena se o jogo é realmente disputado, partidas que terminam em três a zero não me agradam, prefiro o um a um. O suor dos jogadores para conseguir o empate e tentar ultrapassar toda a "zaga" para chutar no ângulo — sem chances para o goleiro — e virar o placar rende, de fato, um e jogo emocionante. Há um tempo, sempre que televisionavam partidas de futebol, eu perguntava para o meu irmão: Pode ir para os pênaltis? Se pudesse, independente de quais times estivessem jogando, valeria muita a pena ficar acordada até um pouco mais tarde para me emocionar.

Quando eu falo isso para o meu pai, ele me chama de louca e confessa que torce para o Santa Cruz fazer dois gols logo no começo do primeiro tempo para ficar com o coração mais tranqüilo. É, às vezes, eu acho que penso desse jeito porque nenhum time conquistou o meu coração e que, por isso, vivo no egoísmo de querer partidas emocionantes. Depois, contudo, lembro que penso da mesma forma quando a amada seleção canarinho está em campo. Sempre espero a escassez de gols e a marcação intensa do time adversário, mas não esqueço de torcer para que no fim a vitória esteja garantida e seja nossa, claro.

Vale ressaltar que não gosto simplesmente de ver dificuldade de um time para vencer o outro, mas a gana desse time pela vitória. Assim, considero o jogo da final da Copa de 1998 patético, quase um sonífero de tão ruim.

Semana passada paguei por tudo o que eu penso e enfrentei uma partida realmente difícil. Como goleira do RYU na Copa Patrícia Poeta/Copa Paulo Francis, vi meu time à beira da derrota numa partida realmente emocionante. (haja emoção!) O jogo da final, contra as calouras do RUN , foi bastante tenso e me fez sentir um pouco da adrenalina que eu gosto de assistir. O primeiro tempo foi bastante tranqüilo, começamos no melhor lado do campo e eu pude defender com força máxima. Durante o segundo tempo, as coisas não permaneceram tão calmas, levamos dois gols logo nos primeiros minutos. Eu olhava para a minha equipe e não conseguia entender o que estava acontecendo, muito menos aceitar.

Pouco antes do fim do jogo, conseguimos o empate e prolongamos a angústia, é verdade, e também a esperança de levantar o troféu. Meu corpo não agüentava mais, pedia descanso após tantas quedas para alcançar a bola. Além do físico, eu estava psicologicamente abalada, foi muita tensão. Ainda que a torcida gritasse "Gabi paredão!", não me animava, sentia-me responsável pelos gols marcado pelo time adversário, porque toquei na bola, nos dois momentos, mas não consegui finalizar a defesa. Assim, preferi passar o "bastão" e, com ele, a responsabilidade de defender os pênaltis para alguém que se sentia mais segura naquele momento para executar essa tarefa, Júlia Arraes.

Foram três cobranças do RUN e duas do RYU. A surpresa da nova goleira somada à sua estatura mais coerente com a função de defesa assustaram o time adversário. A craque do RUN chutou para fora e depois a sua companheira seguiu o “mau exemplo”. Júlia só precisou fazer uma única defesa e fez com maestria. Nós furamos as redes com a primeira cobrança, nos demos o luxo de não acertar o segundo pênalti e, em virtude do desempenho da outra equipe, não precisamos do terceiro chute. Nossa defesa teve gostinho de gol de placa para nós. Foi uma vitória realmente suada, mas se fosse fácil não seria tão emocionante.

Sei que uma citação no término de um texto deve ser interessante, mas falando de futebol e de emoção, de tanto ouvir ao longo dos anos, só lembro das (bregas) palavras de Galvão Bueno, “Agüenta coração!”.

2 comentários:

Davi disse...

=)

Mai Melo disse...

Pois eu lembro bem mais da Copa de 98, que gozado! A de 94 eu era um cotoco de gente que só se ligava no mascote do SBT. A de 2002 foi a que mais mexeu comigo, acho que queria lavar a alma (como todo brasileiro, ou quase). Mas nada, nenhuma emoção se comparou a Paulo Francis. Menino, aquilo foi coisa linda de Deus! Haha.
Adoro suas memórias, Gabi. Adoro!
:D