sábado, 26 de abril de 2008

Sapatinhos de cristal.

A grande fragmentação e a conseqüente reconfiguração cultural, ocorridas a partir da segunda metade do século XX, tornaram necessária a aquisição de um novo termo para designar a cultura vigente. Grandes especulações sobre o fim da ideologia, da arte e das classes sociais associadas à crise do leninismo e da social-democracia configuram o que se denomina de Pós-Modernismo ou “condição sócio-cultural e estética do capitalismo tardio” e suas origens remontam à década de 1950 e 1960.

No livro Pós-Modernismo: A lógica cultural do capitalismo tardio, o crítico norte-americano e marxista Fredric Jameson classifica a obra pós-moderna de Andy Warhol como uma arte centrada no mercado e traça um paralelo interessante entre Van Gogh, pós-impressionista, e a maior figura do movimento do Pop Art, Andy Warhol, a partir de suas obras Three pair of shoes e Diamond dust shoes, respectivamente. A parcialidade de Fredric Jameson é percebida quando ele classifica de canônicos os trabalhos do pintor holandês e refere-se ao quadro de Andy Warhol como inexplicável, afirmando que a obra não diz absolutamente nada.

Three pair of shoes deve ser analisado a partir da reconstrução do contexto histórico em que foi pintado. A época, como alude a imagem, era de grande miséria e pobreza rural, ao homem cabia apenas a labuta coerciva. Assim, tal obra de Van Gogh deixa de ser mera imagem de contemplação artística e passa a ser um documento histórico.

Na obra de Andy Warhol, que começou a carreira artística como ilustrador de moda, a questão central do quadro encontra-se imbuída de possíveis dimensões políticas centradas em torno da mercantilização ao enfatizar o fetichismo das mercadorias. Como todas as imagens do movimento Pop Art, que, geralmente, figuram ícones populares, é evidente que o quadro Diamond dust shoes apresenta, seguindo a ótica de Fredric Jameson, falta de profundidade e superficialidade quanto ao seu sentido. É possível perceber como característica do pós-modernismo o esmaecimento do afeto cultural, que, infelizmente, propicia perda quase (?) total da subjetividade da imagem.


Bibliografia consultada: JAMESON, Fredric. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 1996. 431 p. 27-39.

6 comentários:

Dio disse...

É engraçado ver que quando se trata de Pós-Modernismo, se pinta a "escola" como uma superação do Modernismo, no sentido de que foi uma ruptura com o "movimento da época" (como se fizesse tanto tempo assim). Porém, o que não fica claro é com o que se rompeu. Afinal, o Modernismo criara aquela "infalível" fórmula, que o caracterizava como um movimento em que o apreciável é a ruptura.

Vendo uma aula sobre Jameson e, obviamente, sobre o Pós-Modernismo, a professora me sai com "a diferença é que o Pós-Modernismo rompeu com a ruptura". E o que isso significa? Nada. Absolutamente nada.

Abraços,
Diogo.

Girabela disse...

"a diferença é que o Pós-Modernismo rompeu com a ruptura". E o que isso significa? [2]

Anfitrião disse...

dois loucos complexados pintaram a mesma merda com um pé a menos e anos de diferença.

Dio disse...

A diferença entre esses loucos é no valor dado a esses complexos deles. Um está complexado e descontente com a miséria. Outro é um miserável que se diz complexado, mas não está nem aí pro descontentamento que assola a sociedade. Aliás, como a maioria das pessoas.

Abraços,
Diogo.

Anônimo disse...

Eu sou mais o louco complexado e descontente com a miséria.


não tem nada de merda ali.
¬¬

Girabela disse...

Poxa, refletindo sobre essas "obras de arte" e lembrando um pouco das aulas de artes plásticas, pergunto: A arte não pode ser apenas contemplativa, sem crítica social?
Eu realmente tenho dúvidas quanto a essa questão, porque os "intelectuais", em geral, abominam a arte sem apelo social, a arte apenas contemplativa, mas quem disse que a arte precisa ter essa função social? Não estou querendo fazer juízo de valor, nem defender Warhol, estou tão-somente querendo refletir sobre um questionamento meu a respeito da arte.