quinta-feira, 26 de julho de 2007

Medo

Emana de mim, notoriamente, um simplório vocábulo,
O medo, o qual me diz para negar-te o ósculo.
Procuro respaldo para os meus atos,
tento discernir meus sentimentos.
Sem plausíveis motivos, nego, supinamente, olhar-te.
O desvio de olhos demonstram-te o meu medo.
Renitente, tu sentes que tal atitude não condiz com os sentimentos carinhosos de outrora
Observas nos pormenores dos meus atos a, em vão, tentativa de evadir-me do clima,
Que as sorrateiras mãos tuas procuram as mãos minhas,
A fim de circundar-me em abraços,
Que o casmurro medo meu cisma e nega ceder-te.
Intrépido e de assaz perspicácia, tu percebes que o meu coração espera o insigne momento de beijar-te.
Eu, intermitente, interrompo o instante do ósculo.
Tu esperas o ensejo de oscular-me, mas sempre ponho óbices, protelando beijos,
Pensando, assim, sublevar meus sentimentos,
Mas em exato instante os arautos já percebem a medrosa atitude minha de esconder-me,
Atos inócuos cometidos por temer machucar-nos.
Tento esconder o que sinto,
Mas meus pensamentos já transferem para o papel os meus “nefelibatados” sonhos,
Tentar omitir desejos torna-se, portanto, irrefutável.
Na tentativa de ser fleumática contigo,
Acabo por não ser honesta com meus sentimentos.
Culpo o amor pelas minhas taciturnas reminicências,
Porque, ao sofrer, esqueço as alegrias de outrora.
Tento retargüir aos teus sinceros olhares,
Mas sinto-me confusa e faço com que minha vontade não seja proferida,
Tentando, de forma absurdamente debalde, fingir que não coíbo meus sentimentos.
Creio que meus disfarces não serão eternos,
Logo será impossível enganar a mim mesma
Assim, os protelados beijos, cansados da morosidade dos meus atos,
Procurarão tua boca para, finalmente, dar-te profundos e ovacionados ósculos.

terça-feira, 24 de julho de 2007

AS APARÊNCIAS E A GOTA D'ÁGUA

Foi ouvindo duas músicas que então resolvi escrever.
“Vamos celebrar nosso governo/E nosso Estado, que não é nação” Legião Urbana “Já dizia o General De Gaulle/ “Este país não é sério!”/Mais vale um craque de gol/Que dois de araque no Ministério,/mas que mistério!” Rita Lee/ Roberto de Carvalho
Para mim e acredito que para a maioria das pessoas sãs desse país, a sucessão de acontecimentos e os desdobramentos destes, nada mais são, do que o reflexo de um governo – corrupto e irresponsável -, e fundamentalmente, de uma população, em grande maioria, apática e mais do que isso, cidadãos que não reconhecem e, portanto, que não distinguem a diferença essencial que existe entre o que é público e o que é privado. Ser cidadão nessas circunstâncias é não ter conhecimento de seus direitos, e principalmente, dos seus deveres para com a coletividade. Sem fazer apologia, mas, em países onde há maior riqueza de informações, como nos Estados Unidos, põe Roberto da Matta no seu livro - Carnavais, malandros e heróis -, que ao contrário do que acontece no Brasil, eles, normalmente, usam uma expressão “Who do you think you are?”, enquanto que no nosso país, a mais conhecida é: “Você sabe com quem está falando?”. Na medida em que, a primeira caracteriza-se por recolocar os seus concidadãos de volta ao mundo real, reforçando as regras igualitárias, a segunda reafirma as pretensões hierarquizantes.
O que não se percebe, como nos adverte Sérgio Buarque é que, o Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, de certas vontades particularistas. Logo, entre o familiar e o estatal, não há uma gradação, mas antes de tudo uma descontinuidade e até uma oposição.
De maneira mais concisa e em senso-comum, o que se faz em casa é de interesse particular e individual. No entanto, aquilo que se faz na rua é de interesse coletivo, e, portanto, deve estar passível de intervenções, críticas e controle social. O que quero dizer é que, enquanto nos tornamos por um lado, apáticos e incultos do nosso papel político, principalmente nas tomadas de decisão de interesse público, por outro lado alguns indivíduos comportam-se como a maximizar as suas necessidades, o que produz um resultado abaixo do previsto para a coletividade. Esta tensão é assim, aquilo que torna a vida política tênue. Em um país como o Brasil que poderia nas perspectivas sócio-político-histórica ser comparado a um rato-canguru ou a um ornitorrinco, animais encontrados na Austrália, que por serem tão estranhos, levaram Darwin a pensar que "Um incrédulo... poderia dizer que 'seguramente dois criadores diferentes estiveram em ação'". Criaturas que na linha da evolução biológica, pareciam estar no meio do caminho, entre duas classes. Ou seja, tendo o corpo adaptado para uma vida aquática ou terrestre, o ornitorrinco apesar de ser um mamífero, em vez de dar à luz às suas crias, põe ovos que são parcialmente chocados no interior do corpo. É fazendo essa analogia que se pode perceber o que é o Brasil. País onde crises políticas, não interferem na vida econômica. País que não possui infra-estrutura condigna a quem quer ser competitivo. Vide o caos aéreo, mas esse é apenas um pedaço do iceberg que já se preanunciava faz muito tempo. E como fica a crise na educação, saúde, transporte terrestre, a criminalidade que ninguém fala. Vivemos em um caos, e disfarçamos. Vivemos na verdade em um país de aparências. “Olha a voz que me resta /Olha a veia que salta/Olha a gota que falta pro desfecho da festa/Por favor/Deixe em paz meu coração/Que ele é um pote até aqui de mágoa/E qualquer desatenção, faça não/Pode ser a gota d'água/Pode ser a gota d'água.” Chico Buarque É isso.., estamos a uma gota d’água do suportável e, se nada for feito urgentemente, a tendência é que a situação piore cada vez mais. Não adianta esperar uma intervenção “divina”, se nada concreto for feito. Quem move a história são os homens, e logo, suas necessidades e seus interesses!

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Liberdade

"Se num primeiro momento a natureza se apresenta aos homens como destino, o trabalho será a condição de superação dos determinismos: a transcedência é propriamente a liberdade. Por isso, a liberdade não é alguma coisa que é dada ao homem, mas resultado da sua ação transformadora sobre o mundo, segundo seus projetos."

Ando num momento meio introspectivo,
uma mente inquieta
e um livro aberto

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Francisco Filosófico

"A política foi capaz de domar a economia "um exemplo de tal afirmação foi o advento dos sindicatos, representando uma intervenção política para deter a concentração de renda, intrínseca ao modo de produção capitalista. Com o passar do tempo, "o capitalismo elimina a política", tornando-a refém da economia; logo, algo, na prática, irrelevante, fazendo com que o papel do nosso voto seja de idêntica irrelevância. "Nosso voto vale coisa nenhuma", à medida que "o presidente da república tem pouco poder sobre o presidente do Banco Central", pelo fato do poder econômico ser o monopólio das decisões dentro de uma sociedade capitalista. Assim, o presidente do Banco Central acaba detendo um poder o qual não lhe foi conferido por nós, mas o qual influencia nossas vidas. Assim, as mazelas sociais continuam, posto que “pelas forças do mercado isso não se corrige". Então, votamos "pra quê? pra nada”, como diria Ascenso Ferreira.


*Os trechos entre aspas foram proferidos pelo sociólogo Francisco de Oliveira no “Café Filosófico”, 08/07/07 e estão num contexto, feito por mim, na medida do possível, plausível com as idéias ditas por ele no mesmo programa.
*Créditos para o amigo, Rodrigo, que me convidou para a palestra do Francisco de Oliveira durante o Congresso Brasileiro de Sociologia e que me alertou para a participação do sociólogo no “Café Filósofico” de ontem.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Saúde Pública: A sociedade precisa se mobilizar para que funcione?

Torna-se bastante notório, na sociedade vigente, o quão frágil é o sistema público de saúde brasileiro. O recrudescimento da adesão aos planos de saúde e a extrema procura aos hospitais da rede privada são provas incontestes do ruir dos serviços públicos. É, no mínimo, estranho não perceber, por parte da sociedade, uma maior e eficaz mobilização a fim de reverter tal caos. A omissão dos setores sociais, de fato, incondiz com a relevância da saúde para toda a população, além de corroborar o enfraquecimento das instituições públicas.
É incomensurável a decadência dos hospitais; as filas e as condições de higiene e respeito aos pacientes são de extrema vexatoriedade para um país o qual se considera tão desenvolvido e justo. Em momentos eleitorais, vê-se discussões acerca do assunto, após as eleições, contudo, os projetos são, infelizmente, abandonados. No âmbito político, a saúde pública é completamente ignorada, exceto quando há possibilidade de lucro, mesmo de forma ilícita; muitos parlamentares usam o erário do país para vangloriarem-se
com luxos, no mínimo, nefastos e extremamente em contrate com a pobreza reinante no país.
Todos os problemas ligados ao social são propiciados por negligência da própria sociedade, sobretudo dos mais abonados. Parcela da população ainda dispõe de recursos suficientes para submeter-se aos setores privados, por tal motivação omite-se quanto à melhoria dos serviços públicos, os quais não lhes são, na prática, necessários. A parte pobre da sociedade, sem força política e expressão econômica, fica excluída e submetida às condições impostas pelo governo, mesmo após sacrificar-se para pagar inúmeros e abusivos impostos.
A desonestidade de alguns políticos, a negligência da classe média, a alienação das camadas altas e a submissão do povo pobre propiciam as mazelas do social. As parcelas com representatividade política excluem-se do debate; enquanto não necessitam dos serviços públicos, preferem omitir-se dos fatos. A sociedade precisa unir-se, a fragmentação à qual está subordinada não garante benefícios sociais. É mister uma reivindicação política de todos, para, enfim, construir um sistema público mais eficaz e democrático; a saúde, pois, é direito de todo o cidadão.