terça-feira, 24 de julho de 2007

AS APARÊNCIAS E A GOTA D'ÁGUA

Foi ouvindo duas músicas que então resolvi escrever.
“Vamos celebrar nosso governo/E nosso Estado, que não é nação” Legião Urbana “Já dizia o General De Gaulle/ “Este país não é sério!”/Mais vale um craque de gol/Que dois de araque no Ministério,/mas que mistério!” Rita Lee/ Roberto de Carvalho
Para mim e acredito que para a maioria das pessoas sãs desse país, a sucessão de acontecimentos e os desdobramentos destes, nada mais são, do que o reflexo de um governo – corrupto e irresponsável -, e fundamentalmente, de uma população, em grande maioria, apática e mais do que isso, cidadãos que não reconhecem e, portanto, que não distinguem a diferença essencial que existe entre o que é público e o que é privado. Ser cidadão nessas circunstâncias é não ter conhecimento de seus direitos, e principalmente, dos seus deveres para com a coletividade. Sem fazer apologia, mas, em países onde há maior riqueza de informações, como nos Estados Unidos, põe Roberto da Matta no seu livro - Carnavais, malandros e heróis -, que ao contrário do que acontece no Brasil, eles, normalmente, usam uma expressão “Who do you think you are?”, enquanto que no nosso país, a mais conhecida é: “Você sabe com quem está falando?”. Na medida em que, a primeira caracteriza-se por recolocar os seus concidadãos de volta ao mundo real, reforçando as regras igualitárias, a segunda reafirma as pretensões hierarquizantes.
O que não se percebe, como nos adverte Sérgio Buarque é que, o Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, de certas vontades particularistas. Logo, entre o familiar e o estatal, não há uma gradação, mas antes de tudo uma descontinuidade e até uma oposição.
De maneira mais concisa e em senso-comum, o que se faz em casa é de interesse particular e individual. No entanto, aquilo que se faz na rua é de interesse coletivo, e, portanto, deve estar passível de intervenções, críticas e controle social. O que quero dizer é que, enquanto nos tornamos por um lado, apáticos e incultos do nosso papel político, principalmente nas tomadas de decisão de interesse público, por outro lado alguns indivíduos comportam-se como a maximizar as suas necessidades, o que produz um resultado abaixo do previsto para a coletividade. Esta tensão é assim, aquilo que torna a vida política tênue. Em um país como o Brasil que poderia nas perspectivas sócio-político-histórica ser comparado a um rato-canguru ou a um ornitorrinco, animais encontrados na Austrália, que por serem tão estranhos, levaram Darwin a pensar que "Um incrédulo... poderia dizer que 'seguramente dois criadores diferentes estiveram em ação'". Criaturas que na linha da evolução biológica, pareciam estar no meio do caminho, entre duas classes. Ou seja, tendo o corpo adaptado para uma vida aquática ou terrestre, o ornitorrinco apesar de ser um mamífero, em vez de dar à luz às suas crias, põe ovos que são parcialmente chocados no interior do corpo. É fazendo essa analogia que se pode perceber o que é o Brasil. País onde crises políticas, não interferem na vida econômica. País que não possui infra-estrutura condigna a quem quer ser competitivo. Vide o caos aéreo, mas esse é apenas um pedaço do iceberg que já se preanunciava faz muito tempo. E como fica a crise na educação, saúde, transporte terrestre, a criminalidade que ninguém fala. Vivemos em um caos, e disfarçamos. Vivemos na verdade em um país de aparências. “Olha a voz que me resta /Olha a veia que salta/Olha a gota que falta pro desfecho da festa/Por favor/Deixe em paz meu coração/Que ele é um pote até aqui de mágoa/E qualquer desatenção, faça não/Pode ser a gota d'água/Pode ser a gota d'água.” Chico Buarque É isso.., estamos a uma gota d’água do suportável e, se nada for feito urgentemente, a tendência é que a situação piore cada vez mais. Não adianta esperar uma intervenção “divina”, se nada concreto for feito. Quem move a história são os homens, e logo, suas necessidades e seus interesses!

7 comentários:

Rayana disse...

essa nossa "herança" de passividade é realmente o principal problema da evolução e desenvolvimento no nosso país...
parabéns pelo blog, mais uma vez!
cheiro

Laura Patrício disse...

porra, Rudrigu... num é q tu escreve bem? :D concordo pa garai c uma porrada d coisaê ;D
cheiro pra tu, meu cheiroso!

Anônimo disse...

Como havia lhe dito...
Fiquei impressionada d+. Até comentei com Taty de manha quando li (é fuçei seu orkut mesmo, posso nao é?! =P).
Concordo com muita coisa que vc escreveu, muita mesmo, e olhe que eu concordar ctg é nao é coisa muito normal. =P
Interessantissima a maneira como vc meteu Darwin no meio da historia toda.

Resumindo... adorei o texto. =)

Beijos

te amo disse...

bem, já que a música foi tua fonte,meu comentário tbm vai seguir essa linha "musical" hehehehe

"Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague" (chico buarque)

E Assim, seguimos com o nosso conformismo e o nosso caos, mas sem bronca temos a melhor seleção e o melhor palhaço, nós!

amigoooooooo , adorei teu texto ou melhor teu desabafo! eu tbm concordo com muita coisa...

pelo menos nós resta guardar nem que seja para nós, a imagem de como tudo poderia ser é não é, e que pelo menos fiquei a esperança de um futuro melhot porque....

"o caminho é perfeição ..."

vejo um futuro cientista social viradinho no mói de coentro!

"Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague"


bju, tchuuuuuuuuu.. ops! baby monmon! hehehehehe!

Anônimo disse...

"o Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, de certas vontades particularistas. Logo, entre o familiar e o estatal, não há uma gradação, mas antes de tudo uma descontinuidade e até uma oposição." É, Sérgio está certo. E a analogia de Francisco de Oliveira, sa sociedade com o ornitorrinco, que tem veneno de serpete, bico de pato e mamífero que pôe ovo, foi muito bem colocada.
Muito bom o texto ou como disse taty, o desabafo, Parabéns, cientista social preferido :P
E uma mensagem do saudoso Francisco de Oliveira, o mestre que você me "apresentou", "NOSSA SOCIEDADE NÃO PODE ESTÁ RELEGADA À HISTÓRIA NATURAL."

asadebaratatorta disse...

Opa ;D

Ótimo texto, Rodrigo ^^

Foi por ler esse texto do DaMatta que eu comecei a pensar: será que é mesmo o Estado o único capaz de ferir os direitos humanos? Se a essência dos direitos humanos se baseia na igualdade das pessoas como cidadãos comuns, como fica o caso das "Pessoas" do Brasil?

Espero que escrevas mais aqui. Show de bola o blog ^^ Sua amiga tb escreve muito bem, por sinal. ;D Vou "linkar" vcs.

Abraço ^^

Anônimo disse...

É isso aí, Digão! Belo texto, ótimo blog. Citações dos amiguinhos Sérgio Buarque e Antônio Cândido... Hum... Muito bom! Parabéns!!! =]

E como diria Raul... Abre-te Sésamo!!!

Lá vou eu de novo
um tanto assustado
com Ali-Babá (Lulla) e os quarenta ladrões (corja petista)...

Já não querem nada com a pátria amada e cada dia mais enchendo meus botões!

Lá vou eu de novo, brasileiro, brasileiro nato,
se eu não morro eu mato essa desnutrição...
Minha teimosia brava de guerreiro é o que me faz o primeiro dessa procissão!

E vamos nós de novo,
vamo na gangorra,
no meio da zorra
desse vai e vem.
É tudo mentira!!!

E quem vai nessa, pira! ...

Um beijo enorme e saiba que te admiro muito! Não tenho ORGULHO algum de SER NORDESTINA, muito menos de ser brasileira... Mas, se nascer aqui serviu para conhecer você, meu amigo... Então, não é que valeu a pena?! hehe
=*

<3
Maíra.