Sol a pino, Centro do Recife. Impaciente com um congestionamento quilométrico que enlouquecia a cidade, Teresa passou a fazer a única coisa que lhe restava, olhar pela janela do ônibus e tentar distrair-se com a beleza das pontes e a sujeira do Cão sem Plumas. Ela até carregava um livro dentro da bolsa vermelha, mas nem o melhor enredo de Kafka a faria ler no vuco-vuco daquele coletivo. A leitura de um bom livro no caminho para casa parecia algo bastante útil para passar o tempo, e ela admirava quem conseguia fazê-lo, mas ler qualquer coisa dentro de um veículo em movimento lhe causava náuseas. As buzinas serviam de trilha sonora para aquele momento flâneur e, não raro, algum passageiro lhe confidenciava irritação com aquela demora. Nesses momentos, ela estampava - com esforço - um sorriso de simpatia no rosto, coisas da cordialidade tão esmiuçada pelo, como é mais conhecido, "pai de Chico". As pessoas estavam impacientes dentro daquele ônibus, uns reclamavam do trânsito, enquanto outros culpavam o motorista pela demora. A velocidade era de um metro por minuto, mas não havia o que fazer, nenhum carro se movimentava. Indisposta a esperar, uma passageira levantou-se e pediu ao motorista que abrisse a porta ali mesmo para ela descer. Nisso, Teresa tirou os olhos da rua e fixou-os na mulher que, ao não ser ouvida ou ao ser ignorada, irritava-se a cada segundo. A princípio, a passageira usou da gentileza para ter seu pedido atendido, mas ao perceber o cinismo do cobrador e do motorista, que fingiam não ouvir, desesperou-se. Xingado, o motorista, finalmente, deu atenção à mulher; contudo, não a atendeu. Apenas retrucou. "Grossa", disse ele. Assim teve início um bate boca vertiginoso. Todos passageiros olhavam de um lado para o outro acompanhando a confusão. Eis que (amém) chegou a parada de ônibus e então a mulher desceu. Ainda xingando, mas desceu. Findada a confusão, Teresa, novamente, isolou-se em seus pensamentos e voltou a vaguear o olhar para fora daquele veículo. Ao cruzar uma das pontes do Recife Velho, ela fixou o olhar. O ônibus seguia, mas o olhar da garota continuava lá atrás. Uma criatura vestida de vermelho com uma câmera fotográfica chamava a sua atenção. Pela aparência e em função do seu comportamento, parecia um turista. Teresa pensou em descer do ônibus para conversar com o rapaz e se livrar do trânsito, mas, enquanto hesitava, a distância entre eles ficava maior. Certamente, o motorista não iria aceitar parar antes da parada, que distava bastante dali. Seria uma nova polêmica. Então, preferiu seguir viagem. Pensando no que podia ter sido e não foi.
Um comentário:
Bela crônica, Teresa! Ops, Gabi! :D
Quanto ao post sobre leitura, foi uma das matérias mais prazerosas! Na verdade, a personagem era para ser Gianni, mas não deu certo.
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