segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Há quem sambe muito bem III

Depois de 1917, com a gravação radiofônica e a posterior abertura do mercado para a música, compositores e interpretes passaram a ser consagrados. Entre eles, Pixinguinha, que desde os doze anos era considerado o maior flautista da cidade do Rio de Janeiro. Ele, que mais tarde liderou o grupo Oito Batutas, estudou teoria musical no Instituto Nacional de Música e, por isso, compunha de forma extremamente elaborada e bem construída, contrariando os que desprezam a música popular por considerá-la pobre. Além de flautista, Pixinguinha foi arranjador e saxofonista, entre suas composições mais famosas figuram Carinhoso — que não é samba, mas polca (estilo que teve origem na região da Boêmia) — e Lamentos.

Ao lado de Pixinguinha, ainda na década de 1920, não há como omitir a importância de Ismael Silva, responsável pela aceitação dos sambistas no ambiente fonográfico e um dos pais da já citada Deixa Falar. A escola, que surgiu no berço do samba carioca — o bairro do Estácio de Sá — durou pouco tempo e nem chegou a participar do primeiro desfile oficial das escolas de samba do Rio de Janeiro, organizado em 1932, mas, como Ismael, foi fundamental para a consolidação do samba.

A partir da década de 1930, o perseguido e discriminado samba passa a despertar o interesse da elite intelectual e passa a ser composto por jovens brancos e universitários, como Noel Rosa. Estudante de Medicina e morador da Vila Isabel, bairro carioca de classe média, Noel Rosa não demorou a interessar-se pelo samba. Durante a infância, aprendeu bandolim com a mãe e violão com o pai e poucos anos depois figurou entre os grandes sambistas do país. A tuberculose levou-o à morte ainda aos vinte e seis anos, mas não antes de compor canções antológicas, como Com Que Roupa. Atribui-se a composição dessa música ao fato de que a mãe de Noel escondia todas as roupas do filho para evitar que o ele fosse para a boêmia, já que estava doente.

Como Noel, Ary Barroso foi outro sambista que não teve origem nos morros e que freqüentou a universidade. Estudante de Direito e amante da boemia, logo foi reprovado e abandonou os estudos para dedicar-se ao samba. Em 1939, como muitos, compôs samba-exaltação para agradar à política do Estado Novo. A letra de Aquarela do Brasil tornou-se conhecida em todo o país e é cantada ainda hoje como hino nacional. É de Ary Barroso também a canção No Rancho Fundo que ficou, equivocadamente, estigmatizada como sertaneja após gravação da dupla Chitãozinho e Xororó.

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