sexta-feira, 13 de março de 2009

Preciso conhecer a história de Baleia!

Os Retirantes - Candido Portinari

Esses dias, não sei exatamente o motivo, mas deu-me uma vontade louca de ler Vidas Secas. Desde que tive conhecimento da existência do livro, tardiamente no segundo ano, fiquei interessada na leitura que protelei até a presente data. Ontem, acordei decidida: Preciso conhecer a história de Baleia! Então, dirigi-me ao site da Livraria Cultura (sim, eu tenho preguiça) e pedi que me trouxessem o livro em casa.

Cheguei tarde da labuta diária ontem, ainda assim não deixei de dar uma lidinha rápida na mais famosa obra do escritor Graciliano Ramos. E hoje, mesmo bastante cansada e com o adicional "cólica", não posso deixar de escrever as minhas primeiras impressões.

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer. [RAMOS, Graciliano]
Bem, na capa do livro que comprei tem uma citação muito perspicaz do autor que me rendeu alguns momentos de reflexão. Comparando o ato de escrever com a maneira como as lavadeiras de Alagoas lavam as roupas, Graciliano deixa uma lição aparentemente óbvia, mas muito importante: "A palavra foi feita para dizer."

Pouco li sobre Baleia, mas já deu para perceber que o clima do livro é bem mais pesado do que eu imaginava. Uma passagem do livro remontou-me a uma foto famosa bastante triste e angustiante de uma criança moribunda da África, trazendo grande melancolia para a minha noite, principalmente ao lembrar que o livro é ficção, mas que a foto é uma cruel realidade comum em todos os lugares do mundo.

A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos. [RAMOS, Graciliano]
Sem mais, pois ainda estou nas primeiras páginas do livro, termino este texto para retornar a minha longa caminhada com os retirantes de Vidas Secas.

Nenhum comentário: