Este texto é regido por quatro acordes infalíveis: C G Am e F. Não, não, esqueçam, na verdade eles só fazem a música de fundo, os verdadeiros quatro regentes são outros, ainda a serem inseridos. Antes de sair de casa, escutei a jovem - até demais - Mallu Magalhães tocar You ain't nothing but a hound dog, do Rei Presley, e Folsom Prision Blues, do Men in Black, Johnny Cash. Músicas das quais gosto bastante. A primeira música teve uma boa leitura, já a segunda... Já no clima, e depois de uma rodada de C G Am F (quase que não toco, mas Danilo me salvou a tempo), segui rumo ao ponto de encontro: Cuba do Capibaribe. Lá, apresentaria-se a banda Caravana do Delírio, composto pelo tal quarteto já mencionado, mas ainda não nomeado. Então, aqui vai: Matheus (baixo e vocal), Danilo (guitarra, vocal e trajes loucos), Baracho (Paraíba, Minas Gerais e mais outros estados, além do teclado) e Eduardo (cadeira, baquetas e... bateria?). E foi mais ou menos assim:
Não é todo mundo que abre um show fazendo alusões à masturbação e fecha com Imagine, de John Lennon. Aliás, também não é todo mundo que consegue uma série de, pelo menos, uns cinco "Mais um, mais um", dobrando o tempo original do show. Não, não qualquer um. Trazer Mutantes, Bob Dylan, Elvis Presley; atender (vejam bem!) a um "Toca Raul"! E, mesmo assim, o que marcar é o deles, o que marcar é um Valha-me Deus, Sistema Nervoso, Todos os Homens São Lendas. E são mesmo. Lendária é uma banda que toca rock, sem bateria, e consegue impressionar um músico de mais de uma década de experiência. Que tem a "cara-de-pau" de traduzir — e com um humor refinado — instantaneamente (parecia, no show) uma música do Rei do rock, e arrancar risadas e aplausos dos presentes.
O show da Caravana do Delírio, no Cuba do Capibaribe, Paço Alfândega, Recife, PE (ufa!), foi difícil de acontecer. A bateria, anunciada aos músicos como completa, nem pratos tinha; o teclado teve que ser ligado direto num microfone. Mas tudo bem, lá foram eles, subiram os três: Matheus, Danilo e Baracho. Eduardo, infelizmente, ficou na cadeira, assistindo. O show inicia-se com Mãonogamia, a mais nova música da banda, sobre a história de um sujeito que não troca sua parceira inseparável — a mão — por mulher nenhuma. Nem animal, nem homem, nem nada, só a mão, o que justifica o trocadilho no título. Após algumas canções próprias, trazem Baby, música de Caetano Veloso, conhecida na voz de Rita Lee, na época dos Mutantes. Mais um pouco, e Elvis chega, com You ain't nothin but a hound dog, cover melhor do que o de Mallu, e ainda seguido de sua "adaptação", feita pelo próprio Matheus. Mais um pouco, e o momento mais "reflexivo" do show. Sentado, só com guitarra e teclado, Matheus canta Quem se importa?, melodia e letra tocantes. Quase ao fim do show, o grande momento para os fãs, Sistema Nervoso, que vai se tornando o grande sucesso da banda, arranca gritos e aplausos, e é seguida pela última música: Descanse em Paz.
Ao menos era esse o plano. Mas a platéia pediu mais, e veio um Mahteus Dylan inspirado. Pediu mais e mais e mais. E seguiu-se praticamente tudo o que a banda já compora (até pagode com guitarra rolou!). "Não sei mais o que tocar", disse Matheus à banda. Mas não eram músicas novas que os ouvintes queriam, eram eles, era a banda ali em cima, tocando, seja lá o que fosse. Mas a casa tinha que fechar e então, vaiado, um funcionário — que não era um dos garçons, loucos por mais músicas — solicitou o fim do show. Matheus finalizou com a bela mensagem do beatle Lennon ao mundo: Imagine. Agradeceu muito a todos, emocionado, e convidou ao próximo show, dia 3 de outubro, no Sabor Pernambuco.
O sucesso da banda Mamonas Assassinas é inexplicável. De covers de canções de rock conhecidas na época, os garotos passaram a fazer uma música irreverente, escrachada, crítica (em certo ponto) e estouraram. Pouco mais de um ano depois, a banda sofreu um acidente quando voltava do último show da turnê no Brasil, e nenhum deles sobreviveu. Marcaram história. Bandas tornam-se estouros por suas letras, suas melodias, seus contatos, seu carisma, sua perseverança? Acredito que não. Bandas, na minha opinião, estouram porque estouram, é tautológico mesmo. A Caravana do Delírio ainda não estourou, mas caminha para isso. Letras, melodias, contatos, carisma e perseverança eles têm, e está sendo aperfeiçoado aos poucos. Porém, acima de tudo, eles têm o que precisam para estourar. O tal do feeling. Talvez seja um sobretudo do Willy Wonka ou um "Mãe, olha" nada roqueiro.
Abraços,
Diogo.
3 comentários:
Diria ter sido esta uma resenha tendenciosa, bairrista e hiperbólica se não tivesse também eu estado lá para confirmar cada letra escrita.
Continue, banda amiga, fazendo rock despretensioso, sincero; delirante.
Mordendo a vida com todos os dentes.
Definitivamente o show com mais "bis!", "mais um","a última", "a saidera", etc, etc, etc. Bom demais! E ainda ganhei um AE AARON de Matheus por ter chegado atrasado (não me inveje Gabi)!
segundo bruno nogueira, jornalista não tem nada que ser amigo de músico.
já eu discordo totalmente, ficou do caralho diogo!
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