Carioca do bairro da Penha, Augusto Pinto Boal nasceu em 1931, filho da dona de casa Albertina Pinto e de José Augusto Boal, padeiro português.
Desde cedo mostrou aptidão para as artes, tendo por costume brincar de teatro quando criança, escrevendo e montando peças durante os encontros familiares. Na juventude, entretanto, apaixonou-se pelos cálculos, formando-se engenheiro químico pela atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na década de 1950, por ocasião de um Ph.D na Universidade de Columbia, Boal reencontra a arte e torna-se aluno de John Gassner na School of Dramatics Arts (Universidade de Columbia).
Ao retornar ao Brasil, em 1956, é convidado por Sábato Magaldi e José Renato para dirigir o Teatro Arena, fundado em 1953, na cidade de São Paulo. Sob o mote de nacionalizar o teatro brasileiro, realizando espetáculos de baixos custos e incentivando os artistas nacionais, o Teatro Arena surgia como alternativa às práticas do Teatro Brasileiro de Comédia, renomado por possuir produções sofisticadas e repertórios internacionais.
Sua primeira direção rendeu-lhe o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) como diretor-revelação, em 1956, com a peça de John Steinbeck, Ratos e Homens. O primeiro texto não tardou, afinal, a crise do Teatro Arena agravava-se e obriga a companhia a investir em textos nacionais. No ano seguinte, então, Boal encenou a peça Marido Magro, Mulher Chata, uma comédia de costumes, cujo cenário era Copacabana, marcando sua estréia como autor.
A companhia reergue-se com o sucesso da renomada peça de Gianfrancesco de Guarniere, Eles Não Usam Black Tie, e durante as décadas de 1950 e 1960, através do Seminário de Dramaturgia, proposto por Augusto Boal, o Teatro Arena consegue firmar-se como dramaturgia genuinamente brasileira, sendo de essencial conhecimento para os apreciadores da arte cênica. O embrião do grande trabalho de Boal, o Teatro do Oprimido, começa a surgir na década seguinte, através do Teatro-Jornal, iniciado a partir de experimentos do Núcleo Dois do Arena.
O Brasil já amargurava a ditadura militar quando Boal, junto a Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, Paulo Pontes e Armando Costa, dirigiu o show Opinião, que daria início ao Grupo Opinião, numa proposta de resistência através da arte. Com o AI-5, promulgado nos idos de 1968, no entanto, os artistas passaram a ser perseguidos, tendo o Teatro Arena, inclusive, excursionado durante um ano por alguns países da América, na tentativa de dar continuidade aos seus ideais.
Em fevereiro de 1971, Augusto Boal teve a liberdade tolhida, sendo seguidamente preso, torturado e exilado. Durante o exílio, morou em vários países, permanecendo por dois anos em Portugal, onde recebeu a famosa carta, posteriormente musicada (Meu Caro Amigo), de Chico Buarque. Lá também escreveu e montou, sob o título de Mulheres de Atenas e com músicas de Chico Buarque, uma adaptação da peça grega Lisístrata, uma comédia anti-guerra, de Aristófanes. Posteriormente, estabeleceu-se na França, a partir de 1978, onde desenvolveu, com ajuda de sua esposa, as técnicas introspectivas da arte cênica publicadas no livro Teatro do Oprimido: o Arco-Íris do Desejo, tendo na capital francesa, inclusive, criado o Centre du Théatre de l´Opprimé-Augusto Boal, em 1979.
O objetivo do Teatro do Oprimido, inspirado na proposta de Paulo Freire para a educação, era democratizar o acesso de todas as camadas sociais às produções teatrais, através de novas técnicas e novos exercícios, formulados por Augusto Boal, para a preparação dos atores. A metodologia proposta pelo dramaturgo brasileiro é, hoje, uma realidade, tendo seus conceitos praticados em todos os continentes.
"O Teatro do Oprimido é o teatro no sentido mais arcaico do termo. Todos os seres humanos são atores - porque atuam - e espectadores - porque observam. Somos todos "espect-atores" . [BOAL, Augusto]
A convite de Darcy Ribeiro, então Secretário de Educação do Rio de Janeiro, Boal volta ao Brasil, em 1986, com a missão de dirigir o projeto Fábrica de Teatro Popular, que tem por objetivo tornar a linguagem teatral mais acessível ao público. Posteriormente, ele tenta difundir o Teatro do Oprimido no Brasil através da criação de um centro homônimo na capital carioca, o CTO-Rio.
Provavelmente, na intenção de difundir o projeto de forma mais acelerada, Augusto Boal entra na política e consegue eleger-se vereador da cidade natal em 1992, pelo Partido dos Trabalhadores. E como conseguiu, através do Teatro dos Oprimidos, tornar o espectador um ator, ousou tentando transformar o eleitor em legislador, praticando o Teatro como Política.
Dando continuidade ao seu trabalho de tendência nacionalista, transformou, em 1999, a ópera Carmem, de Bizet, em SAMBÓPERA, traduzindo as músicas originais para ritmos brasileiros.
Hoje, em virtude do Teatro do Oprimido, com obras traduzidas em mais de vinte idiomas, Augusto Boal é um dos indicados ao Prêmio Nobel da Paz de 2008 e, ainda assim, infelizmente, poucos brasileiros conhecem sua obra.
REFERÊNCIAS:
Augusto Boal in CURRICULO BOAL. Disponível em: http://www.ctorio.org.br/CURRICULO%20BOAL.htm
Acessado em 21/07/08
Acessado em 21/07/08
Acessado em 21/07/08
3 comentários:
Gabi em alta produtividade! Não pelo número de posts no mês, mas pela pouca distância entre eles. 14, 15, 16, 21 e 23 agora. 5 posts em 9 dias! Já já fica diário isso aqui. O que seria ótimo. :DD
Bem, sobre Boal, gostei muito de ouvir sua história. Gostei de ele ser engenheiro químico - mamãe, saudades :~~~~ - e dramaturgo. De sua idéia do Teatro do Oprimido - curiosíssimo com o livro, principalmente depois de sua idéia de "espect-atores", muito massa. Mas, principalmente, de como ele passou a idéia do Oprimido à política, "tentando transformar o eleitor em legislador". Muito legal isso, muito democratizador. :)))
Sinto-me envergonhado por "não conhecê-lo", e orgulhoso por esse brasileiro, também por sua indicação ao Nobel (torcendo muito para sua vitória), mas principalmente por sua dedicação à sociedade, à democracia, à liberdade, e através de uma arte tão bela como o teatro, o qual ando apreciando mais ainda ultimamente (e boa parte da responsabilidade por isso é Gabi, que me leva a peças maravilhosas).
É isso. Obrigado sempre pelos belos textos, sempre banhados a úteis informações. :*****
Abraços,
Diogo.
Para mim a única forma de usar teatro na política era fingir inocência em casos de corrupção e beijar criancinhas em época de campanha, bom saber que eu estava enganada. Esse compartilhamento de papéis proposto por Boal é uma das coisas mais bonitas em nossa utopia de uma sociedade igualitária. Fico feliz que o idílico não seja tão idílico assim! Novamente, babar-te-ei, Gabi: os assuntos abordados e a forma como essas abordagens são feitas não poderiam ser melhores. Como disse, a assiduidade é por puro interesse. Visitar teu blog é, realmente, um gosto.
Mai, sem trocadilhos, mas seu comentário foi bom da cabeça aos pés. Até no nível desse blog.
:)
Abraços,
Diogo.
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