quinta-feira, 10 de abril de 2008

O caráter cênico II.

Ler História dos Espetáculos tem sido bastante útil para a cadeira de História das Artes Cênicas e, sobretudo, para a minha vida intelectual. Hermilo Borba Filho expõe lindamente todo o seu conhecimento artístico naquelas velhas e quase arrancadas páginas do livro da biblioteca. Propagandas à parte, foi a partir de uma leitura extasiante sobre o Teatro Inglês que tive a oportunidade de conhecer o mais famoso teatrólogo da língua inglesa, William Shakespeare. Ele nasceu para a arte somente em 1592, quando, ainda como ator, ingressou na Companhia de Burbage. Posteriormente, passou a ser um grande fornecedor de peças, fazendo adaptações e traduções de antigas histórias. Em seguida, escreveu algumas peças que lhe renderam a alcunha de gênio no final do século XVIII. A sua primeira peça foi A Comédia dos Erros, famosa por suas influências, inclusive do Teatro Romano, em 1594. Há, ainda, grande questionamento a respeito da autenticidade dos textos shakespeareanos, vários estudos são destinados a provar que o teatrólogo, na verdade, não passava de um factotum¹. Com Hermilo Borba Filho aprendi a insignificância desse fato, afinal o homem por si só não é nada diante da arte, pois a sua obra é, sem dúvida, o grande e verdadeiro legado da humanidade. E apesar da revolta de Greene, ao apelidar Shakespeare de John Factotum, não se pode negar todo o monumento artístico concebido pelo inglês. À época elisabethana, faziam bastantes comparações entre os teatrólogos da Inglaterra, e muitos consideravam Ben Johnson qualitativamente melhor, pois sua arte parecia mais regular; com o passar dos séculos, entretanto, o tempo comprovou a importância de Shakespeare ao consagrá-lo como um dos maiores gênios das artes. A consagração torna-se notória ao nomear as peças de ambos autores, pois com imensa dificuldade as obras de Ben Johnson serão citadas, diferentemente do que ocorrerá com as obras do autor de Romeu e Julieta. Após a morte do amigo e rival, Shakespeare, Ben Johnson proferiu lindas palavras descrevendo-o, quiçá suficientes para explicar o fenômeno nascido em abril de 1564:
“Se a natureza é a matéria do poeta, é a sua arte que lhe dá a forma. O trabalho faz o poeta, tanto quanto o nascimento; e este foi o seu caso. Aquele que compôs estâncias eternas sobre trabalhar na bigorna das musas, voltou a manejar várias vezes seus próprios versos, corrigiu também seu caráter, porque o verdadeiro poeta se faz: não nasce somente. Tu és a prova, meu Shakespeare [...] ELE NÃO PERTENCIA AO SEU TEMPO, MAS A TODOS OS TEMPOS.”

¹ Homem que emprestava o seu nome para algum outro que não desejava aparecer.

5 comentários:

Mendes disse...

Vejo que aprenderei muito sobre algo que não conheço Gabi.

Dio disse...

Tá vendo que eu avisei que Borba Filho era bom? hehehehehe

Enfim, muito legais mesmo as palavras de Johnson, as peças de Shakespeare (quer dizer, parecem ser, mas só li Romeu & Julieta), e a lógica de Hermilio para defender o sujeito.
Continue assim, gabi, nos enchendo de cultura, sem dó nem piedade. =)

Abraços,
Diogo.

daniel disse...

"Quiçá". É uma ousada essa baixoza, mesmo ;)

asadebaratatorta disse...

=)
;**

Son disse...

Adoraria estudar isso =)

Beijocas