sábado, 28 de fevereiro de 2009

E de novo a tal da Pós-Modernidade

Seguindo o mote da Pós-modernidade, levantado nos tópicos anteriores, hoje vou falar um pouco sobre o pensamento do britânico David Harvey. Autor de A Condição Pós-Moderna, David Harvey é um geógrafo marxista que refletiu acerca da questão Pós-Moderna e, principalmente, seus desdobramentos na sociedade. Semestre passado, estudando para um daqueles seminários em que você é forçado a aprender tudo sozinho — pois esse formato de trabalho é o preferido dos professores que adoram uma folguinha — tentei entender um pouco do que Harvey explica ser a "compressão tempo-espaço".

Em apenas alguns dias foi impossível compreender a complexidade da teoria de Harvey, mesmo porque só li um dos capítulos, intitulado A compressão tempo espaço, do livro supracitado. Sobre o assunto e sobre a existência tão questionada e questionável de uma Pós-Modernidade, minha professora ensinou: Você pode até dar outro nome, mas que algo mudou, mudou! Eu, particularmente, concordo com ela, pode ser o que for, podemos até nem nomear que período é este, mas ignorar que nossa sociedade está diversa da de outrora é negar o caráter cíclico da História. Certamente, o termo Pós-Modernidade é tão impreciso quanto Idade Média. Que cometamos o mesmo erro dos renascentistas e sejamos tão pretensiosos quanto eles, mas que não ignoremos a existência e a importância deste período.

Deixando de lado convicções e discursos que não nos levam para muito longe, concentremos-nos no pensamento de David Harvey. No tal capítulo que li, o décimo sétimo, o britânico discorre sobre o que ele chama de compressão tempo-espaço, considerando-a responsável pelo estreitamento da relação entre as decisões públicas e privadas, difundidas de forma cada vez mais rápida a partir da comunicação via satélite (já ultrapassada) e da queda dos custos dos transportes. Pelo pouco que me lembro, segundo Harvey, a transição do regime fordista para a acumulação flexível — tendo como carro-chefe a Guerra de Yom Kippur (1973) — tornou-se necessária a partir do momento em que o mercado tornou-se instável com a crise do petróleo. Na época, a mudança no modelo de produção foi a maneira encontrada pelo sistema capitalista para a superação de suas crises cíclicas e contradições.

Considerando todas essas causas, Harvey aponta a contribuição das novas tecnologias (bancos eletrônicos, dinheiro de plástico, etc.) — criadas justamente para otimizarem o tempo e reduzirem o espaço —, a emergência da "Sociedade do Descarte" — fruto do consumismo — e a própria manipulação do gosto pela opinião através da construção de novos sistemas imagéticos e simbólicos como conseqüências sociais da Pós-Modernidade. Relacionando tais mudanças com a forma como elas ocorreram e com a diversificação de valores sociais alcançados a partir de todas essas transformações, Harvey afirma que a sociedade em que vivemos obedece a uma nova lógica focada na compressão do tempo e do espaço como objetivo máximo. Não é difícil perceber tudo isso no nosso corre-corre diário.

E, ratificando as palavras da professora: Você pode até dar outro nome, mas que algo mudou, mudou!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Um E.T.

Poucas descobertas na vida deixaram-me tão triste quanto a de ontem.

— O Pequeno Príncipe é um E.T..
— Hã?
— Oxe, tu acha que ele é o quê? Uma criatura que vem de outro planeta só pode ser um E.T., um extra-terrestre...
— Pára!!!
— Um E.T.!!!
— Pára. Você está me frustrando.
— (Risos) Papai Noel não existe!
— Po, concluir que o Pequeno Príncipe é um E.T. é muito mais frustrante do que saber que Papai Noel não existe. Cara, isso é muito triste!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Férias Líquidas

Na comunidade da turma, fizemos um balanço do que lemos nas férias. A campeã em leitura leu nove livros, sendo a maioria deles pertencentes à coleção de vampiros, última moda. Os demais membros, ou leram alguns dos tais livros ou, pelo menos, conheciam os seus títulos. Eu, diferentemente deles, só conhecia o mais famoso da série, Crepúsculo, que recentemente virou filme e praticamente uma peste entre os mais jovens. Nas férias, como de costume, não li muita coisa, apesar de ter pretendido. O livro que comecei a ler, Identidade, de Zygmunt Bauman, ainda não chegou ao fim, e olhe que eu pretendia devorá-lo em apenas dois dias. Refletindo sobre tudo isso e com o respaldo da teoria da liquidez de Bauman, cheguei à conclusão de que as ficções fantásticas estão seguindo as tendências da Modernidade Líquida, se ela realmente existir. Alguns filmes, como AI - Inteligência Artificial (2001) e o próprio Homem Bicentenário (1999) — que retratam um futuro afirmado pela Ciência como cada vez mais próximo — também são exemplos dessa tendência, mostrando uma pretensa naturalidade na possível convivência entre homens e robôs. Ao contrário do que acontecia anteriormente, a excentricidade dos seres fictícios, sejam eles extra-terrestre, robôs ou vampiros, está cada vez mais esmaecida, cedendo lugar à tendência de humanização que eles vêm sofrendo nos últimos trinta anos. Anteriormente, pois, o foco da ficção era retratar as diferenças entre os seres humanos e os fantásticos, destacando as características excêntricas destes; a tendência atual, entretanto, concede primazia às semelhanças entre esses dois mundos.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sobre a entrevista na Veja

Este foi o e-mail que mandei ao senador Vasconcelos, e estou divulgando aqui no blog de Gabi.

De: rodrigo santiago (rodrigosantiago_18@hotmail.com)
Enviada: terça-feira, 17 de fevereiro de 2009 22:09:26
Para: jarbas.vasconcelos@senador.gov.br


Caro Senador Jarbas Vasconcelos,

sou um eleitor pernambucano, e venho através deste e-mail congratulá-lo pela sua atitude diante do povo brasileiro, na tentativa de tornar o tema da corrupção, um assunto público. Em sua entrevista, o sr. deixa bastante claro sua preocupação com aquilo que os cientistas políticos chamam de fisiologismo partidário. É realmente vexatório um partido com a importância histórica do PMDB ser corroido por alguns indivíduos que não estão preocupado com o seu dever de respeito a coisa pública. Com alguns que apenas estão interessados em se coligar quando é certo que a sua união aos demais partidos renderá cargos e ministérios. Quem foi que disse que para um ambiente democrático não é preciso uma oposição qualificada? É preciso sim, não uma oposição que apenas esvazia votações, ou vota tudo ao contrário. Mas é preciso uma oposição responsável e propositiva, e é por isso que eu apoio sua posição frente ao governo federal, e o parabenizo pela sua postura de trazer à tona essa temática.

Além disso, ouvi o seu pronunciamento sobre fidelidade partidária e peço que não desista de "tocar nessa tecla". Basta de troca-troca partidário. Basta de legenda de aluguel. O Brasil é um país carente no âmbito social, e precisa de políticos sérios e preocupados com o bem-estar geral, e não apenas o bem-estar particular.


Parabéns e continue nessa empreitada, o senhor tem respaldo no seu estado.
Rodrigo Santiago / Estudante do curso de Ciências Sociais/UFPE.
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Obs.:

2) Feliz pela vitória do SPORT! Que o nosso time continue com essa garra e determinação. Até a LDU na Ilha!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O caráter plástico II.

Em uma das pouquíssimas produtivas aulas de História das Artes Plásticas da faculdade, descobri — porque o professor, como de costume, não ensinou — algo bastante interessante que pouca gente conhece, a Oficina Guaianases. Surgida em 1974, na recifense rua Guaianases, a oficina teve como objetivo principal não perder a preocupação em gerar produtos gráficos com grande caráter autóctone e continuar com a severa recusa aos ditames dos meios de comercialização da arte.

Dentro do pré-estabelecido programa do grupo, com trabalhos feitos, em geral, a partir da litogravura, a Oficina Guaianases optou por diversificar seu trabalho e explorar outras técnicas como a serigrafia e a xilogravura. Gil Vicente foi um dos grandes nomes da oficina e ainda hoje se destaca por continuar atuante no âmbito artístico. Recentemente (2008), ele expôs, na galeria Mariana Moura, Geometria adiada, um trabalho com cerca de dez pinturas.

Dentre as poucas obras de Gil Vicente que tenho conhecimento, uma exposição chamou-me atenção pelo caráter biográfico explícito. O artista auto-retratou-se apontando armas — com exceção de Lula, que é alvo de uma faca — para pessoas públicas dos mais diversos escalões, desde a rainha Elizabeth ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Tal exposição, bastante polêmica, foi alcunhada Inimigos e ficou exposta em 2006 na galeria supracitada.

É intrigante observar que não se trata de uma crítica puramente partidária, tendo em vista que políticos da direita e da esquerda, e até mesmo o papa Bento XVI, são tidos como inimigos por Gil Vicente em sua exposição.

Auto-retrato matando George Bush
2005
carvão sobre papel
200x150 cm

Maiores informações sobre Gil Vicente e suas obras podem ser obtidas através do site do artista: http://www.gilvicente.com.br/

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A qualidade da educação* explica o desenvolvimento econômico-social dos países?

Recentemente foi divulgada a lista das melhores universidades do mundo**. Para escolhê-las são levados em consideração diversos critérios. Citando um dos mais importantes, temos a forma como a Instituição de Ensino gera e comunica à sociedade seu conhecimento científico. O intuito de listas desta natureza é mensurar a atividade e visibilidade das Instituições, tentando criar um indicador capaz de mostrar o impacto e o prestígio das Universidades.

A lista mais recente foi divulgada pela “Webometrics Ranking of World Universities”. A pesquisa consistiu num estudo de 16.000 Universidades ao redor do mundo. E em seu site estão disponíveis os dados com as 500 melhores. Em sua classificação, o MIT (Massachusetts Institute of Technology – www.mit.edu) encontra-se em primeira posição. No caso brasileiro, temos nove representantes. Em 87º USP, 159º UNICAMP, 285º UFRGS, 299º UFRJ, 304º UFSC, 356º UFMG, 403º UNB, 448º PUC – RJ e 458º Universidade Estadual Paulista. Dessa lista, eu ainda destaco quantas Universidades são consideradas as melhores por continente, veja a seguir:

Além dessa lista, há outras duas consideradas mais relevantes. A primeira da qual mostrarei alguns dados, é a do Institute of Higher Education Shanghai Jiao Tong University. Na tabela acima, vêem-se os dez países com o maior número de universidades citadas no ranking.
Note que apenas esses países concentram mais que ¾ de todas as Universidades consideradas de alta qualidade. Aqui, a melhor universidade é a Harvard Univ, ficando o MIT em quinta colocação. As Universidades brasileiras citadas e suas respectivas colocações são: em 143º USP, 258º UNICAMP, 366º UFRJ, 464º Universidade Estadual Paulista e em 465º UFMG. Isso no conjunto de 510 Universidades.

O segundo índice é o The Times. Aqui, a Harvard Univ também é colocada na primeira colocação, e o MIT está na nona. As Instituições brasileiras citadas e suas respectivas colocações foram: 196º USP, 249º UNICAMP, 334º UFRJ, e em seguida, porém sem colocação no site, temos a Universidade Estadual Paulista, a PUC – RJ, a Dom Cabral Foundation e a FGV. Em seguida, trago uma tabela com os dez países mais citados no ranking do The Times. Juntos esses dez países possuem aproximadamente 64% das mais respeitadas Universidades do mundo.
Por fim, trago informações que dizem respeito aos bancos de dados tão úteis em pesquisas. Este ranking visa classificar os melhores repositórios da web ao redor do mundo. A pesquisa pode ser vista no hiperlink Ranking Web of World Repositories. O melhor repositório é francês e se chama Hal CNRS. Os repositórios brasileiros citados e suas respectivas colocações foram, em 62ª – A biblioteca digital de teses e dissertações da USP; em 79ª – A biblioteca digital jurídica do Superior Tribunal de Justiça; em 186ª – A biblioteca digital de teses e dissertações da UFPR; e em 247ª – Repositórios institucionais em Ciências da Comunicação.


Enfim, depois de tantas tabelas, e tantos números, para quê serviu esta postagem? A primeira coisa que pensei após olhar os resultados dessas pesquisas foi indagar sobre a questão das desigualdades existentes entre os países que possuem o melhor nível de educação superior do mundo e os outros, inclusive, o Brasil. Não precisa ser muito esperto para verificar que os dez primeiros países de cada ranking quase sempre são os mais desenvolvidos, tanto economicamente, quanto em qualidade de vida. Ainda interpretando os dados, vejo que as desigualdades não se dão apenas entre países, mas também ocorre no âmbito regional. Basta observar quais são as melhores universidades brasileira, entre elas eu não vi a federal do Acre, nem a de Pernambuco. O que vi, foi uma hegemonia de Instituições do eixo Sul-Sudeste. Neste post, não vou explicitar uma opinião fechada, vou apenas indagar: Será que a qualidade da educação explica o desenvolvimento econômico-social dos países? A resposta parece óbvia, mas ainda há quem não “queira” vê-la***.

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* O sentido de educação empregado aqui, é de produção de pesquisa, conhecimento e novas tecnologias.

** Mais informações, inclusive sobre a metodologia empregada nas pesquisas, basta consultar os hiperlinks. Todos os rankings estão disponíveis nos sites dos realizadores das pesquisas.

***Mais informações sobre a produção do conhecimento no mundo, você pode acessar: http://www.scimagojr.com/index.php. O portal do SCImago Journal and Country Rank, é de acesso gratuito, e permite a extração de estatísticas e gráficos de produção científica. Ele oferece um indicador de impacto baseado em algoritmo do Google, e a base para a geração desses indicadores é a Scopus, uma das maiores bases mundiais de documentos científicos e de citações.