domingo, 8 de fevereiro de 2009

O caráter plástico II.

Em uma das pouquíssimas produtivas aulas de História das Artes Plásticas da faculdade, descobri — porque o professor, como de costume, não ensinou — algo bastante interessante que pouca gente conhece, a Oficina Guaianases. Surgida em 1974, na recifense rua Guaianases, a oficina teve como objetivo principal não perder a preocupação em gerar produtos gráficos com grande caráter autóctone e continuar com a severa recusa aos ditames dos meios de comercialização da arte.

Dentro do pré-estabelecido programa do grupo, com trabalhos feitos, em geral, a partir da litogravura, a Oficina Guaianases optou por diversificar seu trabalho e explorar outras técnicas como a serigrafia e a xilogravura. Gil Vicente foi um dos grandes nomes da oficina e ainda hoje se destaca por continuar atuante no âmbito artístico. Recentemente (2008), ele expôs, na galeria Mariana Moura, Geometria adiada, um trabalho com cerca de dez pinturas.

Dentre as poucas obras de Gil Vicente que tenho conhecimento, uma exposição chamou-me atenção pelo caráter biográfico explícito. O artista auto-retratou-se apontando armas — com exceção de Lula, que é alvo de uma faca — para pessoas públicas dos mais diversos escalões, desde a rainha Elizabeth ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Tal exposição, bastante polêmica, foi alcunhada Inimigos e ficou exposta em 2006 na galeria supracitada.

É intrigante observar que não se trata de uma crítica puramente partidária, tendo em vista que políticos da direita e da esquerda, e até mesmo o papa Bento XVI, são tidos como inimigos por Gil Vicente em sua exposição.

Auto-retrato matando George Bush
2005
carvão sobre papel
200x150 cm

Maiores informações sobre Gil Vicente e suas obras podem ser obtidas através do site do artista: http://www.gilvicente.com.br/

2 comentários:

Dio disse...

É interessante também observar não só que a crítica de Gil Vicente não se resume a partidos ou entidades políticas, é uma crítica generalizada ao poder. Quem está no poder, ele mata, seja no poder da Igreja, no poder do Reino Unido, no poder da República no Brasil. E o melhor disso tudo é que os papéis se invertem, afinal, enquanto ele está com a arma, ele é o poderoso, ele é quem manda, quem controla, e, pela lógica, quem merece estar com uma arma na cabeça. Ou seja, a obra é uma crítica que acaba se tornando uma auto-crítica. :D

Abraços,
Diogo.

Girabela disse...

Né?! Adorei teu comentário, Madruga.