sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Delirando

Certo dia, conheci, na livraria Cultura, um menino, que, provavelmente vestia uma camisa do Bob Dylan, levando seu característico olhar distante no rosto. Durante alguns dedos de prosa, percebi que estava diante de uma criatura realmente intrigante, um artista? O momento não era o mais propício para conversas sem tanto nexo, afinal, estávamos sendo "testados" pelos nossos futuros colegas de turma.
Alguns dias depois, as aulas começaram e a convivência diária foi revelando, aos poucos, cada um de nós. O garoto quase sempre chegava atrasado na faculdade, quando ia, porque as ausências, por motivos laringológicos, eram bastante freqüentes. Sem negar nenhuma aventura proposta por um colega ainda mais ousado, fomos umas duas vezes, depois da aula, para praia conversar um pouco e até jogar uma bolinha. No meio da conversa, nos “declaramos”, falando algo como “eu gosto de você, mesmo sem parecer”, acho que nos sentíamos meio estranhos por não demonstrar qualquer afeto um pelo outro. Nessa noite conversamos sobre algumas coisas de âmbito pessoal, ele deu-me alguns conselhos amorosos, depois tomamos uma água de coco e fomos todos para suas respectivas casas.
Lembro-me de outro dia, em que voltamos juntos para casa depois da aula, começamos a conversar e, entre as freadas bruscas do ônibus, o garoto novamente tentou ajudar-me com outros conselhos. Talvez, até hoje, ele nem imagine, mas as poucas palavras que trocamos naquele dia foram de muita importância para mim, foi mesmo um ombro amigo.
Com o passar do tempo, a turma foi percebendo a irreverência e a criatividade existente naquele garoto, que fazia músicas para a turma e brincava de cantar. Naquela época, não tão distante de hoje, ninguém colocava muita fé quando ele afirmava ter uma banda, e julgavam ser apenas uma brincadeira, tal qual a Imparciais do Samba. Eis que algumas músicas começaram a ser postas na internet, ficando notoriamente conhecidas pela turma, que, aos poucos, foi mudando de opinião em relação às brincadeiras que aquele garoto seria capaz.
Dia 30 de agosto seria a prova de fogo, apresentar para a turma a tal Caravana do Delírio. O show ocorreu da melhor forma e foi, realmente, um sucesso. Entre músicas e tietagens, a banda foi anunciando morder a vida com os dentes. Com muita irreverência, que não poderia faltar, os garotos da Caravana ajudaram a divulgar o trabalho do colega em início de carreira, o Bob Dylan.
Confessando que, antes, eu era uma das que não colocava muita fé no gogó do garoto, ouvi “a seco” o som muito instigante, eu diria até delirante, da banda e transformei-me numa grande tiete da Caravana do Delírio. E, como já era, fiquei ainda mais fã de Matheus de Jesus.

Conheça você também: http://www.myspace.com/acaravanadodelirio

3 comentários:

Dio disse...

No começo eu (seguindo outras pessoas) sugeri que a banda da sala (lenda de antes do início do curso - para vocês) deveria tocar um samba legal. Matheus discordou e disse que poderiam tocar Strokes. Não perdi tempo, chamei logo de indie. Qual não foi a minha surpresa quando Matheus me aparece com a seqüência: ar de gênio, camisa de Beatles, show de Bob Dylan. Até hoje, arrependo-me profundamente de ter, em um breve momento, cogitado a possibilidade de ele ter um gosto musical fraco.
Hoje, Matheus já fez duas músicas do tal samba que ele teria rejeitado à época. E sobre a banda, minha primeira e melhor recordação foi no dia da primeira festa, quando eu não estava nada bem, e pedi pra Matheus: "Toca uma música da tua banda". E ele, despretensiosamente e depois de muita resistência, tocou (numa guitarra elétrica, literalmente). Deliciamo-nos eu e Nah (acho que só) àquele som, e desde então eu acompanho cada nova ou velha música de Matheus que ele, em toda a sua boa vontade, me manda.

Obrigado, gostosão. ;***

Anônimo disse...

O resto da turma tava cantando Eduardo e Mônica!!

muitíssimo obrigada, Matheus!

Girabela disse...

Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?