Até o final da década de 1980, o termo globalização não era usado e ainda hoje muitas pessoas cometem o erro de ver tal fenômeno exclusivamente pelo âmbito econômico, A globalização é tão política, tecnológica e cultural quanto econômica. O surgimento de identidades culturais locais em várias partes do mundo, por exemplo, não pode ser atribuído a causas tão-somente históricas. À medida que o domínio do Estado enfraquece, o nacionalismo local brota em resposta à tendência globalizante, a exemplo da Escócia (Reino Unido), de Quebec (Canadá) e do País Basco (Espanha).
A difusão do inglês ilustra bem o alcance do processo global. Ao definir “língua como um dialeto sustentado por um exército”, o fato do Reino Unido e dos Estados Unidos, países mais influentes nos últimos 200 anos, terem o inglês como idioma oficial e a língua inglesa ser a mais difundida no mundo não é mera coincidência. A apropriação exagerada e, por vezes, indevida do idioma gerou grande celeuma nos países que possuem outra língua oficial, como França, em 1994, e Brasil, em 1998. O romancista e professor Ariano Suassuna, famoso também por sua defesa inflamada da cultura nacional, afirma que a aquisição de palavras e expressões de outro idioma é legítima e enriquecedora. Destaca, no entanto, o quão imprescindível é a adaptação da palavra estrangeira para a língua que a acolheu, pois só assim a incorporação do vocábulo será saudável para a nossa cultura.
Vídeo no qual Ariano Suassuna versa sobre a questão dos estrangeirismos.
Um comentário:
"Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos usos e costumes. Querer que a nossa pare no século de quinhentos, é um erro igual ao de afirmar que a sua transplantação para a América não lhe inseriu riquezas novas. A este respeito a influência do povo é decisiva. Há, portanto, certos modos de dizer, locuções novas, que de força entram no domínio do estilo e ganham direito de cidade."
Acredito que essa citação de Machado de Assis traduza muito bem a proposta dessa postagem, e da idéia de Ariano. De fato, estrangeirismos são muito bem-vindos, se adaptados à nossa língua. Mas quem deve, sempre, fazer esse ajuste é o povo. Só assim a contribuição será saudável, efetiva e enriquecedora.
Muito bem colocada a postagem em um tempo de tantas turbulências lingüísticas no Brasil. :)
Abraços,
Diogo.
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