A figura chave do feminismo sessentista nascia, em pleno inverno parisiense, há 100 anos, fruto da decadente aristocracia e da alta burguesia à beira da ruína. A paixão pelos livros foi incutida através do pai, que voltou de uma curta participação na guerra, em 1914, mais dedicado à família. A personalidade audaciosa e o hostil criticismo à sociedade, no entanto, só foram adquiridos mais tarde por influência de amizades. Na adolescência, devido ao desastre econômico da família, a jovem começa a sofrer fortes humilhações advindas de seu próprio pai, que a vê como uma mulher pobre e feia destinada ao fracasso matrimonial e, conseqüentemente, social. Então, sob o lema de "vencer depressa", a fim de livrar-se do conservadorismo da família, Simone de Beauvoir não hesita ao ingressar na Sorbonne estudos filosóficos. Posteriormente, na universidade, conhece Jean-Paul Sartre, com quem fará um curioso "pacto", que consistiu basicamente na supressão da monogamia em prol do maior conhecimento da alma humana. Formaram, assim, o casal mais célebre do século XX, embora morassem em casas separadas. No fim da década de 50, Beauvoir causa grande escândalo na sociedade com a publicação dos dois volumes do livro O Segundo Sexo, que quebra importantes tabus ao falar sobre o corpo da mulher e a sexualidade feminina. As vendas foram um grande sucesso, mas lhe renderam severos ataques, inclusive por parte dos amigos, além do livro ter sido posto na lista do Index pelo Vaticano. A posição favorável à libertação argelina a torna ainda mais vulnerável a observações de caráter ultrajante por parte da parcela social pró-colonização. Na sociedade vigente, Simone de Beauvoir ainda é lembrada como uma grande feminista da década de 60, sendo considerada responsável por uma verdadeira bíblia a favor das mulheres. Nenhuma outra escritora, dita feminista, fez tanto sucesso quanto ela, nem mesmo a inglesa Virginia Woolf. Duramente ofendida após publicação do livro A Mulher Desiludida, Simone deixa uma perspicaz mensagem à sociedade, afirmando que o "mal" não é o casamento, mas sim a mulher submissa: "É preciso que as mulheres trabalhem". Ela dizia que não se nasce mulher, torna-se mulher, explicando a questão da mulher por um viés cultural e não biológico. Há referências à escritora também na questão do aborto, que foi, graças ao Manifesto das 343, assinado por ela, legalizado em 1975, na França. Escreveu, ainda, um ensaio com temática bastante atual e diferente da costumeira, alertando o mundo para a questão dos idosos em A Velhice: "É preciso que todos os homens permaneçam seres humanos durante todo o tempo em que estiverem vivos". Devido à importância para a sua época e para gerações futuras, escrevi sobre a frágil garota, a determinada mulher e a ilustre velhinha, Simone de Beauvoir, que merece a nossa atenção, leitura e homenagem.
2 comentários:
Gabi, Estas mulheres me fazem lembrar a nossa Chiquinha Gonzaga.
Li recentemente uma biografia de Simone. Ela era perversa! Adorei! Haha.
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