domingo, 30 de dezembro de 2007

Ainda em 2007.

Eu andei, a "pedido" do vestibular, pesquisando bastante sobre a obra de Clarice Lispector e vi-me encantada com a literatura clariceana. Evidente que o conhecimento sobre a renomada autora era anterior; a leitura de seus clássicos, porém, iniciou-se a partir de A Hora da Estrela, livro recomendado pela UFPE, o qual me foi bastante útil, inclusive, nas provas. Ainda nas primeiras páginas, deparei-me com meu pensamento recorrente sobre a essência humana explícito no livro. A partir de então, senti-me mais à vontade na leitura, sem intimidações, pois percebi que corroborávamos de uma idéia. Enquanto Rodrigo S.M. (Clarice) descrevia a ingênua Macabéa e fazia uma "análise" da própria análise acerca da protagonista, ele proferiu a seguinte frase que, parafraseando Clarice, soou como uma "explosão" dentro de mim:
"Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?" Tal frase suscita a especulação paradoxal entre Hobbes e Rousseau, que nos impulsiona a refletir se o homem é essencialmente mau ou se é a sociedade que o corrompe. Além de recordar aos leitores o quão cruel e mesquinho é o ser humano, quando o compara com um monstro. O brilhantismo da ucraniana quase pernambucana (risos) torna-se ainda mais evidente na percepção da linguagem extremamente simples e eficiente utilizada pela autora, que não escraviza o leitor ao dicionário. A dificuldade encontrada ao ler Clarice está na complexidade do conteúdo e não na erudição vocabular, pois são textos repletos de psicologia, que, ao meu ver, muito lembra as análises psicológicas de Machado de Assis. Este ano, várias referências à autora foram feitas nos meios comunicativos, em virtude dos 30 anos de sua morte. Em função da admiração pela escritora e da celebração dessa data, não poderia deixar de homenageá-la ainda em 2007, ano em que, inclusive, tive a grande oportunidade de “conhecê-la” mais profundamente. No ensejo de tal homenagem, cito os versos proferidos por Chico Buarque durante uma das entrevistas que integram o livro Clarice Lispector: Entrevistas. Na ocasião, a entrevistadora (Clarice) havia pedido, num clima de informalidade, alguns versos ao músico.
"Como Clarice pedisse
Um versinho que eu não disse
Me dei mal
Ficou lá dentro esperando
Mas deixou seu olho olhando
Com cara de Juízo Final"

*Recomendo o livro Clarice Lispector: Entrevistas, que atualmente integra minha mesinha de cabeceira.
**Créditos a Luciana e a Rafael Martins pelo livro emprestado e pelos conselhos na contrução deste texto, respectivamente.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

XXVIII. Melinda e Melinda - Woody Allen.

Assisti ao filme há algum tempo e, posteriormente, li críticas a respeito, a (imensa) maioria eram negativas. Aqui nessa comunidade (Doutrina dos Filmes Certos), inclusive, muitos demonstraram-se "insatisfeitos" com o desempenho do Woody Aleen nesse trabalho. Eu penso que o filme é de boa qualidade, não um excelentíssimo filme, mas bastante satisfatório. Não tenho muito conhecimento sobre filmes do Woody Allen, na verdade nem entendo muito de filmes; logo não sou a pessoa mais indicada para dá um veredito. Enfim, hoje achei uma crítica positiva sobre o filme e considerei-a bastante válida, ela expressa bem o que eu senti ao assistir a Melinda e Melinda. Deixo aqui o link para vocês avaliarem:

domingo, 23 de dezembro de 2007

XXVII. Recife


Ontem, andando pelas ruas do mangue do meu quintal, aperriei meus companheiros andarilhos ao proferir diversas vezes frases de louvor à cidade do Recife. A "revolta" deles não se devia ao fato de não sermos conterrâneos, afinal somos, mas ao fato da insistência retórica de vangloriar a minha cidade natal em todas as vezes que presto visita ao velho Recife. As belíssimas pontes, as construções antigas e a grandiosidade do rio Capibaribe inspiram e insuflam um enorme espírito recifense que se torna explícito no primeiro batuque do maracatu ou no ritmo exalado das bandas de frevo. Enfim, a partir de então, pensei que essa foto seria excelente para mostrar a beleza das pontes. Alerto, ainda, que não se trata de um nacionalismo aos moldes do major Quaresma, pois além do orgulho exprimido ao passear pelo Recife antigo, há uma imensa tristeza por ver que tal patrimônio histórico-artístico não é suficientemente cuidado e por saber da tamanha violência e criminalidade na nossa capital. Na noite passada mesmo, próximo a uma das pontes, abordaram-nos numa ameaça de assalto, mas resolvemos ignorar e seguir adiante (corajosos!?). Posteriormente, já no bacurau, ao temer uma provável briga entre um cara que pulou a catraca do ônibus e outro cheirando o popular "sucesso", decidimos descer em plena Conde da Boa Vista a fim de encontrar um transporte mais tranqüilo para voltar para casa. A periculosidade da noitada não findava, já na rua da minha casa, enquanto caminhávamos para alcançar o portão, avistamos dois caras de bicicleta (clichê de ladrões da região) que nos fizeram correr a partir do ato rápido de um dos garotos ao pular da bicicleta de repente. Felizmente, por estarmos já próximo de casa, numa rua movimentada, fomos mais uma vez poupados da provável tentativa de assalto. Tal episódio ocorreu no sábado à noite(22/12), enquanto havia show de Nação Zumbi no Marco Zero. E, finalmente em casa, pudemos descansar.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Será que todos os políticos são realmente iguais?

Esta reflexão surgiu de um recado recebido de uma amiga. Dizia-me o seguinte:

Gabriela:
Asclépio: O "Pedro Simon" se revelou um petista no ultimo instante votando a favor do PT e do Lula. Justo ele, que tanto brigou contra o PT e o Lula.Para mim foi um decepção!Será que todos os politicos são realmente iguais?
Responder


Isso é um verdadeiro absurdo Gabi. O que tenho para dizer a você é q não confie, nem acredite em todas as notícias veiculadas pela imprensa escrita ou televisiva. Muitas das informações são altamente vazias, quando não, são falsas inversões ou interpretações q n condizem com os verdadeiros fatos. Um dos mecanismos que ajudam os cidadãos a escolherem os seus representantes é a boa informação n só dos fatos, como e principalmente, de análises mais sofisticadas de dadas realidades. Infelizmente, nossa Ciência Política ainda é muito vã, se comparada a de outros países a começar pela dos EUA. Digo mais, não só nossa Ciência Política, como também a nossa própria democracia.

Explicarei. Para muitos seria um absurdo o que irei dizer. No entanto, há provas e estudos empíricos que apontam que o Brasil é um país governável e que a nossa democracia está em vias de consolidação. Para afirmar tal coisa, os analistas apontam que mecanismos como, fragmentação partidária, baixa disciplina, fisiologismo, estão presentes no nosso desenho institucional, mas não da forma como muitos acreditam. Ou seja, a relação entre Executivo e Legislativo vai muito bem obrigado e não há tanta fragmentação partidária, indisciplina e fisiologismo, muito pelo contrário.

Assim, a impressão que quiseram passar nessa notícia em relação ao Pedro Simon é falsa. Sua atitude é altamente compreensível por aqueles que têm acesso a informações mais refinadas sobre o jogo político saudável, e bom para a democracia. Toda a disputa política no Congresso ocorre perante a Instituição Partido Político. Logo, o razoável seria a identificação do candidato com o programa partidário. Via de regra, nosso sistema presidencialista é de um "presidencialismo de coalização". O que caracteriza tal desenho institucional é que em essência, os partidos proporcionam o respaldo parlamentar necessário e, em contrapartida, participam do governo. Por isso, como o PMDB faz parte da coligação governista, é mais do que claro, que Pedro Simon vote com a bancada governista, e que assim, votasse pela prorrogação da CPMF, já que esse provavelmente foi o voto defendido pelo seu líder. Já que ele possui alta identificação com o partido, ele segue, como todos deveriam, o voto do líder de sua bancada. Aqui, entram dois conceitos, o de disciplina partidária e o de líder do partido.

Para JAIRO NICOLAU, a disciplina partidária no Parlamento contribui para dar previsibilidade ao processo de produção legislativa. Por disciplina entende-se a fidelidade de um deputado à posição do líder da bancada nas votações nominais em plenário. E para FABIANO SANTOS, há no nosso Congresso a existência de líderes parlamentares em detrimento dos deputados como conjunto que legisla. Logo, infere-se daí de que se os líderes partidários têm poder efetivo, há realmente poder no Congresso, e poder disperso se o número de partidos expressivos for alto.

Enfim, a conclusão que chego é que não há nada de estranho na atitude do Senador Pedro Simon. Mas, muito pelo contrario, ele agiu da forma como todos nossos Excelentíssimos Parlamentares deveriam agir, respeitando a decisão do líder da bancada, e fazendo valer a disciplina partidária. Só um parêntese. Nesse caso, um Senador que agiu errado, foi o Senador Jarbas Vasconcelos, que votou contra a prorrogação da CPMF. (No entanto, até para essa atitude há uma explicação plausível, mas fica para um próximo texto).

Por fim, deixo para quem se interessar pelo debate alguns links, onde se poderá encontrar bons textos sobre esse debate iniciado aqui.

1) AMORIM NETO, Octavio. Presidential cabinets, electoral cycles, and coalition discipline in Brazil. Dados , Rio de Janeiro, v. 43, n. 3, 2000 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0011-52582000000300003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 15 Dec 2007. doi: 10.1590/S0011-52582000000300003. (Há uma versão em português)

2) NICOLAU, Jairo. Disciplina partidária e base parlamentar na Câmara dos Deputados no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso (1995-1998). Dados, Rio de Janeiro, v. 43, n. 4, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0011-52582000000400004&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 15 Dez 2007. doi: 10.1590/S0011-52582000000400004

3) PERFORMANCE PARTIDÁRIA E INCENTIVOS ELEITORAIS: DESVENDANDO OS MISTÉRIOS DOS LÍDERES - Dalson Britto Figueiredo Filho e José Alexandre da Silva Júnior. In: http://www.seminariopolitica.t5.com.br/docs/Papers/ST552.pdf. Acesso em: 15 Dec 2007.

4) Prestígio e Credibilidade na Seleção dos Líderes no Congresso Nacional - José Alexandre da Silva Júnior e Dalson Britto Figueiredo Filho. In: http://201.48.149.89/anpocs/arquivos/15_10_2007_10_43_36.%20e%20Dalson%20Britto.pdf. Acesso em: 15 Dec 2007.

5) PALERMO, Vicente. How to govern Brazil? The debate on political institutions and the policy-making process. Dados , Rio de Janeiro, v. 43, n. 3, 2000 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582000000300004. Acesso em: 15 Dec 2007. doi: 10.1590/S0011-52582000000300004. (Há uma versão em português)