“SEJAMOS REALISTAS, QUE SE PEÇA O IMPOSSÍVEL”, com esta frase um companheiro, deu início ao seu discurso, naquele dia pacato em Paris. Confesso ter ficado bastante entusiasmada com a idéia de poder pedir o impossível e, ainda assim, ser considerada realista. Era um tempo em que proibir era proibido, nós queríamos abraçar o mundo e transformá-lo num lugar melhor, mais justo. Lembro-me que esse companheiro proferiu tal frase com olhar distante, parecendo querer esta causa com todo o seu âmago; emocionei-me, estava, confesso, assustada com tudo o que estava ocorrendo e com medo do que estava por vir. Meus pais haviam impedido a minha ida à luta; eu fingi concordar, no entanto, mesmo extremamente assustada, deixei o ideal tomar conta da minha alma, não hesitei, junto aos amigos, resolvi participar intensamente desse "acontecimento revolucionário mais importante do século XX".
Hoje acordei lembrando daquele "episódio" de outrora, senti-me bastante orgulhosa e contei a meus netos essa difícil "aventura". Olhei para cada um deles, enquanto falava, observei cada expressão. Eles escutavam-me atentamente e entreolhavam-se em alguns momentos. Posteriormente, tentando descobrir o que minha história representava para eles, afinal eles são de outra geração bem distante daquela, para minha consternação, a sala virou uma grande galhofa. Eram três rapazes rindo da história da avó, diante da própria. Passei a vida, confesso, sendo considerada meio louca, em vários sentidos e por motivos diversos, enfim, não levaram muito a sério o que os contei. Almoçamos e cada um retornou a sua respectiva casa. Eu cá com meus bordados comecei a pensar e a cotejar o mundo da minha época e da época deles, perorei que falar em ideais, luta idealista e em impossível ser possível havia tornado-se, para muitos desta vigente sociedade, anacrônico. Com a conclusão em mente, perguntei-me, introspectivamente: Netos, o que dirão, vocês, ter feito de útil para a humanidade?