quarta-feira, 6 de junho de 2007

Maio de 1968

“SEJAMOS REALISTAS, QUE SE PEÇA O IMPOSSÍVEL”, com esta frase um companheiro, deu início ao seu discurso, naquele dia pacato em Paris. Confesso ter ficado bastante entusiasmada com a idéia de poder pedir o impossível e, ainda assim, ser considerada realista. Era um tempo em que proibir era proibido, nós queríamos abraçar o mundo e transformá-lo num lugar melhor, mais justo. Lembro-me que esse companheiro proferiu tal frase com olhar distante, parecendo querer esta causa com todo o seu âmago; emocionei-me, estava, confesso, assustada com tudo o que estava ocorrendo e com medo do que estava por vir. Meus pais haviam impedido a minha ida à luta; eu fingi concordar, no entanto, mesmo extremamente assustada, deixei o ideal tomar conta da minha alma, não hesitei, junto aos amigos, resolvi participar intensamente desse "acontecimento revolucionário mais importante do século XX".
Hoje acordei lembrando daquele "episódio" de outrora, senti-me bastante orgulhosa e contei a meus netos essa difícil "aventura". Olhei para cada um deles, enquanto falava, observei cada expressão. Eles escutavam-me atentamente e entreolhavam-se em alguns momentos. Posteriormente, tentando descobrir o que minha história representava para eles, afinal eles são de outra geração bem distante daquela, para minha consternação, a sala virou uma grande galhofa. Eram três rapazes rindo da história da avó, diante da própria. Passei a vida, confesso, sendo considerada meio louca, em vários sentidos e por motivos diversos, enfim, não levaram muito a sério o que os contei. Almoçamos e cada um retornou a sua respectiva casa. Eu cá com meus bordados comecei a pensar e a cotejar o mundo da minha época e da época deles, perorei que falar em ideais, luta idealista e em impossível ser possível havia tornado-se, para muitos desta vigente sociedade, anacrônico. Com a conclusão em mente, perguntei-me, introspectivamente: Netos, o que dirão, vocês, ter feito de útil para a humanidade?

5 comentários:

Rayana disse...

eu realmente gostaria de poder contribuir um pouquinho que seja pra que o mundo mudasse (pra melhor)
adorei o blog :))
um cheiro!
rayana

Unknown disse...

gabiii..
adorei esse teu texto...
parece q vc é a vovo..
mas talvez é o sentimento q quando paramos pra pensar..
como nossa geraçao é acomodada..enquanto as dos nossos pais foi tao ativa (mas estavam em meio a uma repressao enorme..
bjuss adoreiii

Bloco do Eu Sozinho disse...

Pobre de mim, que nem chego aos seus pés em se tratando de prosa, viu?!
Beijo!

Ada Falcão disse...

olhaiii,
a jornalista
ja tem um blog ;]

adorei o texto gabi ;*

Santiago. disse...

Em um dos seus livros Cristovam Buarque admite a existência da "naturalização" de três mitos, entre eles, a morte das ideologias.
Se vc me parasse e me perguntasse, em qual época gostaria de ter vivido, em plena repressão militar no Brasil, ou no maio de 68 na França, ou ainda com todo o florescimento cultural do período, seja na música, Tropicalismo ou então Woodstock, ou ainda ter sido contemporâneo de nomes como Celso Furtado, Sérgio Buarque, Ulysses Guimarães entre outros, eu prefiro o hoje. E vou te explicar o porque. Mesmo sendo saudosista daquilo que não vivi, creio que as lutas ideológicas que se travam hoje, são bem diferentes e tomam rumos bem mais plásticos, porque o sistema capitalista atual é bem diferente daquele outro vislumbrado, e tão bem teorizado pela "luta de classes" marxista). Bem, ao dizer isso não estou afirmando que as utopias acabaram, não realmente não acabaram, mas nestes "tempos modernos" a dinâmica da sociedade é outra, e como teorizou Bernardo Kliksberg, um economista e sociólogo argentino, hoje, existe a necessidade de repensar e enfatizar dois tipos de capital, que são, o capital humano(recursos humanos) e o capital social(símbolos mutuamente compartilhados, credos, cultura). Logo, o Estado seria o "propulssor" de áreas como educação e saúde, já que estamos em uma era que exige sinergia, e vencedores serão aqueles cuja formação cognitiva esteja apta a manipular e inventar informações, manipular e decodificar símbolos.
Pensemos então que a sociedade é outra, apática? Talvez. Mas como será que tratamos os nossos “capitais”? Será que a saída primeira não estaria na conscientização do papel do cidadão? E esta conscientização não estaria na construção de um espaço público de discussão? E ainda mais, no solapamento daquilo descrito tão brilhantemente por Sérgio Buarque, onde no Brasil o público se comporta como privado, onde o que rege a sociedade é o “jeitinho brasileiro”, ao invés do modo polido de tratamento burocrático que certas circunstâncias exigem. Pensemos então, o hoje com perspectivas no futuro, e não o hoje voltado para uma viagem ao passado. (Não querendo com isso, ser mal interpretado, pois a vivência histórica, e o senso de historicidade são fatores importantíssimos na desconstrução daquilo que nos é dado como naturais e irreversíveis).