Na comunidade da turma, fizemos um balanço do que lemos nas férias. A campeã em leitura leu nove livros, sendo a maioria deles pertencentes à coleção de vampiros, última moda. Os demais membros, ou leram alguns dos tais livros ou, pelo menos, conheciam os seus títulos. Eu, diferentemente deles, só conhecia o mais famoso da série, Crepúsculo, que recentemente virou filme e praticamente uma peste entre os mais jovens. Nas férias, como de costume, não li muita coisa, apesar de ter pretendido. O livro que comecei a ler, Identidade, de Zygmunt Bauman, ainda não chegou ao fim, e olhe que eu pretendia devorá-lo em apenas dois dias. Refletindo sobre tudo isso e com o respaldo da teoria da liquidez de Bauman, cheguei à conclusão de que as ficções fantásticas estão seguindo as tendências da Modernidade Líquida, se ela realmente existir. Alguns filmes, como AI - Inteligência Artificial (2001) e o próprio Homem Bicentenário (1999) — que retratam um futuro afirmado pela Ciência como cada vez mais próximo — também são exemplos dessa tendência, mostrando uma pretensa naturalidade na possível convivência entre homens e robôs. Ao contrário do que acontecia anteriormente, a excentricidade dos seres fictícios, sejam eles extra-terrestre, robôs ou vampiros, está cada vez mais esmaecida, cedendo lugar à tendência de humanização que eles vêm sofrendo nos últimos trinta anos. Anteriormente, pois, o foco da ficção era retratar as diferenças entre os seres humanos e os fantásticos, destacando as características excêntricas destes; a tendência atual, entretanto, concede primazia às semelhanças entre esses dois mundos.
Um comentário:
É engraçado observar essa mudança de postura. Pra mim, tem tudo a ver com o momento "inclusão social" que vivemos. Hoje, a maior parte da produção cultural é baseada num certo realismo fantástico. Isso é o que reergue os livros de García Marquez, deixa Saramago sempre em alta. Por exemplo, Amor nos tempos do Cólera e Ensaio Sobre a Cegueira, livros desses autores, foram tornados filmes de peso recentemente. E por falar nisso, Heroes, Tru Blood, Lost, todos tratam desse realismo fantástico de uma forma a tornar natural o excêntrico, o excluído. Acredito que não seja o objetivo, mas que o clima todo de promoção dos Direitos Humanos e da igualdade social acaba direcionando a produção de grande alcance a isso. É uma tendência interessante de se observar que, acredito, tem tudo para crescer e se refinar daqui pra frente. Sou simpático à causa, espero que mais produtos do tipo surjam. Mas Crepúsculo não me parece lá o tipo "refinado" dessa nova indústria. hehehe
Abraços,
Diogo.
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