quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Na lama do meu quintal.

Vida de estudante é andar de ônibus mesmo, mas na minha situação atual, até esse transporte já virou luxo. Então estou tendo o prazer e, talvez, o risco de aproveitar mais o Recife, literalmente com os pés no chão. Essas caminhadas à noite, tarde da noite, pela cidade rendem um certo friozinho na barriga, mas servem para aproveitar melhor a beleza da cidade. Não estranhem se parecer piegas demais, estou ainda mais apaixonada pelo Recife. As aventuras nos bacuraus do Cais de Santa Rita têm sido bastante freqüentes; nem sempre, porém, é possível desfrutar de um ônibus, muitas vezes preciso andar da rua do Parque Treze de Maio até o "encontro dos bacuraus" na madrugada parada de Recife nos "dias de branco". Enfim, acho legal a trilha, inclusive tenho observado que a cidade anda com muito policiamento. O que, de fato, irrita são os amigos (bem intencionados, claro) mandando eu apressar os meus curtos passos. Domingo foi um dos melhores dias vividos nessa parte velha da cidade, que inclusive tem quase uma Champs-Elysées em frente ao famoso Bar Novo Pina, é bom salientar que todos riram muito de mim quando fiz este comentário ufanista ontem. Nas tardes de domingo, é possível encontrar pessoas de todas as partes da "pirâmide social" nas ruas do velho Recife, fato bastante curioso e notório que se tornou ainda mais curioso e notório no dia 6 de janeiro, um domingo. A escassez de dinheiro sempre me leva para a cidade velha na garantia de um programa legal e barato, nesse dia não foi diferente, a surpresa foi o enorme som do maracatu que ecoava de longe. Meus conterrâneos sabem o quão corriqueiro é ouvir o batuque do maracatu nessas ruas; nesse dia, porém, presenciei o som do melhor maracatu que já ouvi. A harmonia era tanta que emocionava ainda mais, cada batuque batia forte no meu coração. Sempre gostei desse som estrondoso, mas domingo ele lavou a minha alma de uma forma que eu pensava que não existia. E era lindo observar todos os estamentos da tal "pirâmide social" vangloriarem o mesmo som da mesma forma, dava a impressão que algo naquele lugar unia as pessoas, pobres e ricos divertiam-se a admirar e curtir a cultura pernambucana. Ontem, preferi ficar pelo Treze de Maio, próximo à Faculdade de Direito do Recife, que tem carimbo do Império e da República, a fim de garantir uma acústica melhor para conversar. A vitrola de ficha dava um aconchego melhor ao lugar, um pouco de Beatles e um pouco de Águas de Março regavam a discussão. Uma modesta exposição fotográfica acontecia no bar, uma das fotos era do majestoso "pau de Brennand", que trouxe o tema (belezas do) Recife à mesa. Uma amiga havia ido ver de perto o monumento no começo do dia de ontem e estava ainda mais fissurada nessa obra ou insulto, segundo a opinião de alguns. Eis que o "pau de Brennand" não queria sair das nossas bocas (risos), passamos bom tempo falando sobre ele, que segundo a constatação visual de um dos integrantes da mesa, está cada dia mais próximo do Marco Zero. A conversa não se restringiu apenas ao plano cultural, divagamos também sobre a política, discutindo o futuro da cidade, Estado e país. Palpitando acerca das próximas eleições e da conduta política de "famosos" vereadores numa discussão bastante produtiva. Depois da quase expulsão do bar, devido à hora, fomos em busca do nosso bacurau Dois Irmãos, percorrendo a pé a longa e admirável rua da Aurora. Ainda arriscamos tirar fotos próximo ao caranguejo gigante e ao lado do ilustríssimo João Cabral de Melo Neto, que sempre está sentado à beira do Rio Capibaribe, assim como Manuel Bandeira. Já próximo de casa, não resistimos ao imenso desejo de imitar os beatles na capa do Abbey Road, a penúltima obra da banda. Após chegar em casa, jogamos Master, numa partida engraçada, em que, inclusive, uma das perguntas era sobre The Beatles e que o Ringo do nosso grupo, que vive querendo ser Lennon, acertou, claro. E assim o dia amanheceu e quem é de ônibus, pegou ônibus e quem é de pé, andou a pé.

4 comentários:

Anônimo disse...

Bom.. eu adorava caminhar pelas ruas assim de noite, dia, tarde.. e no fundo, recife é bem pequena.. é o transito que vai lento. estamos acostumados a pegar o onibus para tudo.. aqui em madrid, a passagem custa 60 centimos, ou seja.. equivalente a 1,56 centavos de real.. e a qualidade estrondosamente melhor.. mas mesmo assim, naum me nego um passeio pela maravilhosa cidade que vivo, e friozinho na barriga? estamos no inverno.

Anônimo disse...

ah.. e agora que trabalho e tenho dinheiro, adoro pegar taxi.. mas a vontade mesmo eh gritar taxi no meio da rua e que te parem, em plan "sex and the city"

Altiere Freitas disse...

ufanista......recifanista vc! Me voi embora pra esse passargadá,mande-me o mapa.....
vai de vagar e com um pé atras... já fui assaltado ali perto da bb estadual... mas isso tmb fz parte das belezas de nossa cyti... é tão bom quando falamos

- haa eu fui assaltado!

- mesmo? Também fui...

é uma liguinha social...nefasta..mas liguinha....

all rey : Recife tem encantos mils..kkkkkk

abç

Dio disse...

Melhor lado "blogueira".
Guarde bem o tom desse texto, pois você deve usá-lo no quarto período.
No mais, o nosso Récife é lindo mesmo, ainda que, visualmente, essa beleza fique tão cheia do que chamamos de "lixo" em fotografia, que é aquilo que aparece na periferia do enquadramento, mas não estraga a foto. A diferença é que aqui a gente não pode (nem deve) eliminar o "lixo" na hora de revelar a fotografia.

Abraços,
Diogo.